“E
a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Amigos
e amigas,
Graça
e paz!
Introdução
Certamente, o ano de 2016 entrará para a história como um dos
mais difíceis. Muitas coisas aconteceram: guerras, tragédias, crises, desumanidade.
Infelizmente, não temos muito o que comemorar. Inúmeros são os sinais do
anti-Reino que se manifestam no mundo. O poder da morte impera nos quatro
cantos da terra: gritos e gemidos de dor surgem em toda parte.
Vidas
inocentes são ceifadas. Há muito sangue sendo derramado. Para o Oriente Médio,
as potências mundiais enviam soldados, dinheiro e armas, e muita gente é
brutalmente assassinada. Há sede de poder, de controle e de hegemonia. Até
quando assistiremos a esta carnificina humana?...
1
– Brasil: Cai Dilma, chega Temer
No Brasil, após a queda do governo do PT, a situação se
agravou. Muitos acreditaram que o impeachment
era a solução para as crises política e econômica. Com o auxílio dos partidos
de direita – PSDB e DEM, principalmente – , Michel Temer se tornou Presidente.
Em seis meses de governo, seis de seus ministros caíram: todos sob suspeita de
corrupção. O próprio Presidente está sendo acusado de corrupção.
Um
dos delatores da empresa Odebrecht o mencionou quarenta e três vezes no depoimento
à Justiça. Isto é extremamente grave: a maior autoridade da República do Brasil
não goza de idoneidade moral. Seus projetos de “reforma” são contrários aos
interesses do povo brasileiro, portanto, contrários ao bem comum. São projetos
que reforçam o poder da elite poderosa em detrimento da vida dos mais pobres do
povo.
2
– Um povo em silêncio
Manipulado pela mídia, o povo permanece em silêncio. Para
derrubar o governo Dilma, a mídia se uniu aos partidos de direita e ao
empresariado que os financia, e orquestraram uma forte campanha de terror.
Milhares de pessoas foram às ruas com o pretexto de que estavam “lutando contra
a corrupção”. Agora, estas pessoas estão em silêncio.
Os
partidos, os empresários e a mídia que outrora as convocaram estão se
beneficiando do governo Temer, e contam com o silêncio do povo. A maioria dos
que formam este povo não pensa, não enxerga, não analisa, pois constitui,
politicamente falando, uma massa de gente anencéfala. Quem não pensa por si
mesmo não tem cérebro! É massa de manobra.
3
– A Constituição é brutalmente rasgada
A Constituição Federal, norma suprema da República, assegura
os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. Infelizmente, as
“reformas” propostas e aprovadas pelo governo atual afrontam a Constituição
Federal. O governo e seus apoiadores estão modificando a Constituição para
prejudicar o povo brasileiro. A mídia que apoia os que estão rasgando a
Constituição mente para o povo, dizendo que o governo está tomando medidas para
melhorar a vida da população.
Na
verdade, tais medidas visam manter os privilégios da elite poderosa, que
somente deseja aumentar cada vez mais seu poder. Mentem, descaradamente!
Insistem na mentira, de forma veemente, para que o povo aceite a mentira como
se verdade fosse. A mentira esconde os golpes contra os direitos e garantias
fundamentais dos cidadãos brasileiros.
4
– Um Judiciário conivente
O Judiciário é um dos poderes de nossa República. O Supremo
Tribunal Federal é o órgão supremo do Judiciário, e a sua principal função é
ser guardião da Constituição. Ser guardião significa ser vigilante, assegurando
a inviolabilidade da norma suprema. Nenhum cidadão e nenhuma instituição
poderiam violá-la. Todos os que a violam deveriam ser punidos na forma da lei.
O Supremo
Tribunal possui mecanismos de controle da constitucionalidade, que tem a
finalidade de zelar pela integridade e aplicabilidade da Constituição. Ninguém
está acima nem à margem da norma suprema. Todos os brasileiros, natos ou
naturalizados, bem como todos os que se encontram no território brasileiro
devem se submeter ao poder da Constituição. Este é o ideal, mas a realidade tem
demonstrado o contrário de tudo isso.
Neste ano, o parlamento brasileiro orquestrou uma ficção
jurídica. O que isso significa? É tudo muito simples, e de resultado
desastroso. O impeachment está
previsto na Constituição. Para que seja efetivado, o Presidente da República
precisa cometer, comprovadamente, o crime de responsabilidade. Configurado o
crime, aplica-se a pena de cassação do mandato e dos direitos políticos.
No
caso da ex-Presidenta Dilma, visivelmente, não houve crime de responsabilidade
e, mesmo assim, teve seu mandato cassado. A injustiça foi tão grande, que o
próprio parlamento decidiu não cassar os direitos políticos da ex-Presidenta. Depois
da cassação, empossado o Vice no cargo de Presidente, o mesmo parlamento
decidiu que as pedaladas fiscais não mais constituem “crime”, ou seja, as tais
pedaladas serviram como pretexto para cassar a Presidenta da República.
Este
processo injusto, que constitui verdadeira ficção jurídica, foi presidido pelo
Presidente do Supremo Tribunal Federal. Em outras palavras, o Presidente do
Supremo Tribunal presidiu a violação da Constituição. Sem arrodeios, foi isto
que aconteceu. Portanto, foi rompida a ordem constitucional, e tal rompimento
foi considerado legal.
5
– A operação Lava Jato e a seletividade da Justiça
Desde 2014, está em curso a operação Lava Jato, que surgiu
com o objetivo de investigar crimes de lavagem de dinheiro. Inúmeras pessoas
foram investigadas, processadas e punidas. É inegável a importância desta e de
outras operações para o combate à corrupção no Brasil. Quando a Justiça quer
investigar, processar e punir, os resultados são, de modo geral, positivos.
Desde
2003, com a chegada do ex-Presidente Lula até a saída da ex-Presidenta Dilma, a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal tiveram ampla liberdade para
investigar os crimes praticados. Este é um legado dos governos Lula e Dilma que
ficará para a história. Qualquer pessoa de bom senso admite isso. Antes de 2003
não existiam operações como a Lava Jato. Esta é uma verdade incontestável.
Nas
pegadas do seu predecessor, a ex-Presidenta Dilma não interferiu nas
investigações, permitindo a sua continuidade e ampliação. Até a própria
ex-Presidenta foi injustamente escutada, quando teve seu telefone grampeado
pela justiça federal sem autorização do Supremo Tribunal Federal.
Qual o problema da operação Lava Jato? Ela vai libertar o
Brasil da corrupção? Conseguirá investigar, processar e punir todos os
criminosos do Brasil? De modo algum. Basta-nos uma pergunta para vermos a
fragilidade desta famosa operação: Quantos criminosos ligados aos partidos DEM
e PSDB foram investigados, processados e julgados na operação Lava Janto?
Nenhum! Até o momento, a operação optou
por investigar, processar e punir pessoas e organizações ligadas aos
ex-Presidentes Lula e Dilma. Visivelmente, a operação é tendenciosa.
Nestes
dias, 77 ex-executivos da Odebrecht fizeram acordo de delação premiada na operação
Lava Jato. Foram 800 depoimentos à Justiça. Neles, vários políticos foram
mencionados, inclusive o atual Presidente da República, e pessoas ligadas aos
partidos que formam a sua base de governo, incluindo DEM, PMDB e PSDB. Estes três partidos comandam a
República brasileira atualmente, e são os responsáveis por tudo o que está
acontecendo. São os promotores das “reformas” do atual governo. Será que os
políticos destes partidos, bem como as demais pessoas ligadas a eles serão punidas
na operação Lava Jato?...
Em síntese, o que podemos concluir a respeito da forma como
atua a Justiça brasileira? A Justiça comete injustiças! Uma injustiça que
provoca tantas outras é a seletividade. Uma das grandes desgraças que afeta o
País hoje é a seletividade presente na atuação da Justiça. Esta escolhe quem
vai investigar, processar e punir.
Se o
leitor discorda, então responda, honestamente: Por que a Justiça não investiga,
processa e pune Renan Calheiros, Fernando Collor e Aécio Neves? Por que os
processos contra estes políticos não caminham, enquanto que os processos contra
o ex-Presidente Lula caminham a passos largos? Por que assistiremos, em breve,
a prisão do ex-Presidente Lula, enquanto Renan, Collor e Aécio ficarão rindo da
Justiça e do povo brasileiro?...
Se
isto não é seletividade, o que é então?... Em nossas publicações não nos
cansamos de repetir algo que aparece com clareza no Brasil: Inúmeros criminosos
no Brasil tem, no Poder Judiciário, amigos que os protegem e blindam. Basta o leitor
lembrar do ocorrido recentemente com o senador Renan Calheiros, que desafiou o
Supremo Tribunal e saiu vencedor. E por que venceu? Porque tem grandes amigos
no Supremo Tribunal. Não há segredo. Tudo está muito claro. No Brasil, quem tem
amigos juízes, desembargadores e ministros no Supremo Tribunal de Justiça e no
Supremo Tribunal Federal não precisa ter medo da lei. Quem aplica a lei é o
juiz, e se este não quiser aplicar, reina a impunidade.
6
– O que esperar do futuro?...
Infelizmente, precisamos considerar uma previsão um tanto
triste: Até 2018 assistiremos a mais apertos, e a partir desta data, que será
marcada pelas eleições, a situação poderá piorar. Atualmente, tendo em vista o
terrível cenário no qual estamos inseridos, tudo converge para a chegada de um
político do PSDB à Presidência da República. Os nomes já são bastante
conhecidos: todos sob suspeita de corrupção.
Contra
eles a Justiça não tem força, e os motivos já foram apresentados. Caso o PSDB
chegue à Presidência da República, o País cairá numa estagnação sem
precedentes. Já conhecemos o estilo psdebista de governar: Totalmente alinhado
com os interesses dos mais ricos em detrimentos dos mais pobres. O governo
Temer tem a agenda do PSDB e os estragos estão sendo conhecidos.
Com
Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e um político do PSDB na
Presidência do Brasil, nosso País se transformará numa grande fazenda formada
por milhões de escravos, governada por criminosos sanguinários, que sempre se
comportaram de forma criminosa porque desconhecem lei que os detenha e puna.
É
para isto que, a nosso ver, estamos caminhando. O terreno fértil para tal
desgraça é constituído por um povo totalmente manipulado, que só sabe ir às
ruas se for mandado; do contrário, permanece em casa, vendo os retrocessos pela
tela da TV Globo, empresa poderosa que controla o cérebro de milhões de
brasileiros, entre outras que trabalham no mesmo sentido.
7
– Diante deste cenário, o que o Natal de Jesus tem a nos dizer?
Por fim, cabe-nos perguntar: O que a mensagem do Natal de
Jesus tem a nos dizer, diante desta situação desoladora? Para nós, que
professamos a fé em Jesus, o Natal não é sinônimo de mesa farta, muita bebida,
troca de presentes, árvore luminosa, Papai Noel e peru da Sadia. Todas estas
coisas podem até ser boas, mas geram somente uma alegria passageira. São frutos
do apetite mercadológico.
A
alegria oriunda do verdadeiro Natal não é passageira, mas permanece
transbordante no coração de todo aquele que crê. A Boa Notícia da encarnação de
Deus na humanidade gera uma alegria que dura para a vida eterna. Crer no
mistério da encarnação de Deus significa crer em outro mundo possível.
Jesus
não nasceu neste mundo para ser transformado em objeto de ritual litúrgico. O
mistério da encarnação não pode ser reduzido a um ritual. Neste sentido, o
Natal acontece todos os dias na vida daqueles que entram em comunhão com este
mistério de amor.
Com
isto, não estamos nos opondo à liturgia de nossas Igrejas, à celebração solene
do Natal do Senhor. De modo algum! Mas precisamos ter em mente que toda
solenidade litúrgica perde o seu verdadeiro sentido quando desconectada da
realidade do mundo. Deus se encarnou para a vida do mundo, não para ser somente
celebrado na solene liturgia. Esta deve ser a expressão do que se vive no seio
do mundo em permanente conflito.
Neste sentido, não deve existir uma oposição entre vida
eclesial e vida secular. Não deveria existir esta dualidade. O mistério da
encarnação, quando compreendido naquilo que verdadeiramente significa, não
permite a dualidade entre o religioso e o secular. O lugar do religioso é no
secular. Deus encarnou na periferia do mundo, lá onde o que consideramos
profano se manifesta.
Tornar-se
carne é tornar-se secular. Para nos escandalizar, Jesus viveu toda a sua vida
numa perspectiva secular, em plena sintonia com o Pai no Espírito. Já sabemos
que ele não viveu na clausura nem na sacristia do Templo, mas era homem,
plenamente humano, recapitulando todas as coisas, no cumprimento fiel da sua
missão. Este é o mistério que celebramos no Natal.
Conclusão
Neste espírito de comunhão e participação no mistério da
encarnação, desejo a todos um Feliz Natal, e um Ano Novo repleto de saúde e
paz! Roguemos ao bom Deus, que cremos ser o Emanuel, Deus
conosco, que não nos abandone na caminhada, e que seu Espírito
permaneça conosco, socorrendo-nos sempre, recriando-nos para sermos fieis às
aspirações do Amor, início e fim de nossa peregrinação terrestre, até o
encontro definitivo na Pátria definitiva, porque lá a festa vai ser linda de
viver!
Fraternalmente, no Cristo Jesus,
Tiago de França
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