Ontem, 1º de fevereiro,
quando retornei para casa, após uma reunião de professores e direção do colégio
onde trabalho, devido à chuva, tive que pegar um táxi para chegar em casa sem
molhar meus papeis. Durante o percurso, o taxista, moço extrovertido, começou a
falar do que andava escutando no rádio e na TV. A sua fala era a de quem
acreditava, piamente, em tudo o que ouvia, sem o mínimo discernimento. Aí está
o problema da maioria dos brasileiros. Escuta e assiste aos jornais sem
desconfiar de nada. O que os noticiários falam parece dogmático.
Não poderia, na qualidade de professor, deixar o taxista ir
embora sem inquietá-lo. Particularmente, gosto de incomodar as pessoas com
perguntas que elas não costumam fazer. Quando paguei o valor cobrado, disse ao
jovem taxista: “Você não desconfia de nada que escuta? Já parou para pensar em
tudo aquilo que você escuta no rádio e na TV? No seu lugar, cuidaria em
questionar os noticiários. As coisas não são tão óbvias assim. Pense nisso!”
Ele riu, agradeceu, e foi embora.
Não é segredo para ninguém que a mídia controla a mentalidade
do povo. Este não foi habituado a ler, analisar, ponderar, interpretar,
discernir, para, assim, ter uma visão crítica da realidade. De modo geral, as
pessoas não pensam, mas querem tudo já pensado por outros. Sabendo disso, a
mídia entrega a informação pronta, de acordo com as suas ideologias e
interesses. Por isso, não é exagero dizer que a mídia é como que o cérebro da
maioria do povo. Prova disso é a forma como o povo enxerga a realidade. Basta
ler, escutar e assistir aos jornais para saber o que se passa na cabeça das
pessoas. Em outras palavras, o que elas tem na cabeça é o que os jornais falam,
diuturnamente.
Este é o motivo de os políticos terem medo da mídia, pois
sabem do seu poder. Assim, de forma escancarada, os políticos corruptos
procuram, imediatamente, ter estreitos vínculos com os donos dos meios de
comunicação. Estes vínculos são marcados pela cortesia e pela liberação de
muito dinheiro público para propaganda que enaltecem as ações interesseiras dos
políticos. Estes, de modo geral, não pensam no bem comum, mas usam do poder da
mídia para propagar mentiras. As propagandas, pagas com dinheiro do povo, são
mentiras bem elaboradas que tem a finalidade de anestesiar o poder de reação do
povo. Este paga para ser enganado.
A prova de que não estamos falando de coisas abstratas é o
que ocorre com o atual governo. Cresce cada vez mais o orçamento milionário
para a propaganda de mentiras que tem por objetivo convencer as pessoas de que
os projetos do governo visam o bem comum. É o que está acontecendo com a proposta
da “reforma” da Previdência. Para alcançar esta meta, o presidente da República
foi às principais emissoras de TV, dentre elas a Globo e o SBT, para tentar
enganar o povo. Não há o menor pudor. Tudo é feito de forma descarada. Parte-se
do pressuposto de que todos os brasileiros são ignorantes e domesticáveis na
forma de pensar, o que não é verdade.
2018 entra para a história como um dos piores anos eleitorais
após a redemocratização do Brasil, ocorrida após o golpe militar de 1964 a
1985. Além das figuras políticas com históricos reconhecidamente abomináveis, o
Judiciário resolveu ingressar, explicitamente, na arena política partidária. Usando
da interpretação esquizofrênica da lei, operadores do direito fazem uma seleção
tendenciosa dos candidatos à presidência da República. Unido ao Judiciário, a
mídia também faz o seu trabalho sujo: O Judiciário condena, e a mídia demoniza;
do contrário, quando absolve ou deixa os crimes prescreverem, a mídia canoniza.
Desse modo, temos no Brasil os poderes executivo, que domina o legislativo, que
é dominado pelo judiciário, estando este unido à mídia neoliberal hegemônica,
encabeçada pelas organizações Globo. Como diz o povo, no senso comum: “Está
tudo dominado!”
O cenário é considerado tenebroso para quem enxerga, mas para
o povo, que sequer sabe o que está acontecendo, tudo está dentro da
normalidade. Diariamente, a cúpula do judiciário repete o mesmo discurso,
veiculado pela mídia: “As instituições estão funcionando. Estamos dentro da
normalidade constitucional. Ninguém está acima da lei. A lei é igual para
todos!” Em nome da lei absurdos acontecem. Em matéria de direito, já não se
confia na Constituição, pois, em inúmeros casos e cada vez mais, o que vincula
é o que os julgadores entendem sobre ela. A insegurança jurídica é uma ameaça
constante.
A história
é mestra em ensinar, e mostra que, cedo ou tarde, os homens maus tropeçam na
própria maldade. Vez e outra os empobrecidos acordam e lutam, e sempre
encontram períodos de tempo para respirar e recarregar as energias. Nem tudo
está perdido. Há inúmeras pessoas, mulheres e homens de fé e coragem, que estão
de mangas arregaçadas, combatendo aqueles que estão a serviço dos projetos
opressores. Os poderosos não terão a última palavra. Esta é a nossa esperança. Nas
próximas reflexões, a gente vai tentando jogar luz sobre as trevas, para que
estas se dissipem e a visão da realidade chegue a todos. Devemos fazer a nossa
parte, mesmo que pareça ser uma gota d’água no imenso oceano. Vale a pena.
Tiago
de França
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