sábado, 2 de setembro de 2017

Seguir Jesus hoje

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24).

        Da parte de Jesus há sempre um convite: “Se alguém quer me seguir...” Trata-se de um chamado sempre aberto e universal. Decidir-se por Jesus é uma atitude que confere sentido à vida. Quem escolhe seguir Jesus, inicia uma experiência de vida, que se expressa na adesão a um projeto de vida. Falar em projeto significa que seguir Jesus vai muito além de simpatizar-se com ele. Jesus não quer que meramente gostemos dele, que admiremos suas palavras, mas deseja que sejamos seus discípulos e discípulas.

        Os que decidem seguir Jesus assumem um novo jeito de ser, deixando de ser meras cópias do mundo, sem fugas. Vivendo no mundo, o discípulo assume o estilo de vida do Mestre: um estilo profundamente marcado pelo amor-doação. Fora do projeto de Jesus encontramos o falso amor, segundo o qual as pessoas se apoderam umas das outras, portanto, possuindo-se. As pessoas falam do amor, mas não amam. Vivem no infinito e perigoso jogo de satisfação dos interesses, e escondem este jogo se utilizando da linguagem do amor. Há belos discursos de amor, manifestações coloridas de amor, mas, na prática, somente há aparência de amor.

        No seguimento de Jesus, aquele que renuncia a si mesmo é que verdadeiramente ama. Sem renúncia não há amor. Hoje, as pessoas não querem sequer escutar a palavra renúncia. Aprenderam que renúncia é sinônimo de negação da vida. Praticam o hedonismo, ou seja, buscam o prazer a todo custo, e pensam que assim são felizes. Ser feliz, segundo pensam, é desfrutar de uma vida prazerosa. A regra é ter prazer, um prazer que nunca se sacia. E o resultado é o número assustador de pessoas superficiais, vazias, cansadas, ansiosas, usadas e abusadas, perturbadas, sem rumo, sem vida. As pessoas buscam a satisfação de seus interesses, entregando-se ao egoísmo. Os que conseguem satisfação pensam que são felizes. Na verdade, vivem na ilusão. Estão perdidos na vida.

        Jesus ensina um caminho que vai na contramão de tudo isso. E justamente por isso, as pessoas não aceitam este caminho. Trata-se de um caminho que conduz à doação de si, doação que conduz à cruz. Não é um caminho de prosperidade. Enquanto as pessoas procuram o prazer, o sucesso, o prestígio, o poder, a riqueza e a glória, Jesus exige a renúncia e aponta para a cruz. As pessoas não querem carregar a cruz. Com a ajuda da religião, elas distorcem a mensagem de Jesus, e criam outra mensagem e um outro Jesus. O verdadeiro Jesus é demasiadamente exigente e pesado. As pessoas querem um Jesus leve, que lhes assegure prazer, satisfação e vida tranquila. Desejam crer num Jesus que não exija renúncia nem fale de cruz.

        Renunciar é muito difícil. Por que tenho que pensar no próximo, se devo procurar sempre cuidar, em primeiro lugar, de mim mesmo? Por que devo responsabilizar-me pelo outro? O que tenho a ver com o sofrimento do outro? Por que devo preocupar-me com o outro, se não o conheço? Por que fazer minha parte na transformação do mundo, se não colaborei diretamente para que chegássemos a tamanha calamidade? Por que devo fazer alguma coisa, se a culpa é do governo?... Estas e tantas outras perguntas revelam a tendência que as pessoas tem de tentarem justificar seu pecado de omissão. Não querem renunciar à segurança, mas buscam-na, desesperadamente. Não renunciam à zona de conforto para assumir riscos.

        Renunciar gera desprazer e, portanto, é desconfortável. Ocupar-se com o outro dá trabalho porque este outro é diferente. As pessoas não são educadas para o diferente, para a tolerância, para o cuidado. No mundo, aprendem a ser interesseiras, mesquinhas, maliciosas, ambiciosas, covardes e omissas. Algumas até se escandalizam com a indiferença que reina na sociedade, mas quando se deparam com as feridas abertas do próximo, preferem passar para o outro lado do caminho. E para apaziguar suas consciências, procuram ir ao culto, elevar a Deus hinos de louvor. Outras, doam algumas moedas aos pobres mendicantes, e isto lhe confere uma paz momentânea. Doam moedas, mas não renunciam à maldade que habita seus corações.

        Jesus pede também que se tome a cruz. Carregar a cruz não é tarefa fácil porque implica responsabilidade. Carregar a cruz não é amar o sofrimento. Isso é masoquismo. Deus não provoca o sofrimento na vida de ninguém. Deus não é mau. Há pessoas que pelo simples fato de terem nascido neste mundo são vítimas do sofrimento, são atingidas por ele. Há outras que provocam o sofrimento, fazendo opção por ele. Parece estranho, mas é verdade. Há muita gente que procura sarna para se coçar e encontra! Hoje, milhões de pessoas em todo o mundo são vítimas da exploração dos poderosos, que gera sofrimento. Com elas está Jesus, carregando a cruz. Jesus não livra ninguém do sofrimento, mas permanece sempre disposto a caminhar junto, ajudando, aliviando e salvando.

        A religião cristã, com seus pastores e suas estruturas, tem um papel importante a desempenhar: ir ao encontro dos que sofrem, para ajudar-lhes a carregar a cruz. Um cristianismo que não assume o papel daquele que ajudou Jesus a carregar a sua pesada cruz, é pedra de tropeço no processo de humanização das pessoas. Neste sentido, é papel das Igrejas cristãs ajudar o povo a carregar a cruz. Muita gente do povo sofre. Muitas feridas estão abertas, precisando do óleo da misericórdia. Se os cristãos se fecham nos seus templos, tapando os olhos e ouvidos ao clamor daqueles que estão caídos nos caminhos e periferias do mundo, estes cristãos praticam idolatria. Jesus está chamando, gritando e agonizando na carne sofrida das mulheres e homens que são vítimas dos poderes que ceifam a vida.

        Os cristãos fariseus e hipócritas fecham os olhos e tapam os ouvidos para não ouvirem o clamor de Jesus, que sai da boca dos sofredores. Preferem perder tempo com discussões doutrinais e rituais, discutindo em suas reuniões sobre quem pode ou não participar dos momentos litúrgicos. Vivem ocupados com abstrações e regras, para ver quem está de acordo ou não com a lei. Estão preocupados com o número daqueles que frequentam o culto, bem como com a quantidade de dinheiro que entra em forma de dízimos e ofertas. Enquanto brigam para ver quem é conservador e progressista, Jesus permanece de mãos estendidas no madeiro da cruz, implorando sempre a misericórdia do Pai, para que encontremos o caminho que conduz à vida.

        A palavra de Jesus permanece para sempre, e não há doutrina humana que a mude. Sua palavra é clara e imutável: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Sem renúncia e sem a cruz não se segue Jesus. Não há meio termo. Não há interpretação que mude isso. Esta palavra é radical e eterna. O seguimento é exigente, profundamente marcado pelo amor-doação, expresso na renúncia e na cruz. Quem quiser participar do Reino de Deus Pai, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga Jesus. A genuína fé cristã não oferece outro caminho senão este. Assim disse Jesus, e sua palavra é palavra de vida eterna, e seu chamado permanece aberto. Quem quiser segui-lo, arrisque-se. É caminho estreito, que conduz à vida sem fim.


Tiago de França

Nenhum comentário: