quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

MENSAGEM DE NATAL 2016

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).

Amigos e amigas,

Graça e paz!

Introdução

        Certamente, o ano de 2016 entrará para a história como um dos mais difíceis. Muitas coisas aconteceram: guerras, tragédias, crises, desumanidade. Infelizmente, não temos muito o que comemorar. Inúmeros são os sinais do anti-Reino que se manifestam no mundo. O poder da morte impera nos quatro cantos da terra: gritos e gemidos de dor surgem em toda parte.

Vidas inocentes são ceifadas. Há muito sangue sendo derramado. Para o Oriente Médio, as potências mundiais enviam soldados, dinheiro e armas, e muita gente é brutalmente assassinada. Há sede de poder, de controle e de hegemonia. Até quando assistiremos a esta carnificina humana?...

1 – Brasil: Cai Dilma, chega Temer

        No Brasil, após a queda do governo do PT, a situação se agravou. Muitos acreditaram que o impeachment era a solução para as crises política e econômica. Com o auxílio dos partidos de direita – PSDB e DEM, principalmente – , Michel Temer se tornou Presidente. Em seis meses de governo, seis de seus ministros caíram: todos sob suspeita de corrupção. O próprio Presidente está sendo acusado de corrupção.

Um dos delatores da empresa Odebrecht o mencionou quarenta e três vezes no depoimento à Justiça. Isto é extremamente grave: a maior autoridade da República do Brasil não goza de idoneidade moral. Seus projetos de “reforma” são contrários aos interesses do povo brasileiro, portanto, contrários ao bem comum. São projetos que reforçam o poder da elite poderosa em detrimento da vida dos mais pobres do povo.

2 – Um povo em silêncio

        Manipulado pela mídia, o povo permanece em silêncio. Para derrubar o governo Dilma, a mídia se uniu aos partidos de direita e ao empresariado que os financia, e orquestraram uma forte campanha de terror. Milhares de pessoas foram às ruas com o pretexto de que estavam “lutando contra a corrupção”. Agora, estas pessoas estão em silêncio.  

Os partidos, os empresários e a mídia que outrora as convocaram estão se beneficiando do governo Temer, e contam com o silêncio do povo. A maioria dos que formam este povo não pensa, não enxerga, não analisa, pois constitui, politicamente falando, uma massa de gente anencéfala. Quem não pensa por si mesmo não tem cérebro! É massa de manobra.

3 – A Constituição é brutalmente rasgada

        A Constituição Federal, norma suprema da República, assegura os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. Infelizmente, as “reformas” propostas e aprovadas pelo governo atual afrontam a Constituição Federal. O governo e seus apoiadores estão modificando a Constituição para prejudicar o povo brasileiro. A mídia que apoia os que estão rasgando a Constituição mente para o povo, dizendo que o governo está tomando medidas para melhorar a vida da população.

Na verdade, tais medidas visam manter os privilégios da elite poderosa, que somente deseja aumentar cada vez mais seu poder. Mentem, descaradamente! Insistem na mentira, de forma veemente, para que o povo aceite a mentira como se verdade fosse. A mentira esconde os golpes contra os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.

4 – Um Judiciário conivente

        O Judiciário é um dos poderes de nossa República. O Supremo Tribunal Federal é o órgão supremo do Judiciário, e a sua principal função é ser guardião da Constituição. Ser guardião significa ser vigilante, assegurando a inviolabilidade da norma suprema. Nenhum cidadão e nenhuma instituição poderiam violá-la. Todos os que a violam deveriam ser punidos na forma da lei.

O Supremo Tribunal possui mecanismos de controle da constitucionalidade, que tem a finalidade de zelar pela integridade e aplicabilidade da Constituição. Ninguém está acima nem à margem da norma suprema. Todos os brasileiros, natos ou naturalizados, bem como todos os que se encontram no território brasileiro devem se submeter ao poder da Constituição. Este é o ideal, mas a realidade tem demonstrado o contrário de tudo isso.

        Neste ano, o parlamento brasileiro orquestrou uma ficção jurídica. O que isso significa? É tudo muito simples, e de resultado desastroso. O impeachment está previsto na Constituição. Para que seja efetivado, o Presidente da República precisa cometer, comprovadamente, o crime de responsabilidade. Configurado o crime, aplica-se a pena de cassação do mandato e dos direitos políticos.

No caso da ex-Presidenta Dilma, visivelmente, não houve crime de responsabilidade e, mesmo assim, teve seu mandato cassado. A injustiça foi tão grande, que o próprio parlamento decidiu não cassar os direitos políticos da ex-Presidenta. Depois da cassação, empossado o Vice no cargo de Presidente, o mesmo parlamento decidiu que as pedaladas fiscais não mais constituem “crime”, ou seja, as tais pedaladas serviram como pretexto para cassar a Presidenta da República.

Este processo injusto, que constitui verdadeira ficção jurídica, foi presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal. Em outras palavras, o Presidente do Supremo Tribunal presidiu a violação da Constituição. Sem arrodeios, foi isto que aconteceu. Portanto, foi rompida a ordem constitucional, e tal rompimento foi considerado legal.

5 – A operação Lava Jato e a seletividade da Justiça

        Desde 2014, está em curso a operação Lava Jato, que surgiu com o objetivo de investigar crimes de lavagem de dinheiro. Inúmeras pessoas foram investigadas, processadas e punidas. É inegável a importância desta e de outras operações para o combate à corrupção no Brasil. Quando a Justiça quer investigar, processar e punir, os resultados são, de modo geral, positivos.

Desde 2003, com a chegada do ex-Presidente Lula até a saída da ex-Presidenta Dilma, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal tiveram ampla liberdade para investigar os crimes praticados. Este é um legado dos governos Lula e Dilma que ficará para a história. Qualquer pessoa de bom senso admite isso. Antes de 2003 não existiam operações como a Lava Jato. Esta é uma verdade incontestável.

Nas pegadas do seu predecessor, a ex-Presidenta Dilma não interferiu nas investigações, permitindo a sua continuidade e ampliação. Até a própria ex-Presidenta foi injustamente escutada, quando teve seu telefone grampeado pela justiça federal sem autorização do Supremo Tribunal Federal.

        Qual o problema da operação Lava Jato? Ela vai libertar o Brasil da corrupção? Conseguirá investigar, processar e punir todos os criminosos do Brasil? De modo algum. Basta-nos uma pergunta para vermos a fragilidade desta famosa operação: Quantos criminosos ligados aos partidos DEM e PSDB foram investigados, processados e julgados na operação Lava Janto? Nenhum!  Até o momento, a operação optou por investigar, processar e punir pessoas e organizações ligadas aos ex-Presidentes Lula e Dilma. Visivelmente, a operação é tendenciosa.  

Nestes dias, 77 ex-executivos da Odebrecht fizeram acordo de delação premiada na operação Lava Jato. Foram 800 depoimentos à Justiça. Neles, vários políticos foram mencionados, inclusive o atual Presidente da República, e pessoas ligadas aos partidos que formam a sua base de governo, incluindo DEM,  PMDB e PSDB. Estes três partidos comandam a República brasileira atualmente, e são os responsáveis por tudo o que está acontecendo. São os promotores das “reformas” do atual governo. Será que os políticos destes partidos, bem como as demais pessoas ligadas a eles serão punidas na operação Lava Jato?...

        Em síntese, o que podemos concluir a respeito da forma como atua a Justiça brasileira? A Justiça comete injustiças! Uma injustiça que provoca tantas outras é a seletividade. Uma das grandes desgraças que afeta o País hoje é a seletividade presente na atuação da Justiça. Esta escolhe quem vai investigar, processar e punir.

Se o leitor discorda, então responda, honestamente: Por que a Justiça não investiga, processa e pune Renan Calheiros, Fernando Collor e Aécio Neves? Por que os processos contra estes políticos não caminham, enquanto que os processos contra o ex-Presidente Lula caminham a passos largos? Por que assistiremos, em breve, a prisão do ex-Presidente Lula, enquanto Renan, Collor e Aécio ficarão rindo da Justiça e do povo brasileiro?...

Se isto não é seletividade, o que é então?... Em nossas publicações não nos cansamos de repetir algo que aparece com clareza no Brasil: Inúmeros criminosos no Brasil tem, no Poder Judiciário, amigos que os protegem e blindam. Basta o leitor lembrar do ocorrido recentemente com o senador Renan Calheiros, que desafiou o Supremo Tribunal e saiu vencedor. E por que venceu? Porque tem grandes amigos no Supremo Tribunal. Não há segredo. Tudo está muito claro. No Brasil, quem tem amigos juízes, desembargadores e ministros no Supremo Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal não precisa ter medo da lei. Quem aplica a lei é o juiz, e se este não quiser aplicar, reina a impunidade.

6 – O que esperar do futuro?...

        Infelizmente, precisamos considerar uma previsão um tanto triste: Até 2018 assistiremos a mais apertos, e a partir desta data, que será marcada pelas eleições, a situação poderá piorar. Atualmente, tendo em vista o terrível cenário no qual estamos inseridos, tudo converge para a chegada de um político do PSDB à Presidência da República. Os nomes já são bastante conhecidos: todos sob suspeita de corrupção.

Contra eles a Justiça não tem força, e os motivos já foram apresentados. Caso o PSDB chegue à Presidência da República, o País cairá numa estagnação sem precedentes. Já conhecemos o estilo psdebista de governar: Totalmente alinhado com os interesses dos mais ricos em detrimentos dos mais pobres. O governo Temer tem a agenda do PSDB e os estragos estão sendo conhecidos.

Com Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e um político do PSDB na Presidência do Brasil, nosso País se transformará numa grande fazenda formada por milhões de escravos, governada por criminosos sanguinários, que sempre se comportaram de forma criminosa porque desconhecem lei que os detenha e puna.

É para isto que, a nosso ver, estamos caminhando. O terreno fértil para tal desgraça é constituído por um povo totalmente manipulado, que só sabe ir às ruas se for mandado; do contrário, permanece em casa, vendo os retrocessos pela tela da TV Globo, empresa poderosa que controla o cérebro de milhões de brasileiros, entre outras que trabalham no mesmo sentido.

7 – Diante deste cenário, o que o Natal de Jesus tem a nos dizer?

        Por fim, cabe-nos perguntar: O que a mensagem do Natal de Jesus tem a nos dizer, diante desta situação desoladora? Para nós, que professamos a fé em Jesus, o Natal não é sinônimo de mesa farta, muita bebida, troca de presentes, árvore luminosa, Papai Noel e peru da Sadia. Todas estas coisas podem até ser boas, mas geram somente uma alegria passageira. São frutos do apetite mercadológico.  

A alegria oriunda do verdadeiro Natal não é passageira, mas permanece transbordante no coração de todo aquele que crê. A Boa Notícia da encarnação de Deus na humanidade gera uma alegria que dura para a vida eterna. Crer no mistério da encarnação de Deus significa crer em outro mundo possível.

Jesus não nasceu neste mundo para ser transformado em objeto de ritual litúrgico. O mistério da encarnação não pode ser reduzido a um ritual. Neste sentido, o Natal acontece todos os dias na vida daqueles que entram em comunhão com este mistério de amor.

Com isto, não estamos nos opondo à liturgia de nossas Igrejas, à celebração solene do Natal do Senhor. De modo algum! Mas precisamos ter em mente que toda solenidade litúrgica perde o seu verdadeiro sentido quando desconectada da realidade do mundo. Deus se encarnou para a vida do mundo, não para ser somente celebrado na solene liturgia. Esta deve ser a expressão do que se vive no seio do mundo em permanente conflito.

        Neste sentido, não deve existir uma oposição entre vida eclesial e vida secular. Não deveria existir esta dualidade. O mistério da encarnação, quando compreendido naquilo que verdadeiramente significa, não permite a dualidade entre o religioso e o secular. O lugar do religioso é no secular. Deus encarnou na periferia do mundo, lá onde o que consideramos profano se manifesta.  

Tornar-se carne é tornar-se secular. Para nos escandalizar, Jesus viveu toda a sua vida numa perspectiva secular, em plena sintonia com o Pai no Espírito. Já sabemos que ele não viveu na clausura nem na sacristia do Templo, mas era homem, plenamente humano, recapitulando todas as coisas, no cumprimento fiel da sua missão. Este é o mistério que celebramos no Natal.

Conclusão

        Neste espírito de comunhão e participação no mistério da encarnação, desejo a todos um Feliz Natal, e um Ano Novo repleto de saúde e paz! Roguemos ao bom Deus, que cremos ser o Emanuel, Deus conosco, que não nos abandone na caminhada, e que seu Espírito permaneça conosco, socorrendo-nos sempre, recriando-nos para sermos fieis às aspirações do Amor, início e fim de nossa peregrinação terrestre, até o encontro definitivo na Pátria definitiva, porque lá a festa vai ser linda de viver!

        Fraternalmente, no Cristo Jesus,

Tiago de França

Nenhum comentário: