“Homens
da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que
vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (Atos
1, 11).
O relato da ascensão de Jesus aos céus pode ser uma excelente
oportunidade para meditarmos sobre o mistério de sua presença entre nós.
Certamente, alguns pregadores católicos enfatizarão o movimento da subida de
Jesus ao céu. Na verdade, Jesus nos chama a atenção para a sua permanência
entre nós, pois não nos deixou órfãos. Ele não nos abandona para ir viver
confortavelmente em outra dimensão. Ascensão é, na verdade, movimento de
descida para a realidade conflituosa da vida.
Nossa tendência é justamente repetir o gesto dos discípulos
de Jesus, que ficaram parados olhando para o céu. Viver parado, olhando para o
céu, é a atitude do cristão acomodado, que aprendeu a adorar Jesus no silêncio
da capela do Santíssimo. Para quem é católico, não discordamos da importância
da adoração silenciosa numa bela capela ou templo religioso. Mas precisamos ser
contemplativos na ação. Sempre há algo que pode ser feito, por mais
insignificante que pareça ser. Podemos celebrar a ascensão de Jesus, fazendo-o
presente na simplicidade de nossa ação.
Muita coisa ruim anda acontecendo no mundo, especialmente no
Brasil. Nesta semana que passou, em terras paraenses, dez pessoas foram
assassinadas. Segundo testemunhas, as polícias civil e militar chegaram
atirando: as vítimas sequer puderam reagir. Anteriormente, um segurança de uma
fazenda foi assassinado. Pelo que se conhece na região, este é o resultado do
poder dos fazendeiros, que matam, impiedosamente, com o apoio da polícia. Dada
a impunidade que impera no País, será mais uma chacina a cair no esquecimento.
Os que foram assassinados são pessoas pobres, e estes não contam para a
justiça. No Brasil, a morte de um trabalhador pobre não significa nada.
A ascensão de Jesus é um mistério que se celebra na vida
destes pobres trabalhadores e suas famílias. Certamente, há mulheres e homens
indignados por esta injustiça, que se repete, escandalosamente. No Pará, há os
irmãos da Comissão Pastoral da Terra, da Igreja Católica, que estão denunciando
este crime. Há também membros da Ordem dos Advogados do Brasil, que exigem
investigações. No Judiciário, deve existir operadores preocupados com esta
terrível situação. Em toda parte, há pessoas que não compactuam com o
derramamento de sangue de pessoas que lutam por seus direitos. Nestas pessoas,
manifesta-se o mistério da presença de Jesus.
Além deste fato estarrecedor, que revela o quanto precisamos
de um Judiciário que, de fato, funcione, também assistimos ao agravamento da
crise política. Nosso atual Presidente é descarado: apesar das denúncias de
corrupção, com as devidas provas oferecidas por um dos donos da JBS, insiste em
se manter no cargo. O apego ao poder a qualquer custo é algo doentio e
deplorável. Mesmo fazendo mal ao País, Michel Temer zomba da cara dos
brasileiros, e insiste em permanecer no poder.
É
tanta podridão, envolvendo também operadores do Judiciário, que este não sabe
que rumo tomar. No mesmo Judiciário, os amigos do Presidente pendem para a
impunidade, e já falam de indulto ao Michel Temer. Outros, apontam para o
caminho da devida e necessária punição. A situação do Judiciário, de modo
geral, é de total parcialidade. Em nome da amizade com corruptos, manipula-se a
lei, escancaradamente. Aos inimigos, a lei; aos amigos, a impunidade.
O
que um seguidor de Jesus pode fazer diante de uma situação dessas? É necessário
manter viva a esperança. Mas não uma esperança passiva. O cristão é chamado a
profetizar: crer na verdade e anunciá-la. E a verdade está na realidade dos
fatos. Estes falam por si, independentemente de interpretação. É preciso aprender
a ler os acontecimentos à luz da presença de Jesus.
No
evangelho, Jesus ensina que o cristão deve permanecer do lado de quem está
sendo enganado e explorado. Assim, o nosso lado é o dos pobres do povo
brasileiro. Há muita gente pobre, que está sendo vítima das ditas “reformas”
que o corrupto Michel Temer está fazendo. Jesus permanece presente na vida dos
pobres do povo, e quem o segue deve permanecer com ele na vida de seu povo.
Esta
é a opção de Jesus: os pobres sofredores do povo. Por isso, nas Igrejas e
comunidades cristãs, todos aqueles que aderem aos discursos e práticas dos
opressores se colocam na contramão do evangelho, e são dignos que serem
chamados de inimigos do povo de Deus. Todos os corruptos são inimigos do povo
de Deus, devendo ser desmascarados e punidos. São filhos do demônio, o pai da
mentira e do roubo.
E
por mais que ostentem amizade com padres, bispos e pastores, tanto católicos
quanto protestantes, não deixam de ser discípulos e agentes de Satanás. Sabemos
bem que Satanás é sinônimo de divisão, mentira e destruição, e é justamente
isso que os corruptos fazem: dividem, mentem e destroem a vida, saqueando o
dinheiro do povo brasileiro. Se há pastores que os abençoam, não o fazem em nome
do Deus e Pai de Jesus, mas em nome de Satanás, pai da mentira e da confusão. Deus
não abençoa quem rouba e mata as pessoas.
Celebrar
a ascensão de Jesus é crer que ele permanece fiel, e sua fidelidade é um
convite para também sermos fieis a Deus, praticando a justiça para que surja a
paz. A alegria da sua presença nos transforma em missionários da justiça do
Reino de Deus, incansáveis peregrinos neste mundo, firmes e fortes até às
últimas consequências.
Que
o Espírito de Jesus nos liberte de toda e qualquer alienação e desespero, a fim
de que o Reino de Deus se torne realidade entre nós. Vamos nos manter de pé,
combatendo a mentira e denunciando as forças do anti-Reino e seus agentes.
Somos da parte de Deus. Ele nos envia, nos confirma e nos anima na fé, no amor
e na esperança. Avante, sempre!
Tiago
de França