No
testemunho de santidade de Inácio de Loyola encontramos a recomendação que
intitula a presente meditação: É
necessário encontrar Deus em todas as coisas. Hoje, 31 de julho, os
jesuítas e toda a Igreja Católica celebram a memória de Santo Inácio de Loyola,
que morreu em 31 de julho de 1556, em Roma. Como encontrar Deus em todas as
coisas? A partir da experiência missionária de Jesus, ousaremos algumas
provocações que possam responder à questão.
É importante saber que Deus pode ser
encontrado em todas as coisas. Longe de cair numa visão panteísta, Deus, de
fato, não se confunde com as coisas, mas está presente em toda a criação. Isto significa
que os religiosos não podem aprisioná-lo nos templos religiosos, e significa
também que é preciso abandonar o velho discurso de que, para servir a Deus é
necessário frequentar o templo religioso. Com isto não estamos dizendo que Deus
não possa ser encontrado no templo. Na verdade, ele não está somente lá.
Deus convida cada pessoa a refazer a
forma como se relaciona com todas as coisas. Este refazimento é precedido por
um processo lento e necessário de conversão. Conversão da forma de pensar e de
ser, conversão da forma como se concebe a si mesmo e ao mundo no qual se vive. Atualmente
e de modo geral, as pessoas estão dominadas pela mentalidade capitalista de
entender e viver a vida. Daí decorre o processo de coisificação do ser humano:
as pessoas se aceitando, se reconhecendo e se relacionando como se fossem
coisas.
O significado da expressão Deus está presente em todas as coisas se
opõe ao que prega o capitalismo selvagem. Em Jesus de Nazaré, Deus nos lembrou
que as pessoas não são coisas, mas, de fato, pessoas. Afirmar que alguém é
pessoa é reconhecer que toda pessoa possui nome, identidade, endereço e
história. Não há pessoa no vácuo, desprovida de existência. Toda pessoa nascida
neste mundo, sem exceção, é digna de respeito, estima e consideração. Teologicamente
falando, toda pessoa está inserida na grande família de Deus, a humanidade.
Portanto, Deus está presente nas
pessoas. Estas são a sua morada. Crer nesta verdade nos impede de maltratá-las,
persegui-las, enganá-las, explorá-las, humilhá-las, discriminá-las e matá-las. Amamos
a Deus quando amamos as pessoas. Ele quis permanecer nelas. E é assim porque
todas as pessoas formam a imagem de Deus. Neste sentido, é preciso resgatar a
dignidade de todos aqueles que se encontram desfigurados, maltratados e
explorados. A exploração das pessoas contraria a fé cristã. Quem tem fé em
Jesus não é favorável à exploração das pessoas.
Deus também está presente na natureza,
esta natureza cansada de ser explorada pelos grandes empreendimentos humanos. Uma
natureza usada e abusada para satisfazer as ambições de muitos seres que se
dizem humanos. Com sua sede de dinheiro e de poder, parcela dos que dominam a
economia mundial exploram e matam a vida na terra. O planeta já dá sinais
claros de esgotamento, mas tais pessoas não se convertem: seguem explorando,
assassinando animais e vegetais, poluindo o ar e as águas, e matando,
inclusive, outros seres humanos. É necessário resgatar a dimensão sacra da
natureza, e isto significa reconhecê-la como mãe que governa a todos, digna de
respeito e cuidado.
Por fim, precisamos considerar, ainda,
que Deus está presente nas religiões. Queremos dar ênfase ao Cristianismo, que
surgiu a partir da experiência de Jesus de Nazaré. Crer que podemos encontrar
Deus no seio do Cristianismo significa dizer que encontramos a sua presença nas
verdadeiras relações fraternas que ocorrem no seio de nossas Igrejas. Para que
as pessoas acreditem que Deus se encontra no seio do Cristianismo é necessário que
o amor seja a regra de vida das comunidades cristãs. É o testemunho do amor a
Deus e ao próximo que revela o lugar de Deus. Este Deus está onde o amor pode
ser encontrado: “Onde reina o amor, Deus aí está”, reza um hino cristão.
Seguramente, podemos afirmar que Deus
está na beleza de todas as criaturas: no perfume das flores, no sorriso das
crianças, nos lírios do campo, na brisa suave, na chuva que cai, nas
profundezas dos oceanos, no encontro e reencontro das pessoas, nas tristezas e
alegrias, nas angústias e esperanças, na luta sofrida do povo, no clamor por
justiça, na pele sofrida dos injustiçados, nas feridas abertas dos que
agonizam; enfim, Deus é Tudo em todos. Está presente, criando e recriando todas
as coisas. Hoje, é o Espírito, que concede os dons do discernimento e da visão
da realidade, que nos faz ver a ação amorosa do Deus da vida e da liberdade.
Deus está em todas as coisas porque tudo
revela o seu amor. Ele nos é fiel e nos exige fidelidade. É aquele que
permanece, que não se cansa de amar. E quando abertos ao seu amor, aprendemos a
amar e nos sentimos amados. Aqui está o sentido da vida: Em sentir-se amado por
Deus porque neste sentir o conhecemos tal como Ele é. Esta revelação é muito
mais profunda, e as palavras nos faltam para falar da sua profundidade. Deus também
está no silêncio...
Tiago
de França
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