terça-feira, 8 de novembro de 2016

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Tiago de França 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A vida e a morte. Pensamentos (XXVII)

       
       Geralmente, as pessoas evitam pensar na própria morte. Esta parece assunto proibido, mesmo aparecendo todos os dias, em todas as partes do mundo. A cada segundo morre gente pelo mundo afora. Trata-se de uma realidade que se impõe, sem pedir licença. E é assim desde as origens. Não se sabe como a morte apareceu no mundo. O que se sabe é que ninguém dela pode escapar. É uma certeza inabalável. Cedo ou tarde, todo ser vivo se encontra com a morte.

            Mansos e violentos, ricos e pobres, doutores e iletrados, governante e governado, crentes e ateus, brancos e negros, orientais e ocidentais, humildes e arrogantes, despojados e apegados, saudáveis e doentes, justos e injustos, convictos e incertos, enfim, todos conhecem o seu fim neste mundo. Não há recurso ou meio que possa evitar a morte. Na hora devida ou indevida, ela vem dar um basta em nossa vida. Conformando-se, ou revoltando-se, a morte é certa e se impõe. Não há homem poderoso neste mundo que possa enfrentá-la.

            E é bom que seja assim. O que seria deste mundo se certos tipos de pessoas se eternizassem? Imaginemos todos os ditadores e sanguinários, que ceifam a vida de centenas e milhares de pessoas. O que seria de nós se estes sedentos de sangue não morressem? Quando a justiça dos homens não alcança o opressor, a morte alcança e o coloca no seu devido lugar, silenciando-o na sepultura. Não se trata de desejar a morte destas pessoas, mas a dinâmica da morte cuida de todos; e neste mundo há pessoas que apressam a própria morte e perdem a vida porque se tornaram inimigos dela.

            A espiritualidade cristã oferece um belo ensinamento sobre a morte. Partindo da experiência de Jesus de Nazaré, a morte não é a última palavra da existência humana. Segundo Jesus, o Messias, a Ressurreição é a última palavra. Esta é a esperança cristã. Pela fé no nome de Jesus, todo crente alcança a ressurreição da carne e a vida eterna. O próprio Jesus é o primogênito dentre os mortos, ou seja, o Pai o ressuscitou, libertando-o do poder da morte. Para quem tem fé, Jesus é a ressurreição e a vida. Portanto, o verdadeiro cristão, alicerçado nesta esperança, perde o medo da morte.

            A morte do corpo não amedronta o cristão. Há uma morte eterna que se mostra perigosa, que consiste na separação total em relação a Deus. O perigo está em perder a visão de Deus, perder a união com Ele. Mas a fé e a graça de Deus não permitem que isto aconteça. Por isso, os que seguem Jesus vivem unidos a Ele, numa comunhão plena, que ultrapassa toda compreensão e sabedoria humanas. Unido ao Pai, ao Filho e ao Espírito, o cristão permanece na luz. Diante da morte, acompanha-o a coragem, a serenidade e a segurança. Neste sentido, a morte constitui apenas uma pausa na vida, que é eterna.

            Por fim, vale a pena recordar uma orientação da mensagem de São Francisco de Assis: a morte é nossa irmã, por isso, devemos nos reconciliar com ela. O ideal é que morramos em paz, sem revoltas. Acolher o mistério da morte é reconciliar-se com ela. É reconhecer que através dela entramos em comunhão com o Mistério maior, reconhecendo-nos plenamente nele.

A morte nos faz conhecer o que realmente somos em plenitude. Por meio dela, ingressa-se na alegria sem fim. Somos seres transcendentes, e a morte nos faz experimentar isso. Trata-se da revelação plena daquilo que somos. 

            Enquanto peregrinamos neste mundo, precisamos aprender a valorizar as pessoas e amá-las do jeito que são. Precisamos aprender a arte de conviver. Não podemos deixar passar as oportunidades de encontro e reencontro. Aproveitar a companhia e a amizade das pessoas, enquanto ainda estão conosco. Faz bem evitar o adiamento do perdão e da acolhida, da aproximação e do estar junto. Quem muito dia e evita, pode perder grandes oportunidades. Muitas vezes, deixa-se para depois o encontro, o reencontro e a convivência, de repente, o outro já não pode ser encontrado porque já não existe mais, partiu deste mundo.

Quando se vão, alguns são lembrados, outros são esquecidos; mas, independentemente da lembrança, todos somos importantes aos olhos de Deus. Na verdade, quando as pessoas morrem, tenham elas sido “boas” ou “ruins”, sempre serão lembradas por alguém que foi tocado por um gesto de amor manifestado. O amor é como a morte, dele também ninguém escapa. E é ele quem nos salva da morte sem fim.


Tiago de França