“Pois
Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo
o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
O mundo não é maldito nem é obra de Satanás. Nossa meditação
precisa iniciar com esta afirmação categórica, porque no seio do Cristianismo
há inúmeros cristãos que pensam o contrário. Há quem fuja do mundo por pensar
que este é causa de perdição eterna. Na verdade, Deus criou o mundo e tudo o
que nele há para que as pessoas pudessem viver e encontrar este mesmo Deus
neste mundo. Segundo a teologia da criação, tudo o que Deus criou é muito bom,
e tudo foi criado para o bem de todos. O mundo é o palco da vida, pois é nele
que se realiza a salvação do gênero humano e de toda a criação.
Dando asas às ambições desmedidas, que se manifestam na sede
do ter e do poder, ao longo da história, o ser humano (conjunto de pessoas
situadas no mundo) se desviou e transformou o mundo naquilo que temos hoje. O que
temos não é fruto do acaso nem do castigo de Deus, mas é fruto das escolhas
feitas; escolhas que sempre geram consequências, a curto ou a longo prazo. As pessoas
foram criando culturas, estilos de vida, sistemas econômicos, relações de poder
etc. Se assistimos a conflitos, lutas pelo poder, exclusão, guerras e morte
degradante e violenta, todas estas coisas resultam do agir humano, alicerçado
nos constantes conflitos de interesses.
Este é o mundo que temos e não adianta fugirmos dele. Não há
outro para vivermos. Deus está nele, atuando, diuturnamente. Há pessoas, que
impulsionadas por Ele, trabalham pela libertação do homem e do mundo. Deus não abandonou
o mundo nem o homem. Ele está presente, despertando o amor e o cuidado por tudo
o que existe. Ele está em todas as coisas. Ter fé é enxergar a sua presença em
todas as coisas. A fé concede a visão de Deus e nos faz enxergar a sua presença
amorosa, discreta, humilde e forte. Deus está na pequenez de tudo o que se
manifesta para o bem, para a paz e para a harmonia.
Jesus afirmou que Deus muito ama o mundo e as pessoas. Não pode
o seguidor de Jesus fazer o oposto: fugir do mundo e não amar as pessoas. O seguimento
a Jesus acontece neste mundo, pois foi para isto que ele foi criado: para
acolher todas as pessoas, a fim de que possam viver a plena vida. Aos olhos de
Deus, o mundo é o palco da vida e da verdadeira felicidade. Tudo foi pensado e
criado visando vida plena para todos. Quem segue Jesus sabe disso e precisa
experimentar a verdadeira vida, que consiste em viver em sintonia com o Amor
presente em toda a criação. É o Amor que gera vida plena. O homem não consegue
criar nada que consiga assegurar vida plena e eterna.
Jesus também fala que o homem prefere as trevas à luz, porque
as ações humanas são más. Em todas as épocas da história humana sobre a terra
encontramos a verdade empírica desta afirmação de Jesus. Façamos um breve
recorte. Olhemos para o Brasil atual: os poderosos preferem as trevas da
ganância, da sede de dinheiro e poder, a luta por este poder, a corrupção, o escândalo
e a confusão.
Todas
estas coisas são obras das trevas, pois geram opressão e morte. Diuturnamente,
escutamos nos jornais o retrato das pessoas mergulhadas nas trevas do erro e da
ignorância. Quando diante da luz da verdade, todas são desmascaradas e expostas
ao ridículo. Apesar das denúncias, da pouca punição (a “justiça” protege os
poderosos e pune os pobres!), os filhos das trevas permanecem fieis aos seus propósitos
espúrios. Enquanto um é desmascarado, há outros dez tramando e executando seus
planos de pura maldade e destruição do bem comum. Os filhos das trevas odeiam a
luz, pois sabem que esta expõe toda podridão que constitui o seu viver.
Por fim,
diz Jesus em Jo 3, 21: “...quem age
conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações
são realizadas em Deus”. O mundo precisa de pessoas autênticas, que trilhem
o caminho da verdade sem jamais abandoná-lo. Somente permanece em Deus que age
conforme a verdade. Em Deus não há mentira nem há, na relação com Ele, espaço
para a mentira. Na relação com Deus conhecemos quem realmente somos. Ele nos
revela a verdade de cada um de nós. Aceitando e vivendo na verdade revelada por
Deus, as pessoas se tornam autênticas, tornam-se pessoas de Deus porque estão
em Deus. Quem não age conforme a verdade está distante de Deus, pois Deus é
luz, e todo aquele que dele se aproxima, permanece na luz, permanece na
verdade.
Para
gozar da liberdade dos filhos e filhas de Deus é imprescindível este agir
conforme a verdade, porque é a verdade que liberta, integralmente. A vontade de
Deus é que sejamos livres. É na liberdade que a sua luz e seu amor se
manifestam. É na liberdade que conhecemos a Deus. Não há outro caminho. Neste mundo,
a partir do que somos e fazemos, somos chamados à luz da verdade que conduz à
liberdade. No amor encontramos esta luz e esta verdade.
Quem
não ama e quem não age conforme a verdade, é escravo de si mesmo e permanece
nas trevas do erro e da ignorância. Para darmos frutos de justiça e santidade
precisamos trilhar este caminho, estreito e pedregoso, que permanece sempre aberto.
Deus nos chama para nos colocarmos neste caminho. É nele que podemos nos
converter e, assim, encontrarmos alento e salvação para a nossa vida. É neste
caminho que nossa vida se torna feliz e eterna. Ousemos trilhá-lo.
Tiago
de França
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