sábado, 28 de outubro de 2017

O amor segundo Jesus

Amigos/as,

O que significa o amor segundo Jesus de Nazaré? Por que fugimos do amor, e optamos pela indiferença? Estas questões me levaram a pensar sobre o amor. Fora do amor não há salvação. Convido-lhes a assistir às provocações sobre o tema, que compartilho no breve vídeo a seguir.

Bom fim de semana a todos/as!

Tiago de França

domingo, 22 de outubro de 2017

ALGUMAS PROVOCAÇÕES SOBRE A MISSÃO CRISTÃ HOJE

“Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura!” (Mc 16, 15)

Antes e depois do Concílio Vaticano II

        Na literatura teológica da Igreja Católica encontramos uma vasta bibliografia sobre o tema da missão, especialmente nos tempos pós-Vaticano II, em que o tema da missão foi retomado com força. Antes do Vaticano II, a missão era entendida como realidade de clérigos e religiosos. Os leigos não eram considerados missionários, mas apenas destinatários da missão da Igreja. O povo assistia às missões, recebendo os sacramentos. No mais, a vida paroquial era rotineira, marcada pela piedade popular, pela celebração da Eucaristia e dispensa dos sacramentos. A Igreja não se reconhecia como Povo de Deus em marcha no mundo, mas entendia-se como relação rigorosa entre clérigos e leigos, marcados pela obediência e observância das leis eclesiásticas. A vida eclesial era uma repetição incansável de ritos, preces e louvores. A religião era uma realidade parada no tempo.

        Após o Vaticano II, encerrado no dia 8 de dezembro de 1965, a Igreja despertou para a realidade da missão. Os documentos conciliares apontam para a missão da Igreja no meio do mundo, ou seja, já não mais se concebe a Igreja como realidade acima do mundo nem separada dele. Ao invés de o mundo ir à Igreja, esta é chamada a ir ao mundo, para anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus. Reconheceu-se, portanto, esta necessidade: Ir, sair de si, partir na direção do mundo. O povo de Deus está no meio do mundo, e a missão do cristão deve acontecer neste mundo, marcado pelas tristezas e alegrias, angústias e sofrimentos, gritos e infortúnios de toda sorte. O desafio de partir é permanente e provocador, é evangélico e transformador. Não há Igreja de Jesus sem este partir para a missão. Não há missionário sem deslocamento, sem saída do mundo da segurança pessoal.

        Depois de João Paulo I, que teve um pontificado muito breve, veio o grande João Paulo II. Durante quase três décadas governou a Igreja, dando ênfase à identidade institucional desta. Criou uma geração de católicos, clérigos e leigos entusiasmados com a liturgia oficial, com paramentos litúrgicos, com a devoção a Maria e aos santos, com o cumprimento rigoroso das leis canônicas e veneração filial à figura do Pontífice. Assim, acentuou-se a imagem da Igreja em toda a terra. Eventos de massa passaram a ser organizados para demonstrar a força persuasiva e simbólica do Papa: Jornada Mundial da Juventude e peregrinações marianas. Multiplicou-se a canonização dos santos, especialmente os santos fieis à sagrada tradição, marcados pelas devoções particulares, reforçando, assim, um modelo de santidade desvinculado da dimensão política da fé.

        Para consolidar este modelo hierárquico de Igreja, pautado na oração e na obediência, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, com toda a sua pompa, foi eleito Pontífice. Na mesma linha do seu sucessor, mas com um carisma pouco afeito a gestos sentimentalistas, Bento XVI continuou dirigindo a barca de Pedro em meio a uma enxurrada de denúncias contra muitos membros do clero, metidos em escândalos sexuais e financeiros. Homem de profundo conhecimento em teologia, Bento XVI chamou a atenção para a necessária ortodoxia da fé, ou seja, foi rigoroso com o trato da exposição da fé cristã, muito preocupado com a manutenção da sagrada tradição da Igreja. Suas obras teológicas até hoje permanecem como fonte de pesquisa e estudos nos cursos de teologia católica. Com seu predecessor, criou uma geração de saudosistas, apegados à boa tradição, disciplinados na elaboração sistemática do conteúdo teológico da fé. Seu pontificado foi praticamente igual ao seu predecessor.

        O grande gesto do Papa Bento XVI foi a sua renúncia ao pontificado, em fevereiro de 2013. Este gesto feliz concedeu à Igreja a oportunidade de, pela primeira vez na história, um latino-americano, oriundo da Argentina, chegasse ao Bispado de Roma. Dada a situação crítica da Igreja, parada no tempo, o colégio de cardeais escolheu Francisco, para reformar a Igreja. É verdade que Francisco tem consciência de que não pode fazer tudo o que deseja, afinal de contas, não governa sozinho a Igreja. Mas é verdade também que tem feito muito bem à Igreja, muito mais que seus dois predecessores juntos. Desapareceu do seio da Igreja a cultura do medo e da repressão. Não se ouviu mais falar de proibição quanto à discussão de temas necessários à vida eclesial. O grande gesto de Francisco, além da sua simplicidade no jeito de ser e de agir, é a sua ousadia em apontar para o essencial: o Evangelho de Jesus. E aí o tema da missão é retomado com força, após décadas de silêncio e apego às tradições dos antigos.

Quem envia?

        Quem envia é Jesus. O chamado não é para a missão em nome da Igreja, mas em nome de Jesus. O missionário é alguém chamado a continuar a missão de Jesus. Ele é autor da missão. O mundo é o campo da missão. Ninguém é chamado para fugir do mundo, refugiando-se no isolamento. O missionário é pessoa do contato, da comunicação, do encontro. É aquele que promove a cultura do encontro. É encontrando-se com os outros que a missão acontece. Em uma sociedade marcada pelo desencontro, o discípulo missionário de Jesus promove a urgente e necessária cultura do encontro.

        O Pai e o Filho enviam na força do Espírito Santo. O cristão que atende o apelo à missão age em nome da Trindade Santa. Esta mesma Trindade confere autoridade ao missionário para que este fale em nome dela. Por isso, todo missionário precisa ter consciência sobre quem o envia à missão. Assim, não terá medo de nada, caminhará sempre com segurança e serenidade. O Deus uno e trino é a sua segurança, pois o mesmo que envia é o que dá a devida segurança. Não há, neste mundo, pessoa, circunstância, ou poder, que impeça o enviado da Trindade de cumprir a sua missão. Quem envia confere a força necessária para o necessário enfrentamento das situações difíceis.

Para onde envia?

        A leitura da Bíblia revela o lugar de Deus neste mundo. Ele jamais esteve do lado dos poderosos e opressores, e não se identifica com as forças que oprimem os pobres. A revelação bíblica, do Gênesis ao Apocalipse, é fiel ao mostrar, com clareza, o lugar do encontro com Deus. No antigo testamento da Bíblia aparece Deus agindo no meio dos pobres, dos oprimidos, libertando aqueles que estavam aprisionados na casa da escravidão. Escolhendo homens e mulheres, envio-os para libertar o povo da escravidão; e, apesar da infidelidade do povo eleito, Deus permaneceu fiel. A marcha da libertação integral do povo de Deus chegou até Jesus, e este transmitiu aos seus seguidores a missão de permanecerem no mesmo caminho de fidelidade ao Pai, servindo ao povo de Deus.

        Lá onde encontramos os marginalizados da sociedade: desempregados, prostitutas, viciados em drogas; moradores de rua; enfermos nos hospitais e fora deles; mulheres abandonadas; os presidiários; os que passam fome; os nus; os desorientados e sem perspectiva; os desenganados pela medicina; os perseguidos por causa da justiça, as vítimas das inúmeras formas de violência; as crianças, adolescentes e jovens abandonados; os que são violados em seus direitos e garantias fundamentais; as famílias das vítimas das “balas perdidas”; as viúvas desamparadas; os idosos abandonados; as vítimas da censura; enfim, todos aqueles que são esquecidos no anonimato, feridos em sua dignidade. Onde estão eles, aí está Deus. É aí o lugar da missão e do missionário.

        Somente impulsionado pelo Espírito Santo, o missionário é capaz de ir ao encontro destas pessoas. Sem o auxílio do Espírito, não é possível ser missionário no meio dos sofredores. Sem este auxílio divino que desinstala o missionário, conduzindo-o ao encontro dos sofredores, facilmente se cai no comodismo. Numa sociedade marcada pelo egoísmo, para quem se deixa dominar por este, o sofrimento do outro não significa nada. O missionário não pode ser egoísta. O egoísmo acaba com a missão. Missão e egoísmo são realidades incompatíveis. Livre do egoísmo e sem isolar-se em sua zona de conforte e segurança pessoal, o missionário se expõe, se desloca, parte para a missão. Missão é partir para ir ao encontro; é um partir definitivo, sem olhar para trás. Trata-se de assumir um estilo de vida que impõe riscos e incômodos, pois é caminho estreito, pedregoso e, às vezes, muito perigoso.

        Quem almeja conforto e segurança não pode ser missionário. O caminho a ser trilhado não é confortável nem oferece segurança. Os que procuram “salvar a própria vida”, diz Jesus, vai perdê-la; mas aqueles que “perdem a vida” por causa de Jesus e da sua mensagem, estes encontrarão a vida. Este “perder a vida” por causa de Jesus e do seu evangelho significa doar a própria vida na missão; é deixar-se consumir pela missão. Assim como a vela se consome para oferecer luz, o mesmo ocorre com o autêntico missionário: Gasta a sua vida na missão, sem reservas nem limites. Apesar do cansaço, da incompreensão, da perseguição e da rejeição, o missionário permanece firme, de pé e de cabeça erguida, denunciando as injustiças e anunciando o Reino de Deus, no serviço perseverante e amoroso ao próximo.

Enviados para quê?

        O missionário é enviado para anunciar o evangelho da vida e da liberdade. O Reino de Deus é vida e liberdade para todos. Esta é a mensagem central do cristianismo, a mensagem de Jesus. Hoje, mais do que em outras épocas, tornou-se cada vez mais urgente anunciar o evangelho de Jesus. Assim, o missionário não é chamado a pregar a doutrina da sua Igreja, por mais perfeita e útil que pareça ser a doutrina. E é assim porque todo missionário sabe que não é a doutrina da Igreja que converte e salva as pessoas, mas somente a palavra de Jesus tem força geradora de vida eterna. Anunciar a palavra de Jesus é a missão do missionário. Nenhum conjunto de leis nem de doutrinas pode substituir a palavra de Jesus. Esta palavra está no centro, e Jesus a pronunciou para a salvação de todos.

        Desse modo, desvia-se da missão confiada por Deus todo missionário que anuncia ao povo as próprias ideias e ideologias religiosas. A ninguém Jesus deu poder e autoridade para fazer isso. O anúncio é anúncio do evangelho de Jesus, e não de ideologias criadas pela inteligência humana. Estas ideologias visam a satisfação dos interesses humanos, de grupos e instituições. O anúncio do evangelho visa o Reino de Deus. O verdadeiro missionário não vive em função dos interesses da religião, mas consome a sua vida no anúncio da mensagem de Jesus. Não valeria a pena ser missionário para pregar ideologias humanas. Estas são imperfeitas e promovem o corporativismo. O evangelho de Jesus não é ideologia nem promove corporativismo.

        Neste sentido, falsos missionários são aqueles que se dedicam a pregar ideologias exclusivistas, que somente servem para julgar, condenar e excluir as pessoas. Infelizmente, encontramos muitos falsos missionários em todas as Igrejas cristãs que, ao invés de acolher e cuidar do povo, especialmente dos que mais sofrem, se dedicam a criar doutrinas e regras religiosas que causam divisão, legitimando a hipocrisia religiosa. Há muitos discursos moralistas, geradores de muita intolerância religiosa no seio das Igrejas. Jesus não ensinou a seus discípulos a criar regras morais para controlar a vida das pessoas nem para classificá-las em categorias. Doutrinas e regras só servem se estiverem em sintonia com a mensagem de Jesus. Ninguém é obrigado a ouvir e aceitar doutrina e regra religiosa contrárias ao evangelho de Jesus. Não se pode impor às pessoas doutrinas e regras contrárias ao evangelho da vida e da liberdade. Missão e imposição são realidades incompatíveis.

Missão: Um apelo ao amor

        Precisamos nos colocar a serviço da criação de um mundo mais justo e fraterno para todos. Quem foi batizado em nome da Trindade precisa assumir a missão de anunciar o Reino de Deus. Esta missão é inadiável. No juízo final cada cristão vai ser cobrado, caso não tenha desempenhado a sua missão neste mundo. Não podemos ser covardes. Não podemos cair no comodismo e nos apegarmos às seguranças deste mundo. Para combater o mal do mundo precisamos amar sem medo e sem limites: Amar a todos, sem distinção. Todos somos filhos do mesmo Pai, que é amoroso para com todos. Com o testemunho de nossa vida precisamos criar uma sociedade justa e fraterna. O medo e o desespero não podem nos controlar. O Espírito do Senhor está conosco. Confiemos nele. Entreguemo-nos a Ele. Assim, a missão acontece, e o Reino de Deus se torna realidade entre nós. Com este propósito nos dispomos a pensar estas reflexões/provocações. Que o auxílio divino permaneça conosco, hoje e sempre.
Fraternalmente,

Tiago de França

domingo, 15 de outubro de 2017

SER PROFESSOR

     
      Este dia não pode passar despercebido. Trata-se do Dia do Professor: O único profissional responsável pela formação dos demais profissionais. Na qualidade de professor, queremos oferecer algumas provocações a partir da nossa experiência pessoal.

        Inicialmente, é preciso dizer que o professor não é um mero repetidor nem transmissor de conteúdos. Qualquer pessoa pode fazer isso. O professor não é qualquer pessoa. Apesar de que, muitas vezes, muitos professores se permitem ser reduzidos a isso. Antes de mais nada, o professor é um educador.

        Educar não se reduz a ensinar bons modos. Educar é despertar no outro o desejo de pensar. O aluno precisa ver no professor um despertador da consciência crítica. Esta consciência surge por um intenso e gradual trabalho que ocorre no mundo da educação. A escola é o lugar da fomentação desta consciência.

        O trabalho do professor é uma arte, que exige perseverança e muita paciência. Cada aluno tem seu ritmo e seu contexto histórico. Como dizia o filósofo Ortega y Gasset, cada pessoa é um “eu e suas circunstâncias”. E o professor é chamado a considerar isso. A educação é um infinito trabalho de lapidação das pessoas. O aluno vem à escola, com suas histórias, pré-conceitos, saberes, hábitos, tradições etc., e o professor aproveita tudo isso para despertar nele a necessidade de tudo avaliar, criticamente.

        Atualmente, o trabalho do professor tem aumentado e se tornado desafiante. Diante da onda neoconservadora que tem tomado conta do País, nós, professores, estamos nos perguntando: O que está acontecendo? Será que temos desempenhado bem a nossa missão? De onde vem toda essa cultura da violência? Por que tanta gente de mente fechada e embrutecida? É verdade que a escola não cultiva a cultura do ódio e da indiferença. Nenhum professor que se preze, por mais mal preparado que seja, cultiva na mente do aluno a cultura da violência. Também é verdade que a escola precisa se empenhar melhor no combate a esta cultura da intolerância, que ousa imperar na sociedade.

        Outro grande mal que tem surgido atualmente, e que tem dificultado demais o trabalho do professor, e que, infelizmente, tem ganhado corpo na sociedade, é a proposta denominada “Escola sem partido”. Trata-se de uma ideologia neoconservadora que nasceu com a pretensão de tirar a liberdade de lecionar do professor. Sem liberdade não há educação. A educação existe em função da liberdade. Como ensina o grande cientista da educação, Paulo Freire: Educa-se para a liberdade. Quando se proíbe o professor de tratar determinado assunto, o que se quer, na verdade, é limitar o espaço da discussão do conhecimento. Em um regime democrático de direito isto é muito grave, pois contraria a liberdade de expressão concedida nos termos da Constituição da República em vigor.

        Hoje, o professor não pode deixar de lado a sua missão, deixando-se dominar pela omissão e pela covardia. As crianças, adolescentes e jovens são as principais vítimas da alienação oriunda da falta de consciência crítica. O professor é o único profissional capaz de despertar em todos o sublime gosto pelo pensar, e por meio deste, ensina-se a todos a aprender a analisar, criteriosamente, a realidade de si mesmo e do mundo; tendo em vista a realização das transformações necessárias para o verdadeiro progresso e evolução humana. Não há verdadeiro progresso sem uma educação verdadeiramente libertadora. Há de se trabalhar sempre para assegurar às pessoas a realização da sua vocação primeira: a vocação para o pensar.

        Particularmente, como professor de filosofia e educação religiosa, tenho procurado desempenhar esta árdua, mas gratificante missão: Levar o aluno a enxergar a realidade, despertando o desejo de pensar, criticamente. O aluno pode até não se dar bem na apreensão dos conceitos básicos do conteúdo, mas se é capaz de enxergar o que está por trás daquilo que se apresenta como óbvio, já me deixa de alma lavada. Tenho alunos que me dão esta alegria: A de se apaixonarem pela busca do conhecimento, insaciavelmente.

Por isso, apesar de um sistema educacional que precisa ser revisto na perspectiva da criação de sujeitos livres e, portanto, autônomos, sou professor porque acredito na transformação das pessoas. Sou professor porque acredito em outro mundo possível, a ser construído por pessoas livres e libertadoras, conscientes de si mesmas e do que acontece ao seu redor. Esta é a minha bandeira. Esta é a minha esperança. Pela a libertação integral das pessoas e erradicação da ignorância geradora de todo tipo de intolerância e violência, sou professor, e com muito orgulho!

Com estima e consideração à minha genitora, Cícera Luís de França, minha primeira professora, que me ensinou a ler, contar, enxergar e ser gente! Aos meus professores de ontem e de hoje, a minha eterna gratidão.

Prof. Tiago de França

sábado, 7 de outubro de 2017

A liberdade artística e o conservadorismo no Brasil

Amigos/as,

Atendendo a alguns pedidos, gravei uma reflexão sobre a polêmica em torno do nu artístico que tem aparecido em algumas exposições, e que causou tanto alvoroço nas redes sociais. Para facilitar o acesso, dividi a reflexão em cinco breves partes, no meu canal no YouTube, que podem ser vistas nos links a seguir. Trata-se de uma reflexão sobre o conservadorismo religioso e cultural que vigora atualmente no Brasil. 

Bom fim de semana a todos/as!


Tiago de França
A liberdade artística e o conservadorismo no Brasil