Geralmente, as pessoas evitam
pensar na própria morte. Esta parece assunto proibido, mesmo aparecendo todos
os dias, em todas as partes do mundo. A cada segundo morre gente pelo mundo
afora. Trata-se de uma realidade que se impõe, sem pedir licença. E é assim
desde as origens. Não se sabe como a morte apareceu no mundo. O que se sabe é
que ninguém dela pode escapar. É uma certeza inabalável. Cedo ou tarde, todo
ser vivo se encontra com a morte.
Mansos e violentos, ricos e pobres, doutores e iletrados,
governante e governado, crentes e ateus, brancos e negros, orientais e
ocidentais, humildes e arrogantes, despojados e apegados, saudáveis e doentes,
justos e injustos, convictos e incertos, enfim, todos conhecem o seu fim neste
mundo. Não há recurso ou meio que possa evitar a morte. Na hora devida ou
indevida, ela vem dar um basta em nossa vida. Conformando-se, ou revoltando-se,
a morte é certa e se impõe. Não há homem poderoso neste mundo que possa
enfrentá-la.
E é bom que seja assim. O que seria deste mundo se certos
tipos de pessoas se eternizassem? Imaginemos todos os ditadores e sanguinários,
que ceifam a vida de centenas e milhares de pessoas. O que seria de nós se
estes sedentos de sangue não morressem? Quando a justiça dos homens não alcança
o opressor, a morte alcança e o coloca no seu devido lugar, silenciando-o na
sepultura. Não se trata de desejar a morte destas pessoas, mas a dinâmica da
morte cuida de todos; e neste mundo há pessoas que apressam a própria morte e
perdem a vida porque se tornaram inimigos dela.
A espiritualidade cristã oferece um belo ensinamento
sobre a morte. Partindo da experiência de Jesus de Nazaré, a morte não é a
última palavra da existência humana. Segundo Jesus, o Messias, a Ressurreição é
a última palavra. Esta é a esperança cristã. Pela fé no nome de Jesus, todo
crente alcança a ressurreição da carne e a vida eterna. O próprio Jesus é o
primogênito dentre os mortos, ou seja, o Pai o ressuscitou, libertando-o do
poder da morte. Para quem tem fé, Jesus é a ressurreição e a vida. Portanto, o
verdadeiro cristão, alicerçado nesta esperança, perde o medo da morte.
A morte do corpo não amedronta o cristão. Há uma morte
eterna que se mostra perigosa, que consiste na separação total em relação a
Deus. O perigo está em perder a visão de Deus, perder a união com Ele. Mas a fé
e a graça de Deus não permitem que isto aconteça. Por isso, os que seguem Jesus
vivem unidos a Ele, numa comunhão plena, que ultrapassa toda compreensão e
sabedoria humanas. Unido ao Pai, ao Filho e ao Espírito, o cristão permanece na
luz. Diante da morte, acompanha-o a coragem, a serenidade e a segurança. Neste
sentido, a morte constitui apenas uma pausa na vida, que é eterna.
Por fim, vale a pena recordar uma orientação da mensagem
de São Francisco de Assis: a morte é nossa irmã, por isso, devemos nos
reconciliar com ela. O ideal é que morramos em paz, sem revoltas. Acolher o
mistério da morte é reconciliar-se com ela. É reconhecer que através dela
entramos em comunhão com o Mistério maior, reconhecendo-nos plenamente nele.
A
morte nos faz conhecer o que realmente somos em plenitude. Por meio dela, ingressa-se
na alegria sem fim. Somos seres transcendentes, e a morte nos faz experimentar
isso. Trata-se da revelação plena daquilo que somos.
Enquanto peregrinamos neste mundo, precisamos aprender a
valorizar as pessoas e amá-las do jeito que são. Precisamos aprender a arte de
conviver. Não podemos deixar passar as oportunidades de encontro e reencontro.
Aproveitar a companhia e a amizade das pessoas, enquanto ainda estão conosco.
Faz bem evitar o adiamento do perdão e da acolhida, da aproximação e do estar
junto. Quem muito dia e evita, pode perder grandes oportunidades. Muitas vezes,
deixa-se para depois o encontro, o reencontro e a convivência, de repente, o
outro já não pode ser encontrado porque já não existe mais, partiu deste mundo.
Quando
se vão, alguns são lembrados, outros são esquecidos; mas, independentemente da
lembrança, todos somos importantes aos olhos de Deus. Na verdade, quando as
pessoas morrem, tenham elas sido “boas” ou “ruins”, sempre serão lembradas por
alguém que foi tocado por um gesto de amor manifestado. O amor é como a morte,
dele também ninguém escapa. E é ele quem nos salva da morte sem fim.
Tiago de França
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