O resultado do primeiro
turno das eleições municipais que ocorreram ontem, dia 02 de outubro, em inúmeros
lugares, é assustador. Trata-se de um resultado que mostra o nível da
maturidade política de grande parcela do povo brasileiro. O povo apanha, mas não aprende:
esta é uma triste constatação.
E por que não aprende? Esta pergunta
requer uma resposta analítica e, portanto, de considerável complexidade. E é
assim porque a situação da política brasileira constitui um conjunto de fatores
que influenciam no resultado não somente das eleições, mas repercute,
sobretudo, no cotidiano da vida do povo. O perfil do eleitor brasileiro, de
modo geral, é a coisa mais estranha que se pode ver no mundo.
A ignorância política é o
que está por trás das mazelas políticas que se assiste no Brasil. Um eleitor
ignorante desconhece as consequências do seu voto. Na verdade, ele vai às urnas
sem saber as razões que o conduzem. Seria assustadora o resultado de uma
pesquisa de opinião que tivesse a seguinte pergunta, dirigida ao eleitorado
brasileiro: Por que você vota? A maioria do povo desconhece o sentido, o valor
e o alcance do voto.
Eleitores ignorantes são
desprovidos de consciência política. O que se pode fazer com um povo assim? Um
povo assim está sujeito a tudo. Quem não tem consciência é cego, e nada
enxerga. O político rouba à luz do dia, e o que ele recebe é o reconhecimento
dos alienados: “Ele rouba, mas faz!” O eleitor ignorante não enxerga o óbvio da
realidade e, por isso mesmo, compactua com a corrupção.
A mídia que domina o Brasil
é conservadora e está a serviço das forças dominantes. Estas forças fazem de
tudo para ficarem mais fortes e poderosas. Para permanecerem dominando,
precisam de um povo cego, ignorante e obediente; de um povo domesticado. Neste
sentido, a mídia é a grande ferramenta a serviço da dominação. Seu poder é tão
grande, que é capaz de fazer o povo enxergar a salvação de sua vida na
desonestidade do político ladrão.
O ignorante confere ao
político o poder para explorá-lo e matá-lo. No Brasil, os políticos são os mais
ricos do mundo. Roubam descaradamente porque sabem que o povo não reage, e não
reage porque é cego. O povo já aceitou a ideia de que a política se tornou um meio de
vida para muita gente, e vai às urnas eleger essa gente que não pensa
nem age em vista do bem comum. Tornou-se um vício.
A ignorância política
somada à mídia que legitima a dominação gera um sistema moderno de escravidão,
que se perpetua com a colaboração do próprio povo. Este passa a não se enxergar
fora da escravidão. O escravo olha para si mesmo e diz: “O que seria de mim sem o meu
senhor? Tenho orgulho de ser seu escravo. Não consigo viver sem chicote e
fardo. É a minha vida”.
Em pleno séc. XXI é assim
que funciona. Os mais esclarecidos ficam horrorizados com a escravidão do
período colonial da história brasileira, e se sentem envergonhados, pois se
trata de um passado sombrio. O mesmo ocorrerá com as gerações futuras, ao
estudarem a situação atual da política brasileira. Mas como se trata de um
vício histórico, talvez as gerações futuras também deixar-se-ão escravizar. E assim
caminha a humanidade.
Apesar de tudo isso, a
esperança permanece viva. Como professor-educador, procuro fazer minha parte. Sei
bem que a maioria das crianças, adolescentes e jovens de nossas escolas e
universidades está contaminada pelo vírus da escravidão. Como dizia
Paulo Freire: já tem em si o opressor, e pautam suas vidas de acordo com a programação
imposta por ele.
Mesmo assim, continuarei
tentando despertar a reflexão, com a consciência dos perigos que daí
decorrem. A utopia de outro mundo possível e a fé no Amor maior são as
molas propulsoras do meu pensar e agir. Não me entrego ao desespero porque não
encontro sentido nele. Cada um faz suas escolhas, e a minha tem nome: Esperança
ativa. E esta esperança ativa é caminho de libertação.
Tiago de França
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