“Ao
desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como
ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34).
A compaixão é uma das exigências do caminho de Jesus. Colocar-se
neste caminho é tornar-se compassivo. Compaixão é “padecer com”, “sentir com”,
participar do sofrimento do próximo. Esta participação é efetiva e afetiva. A fé
em Jesus torna o discípulo compassivo. Portanto, a compaixão parte desta fé. Esta
se manifesta naquela.
Em um mundo marcado pelo egoísmo, compadecer-se dos outros é
uma virtude escandalosa. Hoje, inúmeras pessoas tendem a viver como se os
outros não existissem. A indiferença parece ser a palavra ordenadora da
sociedade. A realidade dos outros não causa interesse. Não se procura os outros
para saber se estão bem. Não há participação na vida dos outros. Passa-se por
estes, mas sem enxergá-los. O contato entre as pessoas é superficial, pois estas
são superficiais.
Atualmente, a preocupação parece centrada na busca pelo
sucesso e bem-estar. As pessoas lutam para ter conforto material. Há uma
preocupação exagerada pelo cultivo da aparência. O importante é aparecer bem
nas fotografias publicadas nas redes sociais. Nestas, a falsa alegria é uma
constante. Todo mundo parece conectado, em plena comunhão. Mas tudo não passa
de aparência. Pessoalmente, a maioria dos milhões de usuários das redes sociais
é triste e infeliz. Fotografa-se tudo, principalmente roupas, carros, casas e
viagens. Estas coisas são o motivo da alegria passageira dos que cultivam a
ilusão das aparências.
Esta multidão de usuários faz parte da imensa multidão
daqueles que não tem pastor. São pessoas dispersas, que vivem buscando algo
concreto para continuar sobrevivendo. É verdade que há muita gente acordada e
consciente de sua missão no mundo, que também está nas redes sociais. Mas tais
pessoas constituem a minoria. A maioria é afetada pela total desorientação. São
as “curtidas” em suas publicações que parecem manter a sua autoestima alta ou
baixa. Não há liberdade nem realidade, mas prisão e virtualidade.
No mundo real também encontramos outra multidão de gente
injustiçada, padecendo inúmeros tipos de sofrimentos. As dores são muitas e as
esperanças tornam-se cada vez mais escassas. Há tanta gente agonizando. A fome,
o desemprego, as doenças, as perturbações, a falta de perspectiva, a desolação,
a corrupção e tantas outras situações e sentimentos destrutivos ceifam a vida
humana. Toda essa gente forma um grande rebanho que precisa ser orientado e
assistido. Em todas as épocas da história sempre existiu este povo sofredor.
No tempo de Jesus também existia o rebanho dos oprimidos. O império
romano não tinha piedade do povo, mas explorava-o cruelmente. Também muitos
religiosos cometiam o mesmo pecado, explorando o povo. Este vivia abandonado,
esperando que Deus enviasse o Libertador. Em Jesus, o povo encontrou uma
palavra de orientação, conforto e salvação. Jesus pronunciava palavras de vida
eterna, que despertavam e reanimavam a esperança das pessoas. Sensível às dores
do povo, Jesus participava de seus sofrimentos.
No seguimento de Jesus, a comunhão com os sofredores deste
mundo é uma exigência fundamental. Quem deseja se colocar no caminho de Jesus
deve saber que este caminho não está à margem do sofrimento humano. Em outros
termos, o sofrimento humano integra o caminho de Jesus. Sem compadecer-se do
outro, o discípulo de Jesus não se torna missionário. Compadecer-se não é
sentir pena nem ficar lamentando. A compaixão não se encerra no mero sentir,
mas exige um envolver-se com a realidade do próximo. Neste sentido, a compaixão
provoca um deslocamento, um sair de si mesmo.
Sair de si mesmo: eis o desafio da compaixão. Como sair de si
mesmo se decidirmos viver no isolamento? Não é possível sair de si mesmo se
estamos isolados em nossa zona de conforto. Se vivemos dedicados à busca de
segurança para nossa vida pessoal, dificilmente poderemos ir ao encontro dos
outros. Muitas vezes, esperamos que as pessoas possam vir até nós. Não estamos
dispostos a sair, porque este sair incomoda. A tendência atual é que cada um permaneça
no seu mundo, cuidando dos próprios interesses, sem conexão com os demais. A fé
cristã é totalmente contrária a este estilo de vida, porque não pode ser
praticada no individualismo. A fé em Jesus é incompatível com o egoísmo.
A compaixão exige aproximação. Não basta ver, mas é necessário
se aproximar. Esta aproximação confere o conhecimento da realidade dos outros. Enxergar
de longe é atitude de quem não quer se comprometer. Quando vemos o caído e não nos
aproximamos dele, é porque não queremos nos comprometer: passamos adiante,
fingindo não ter visto nada. Quem perde a sensibilidade é incapaz de sentir
compaixão. Uma pessoa insensível não enxerga os sofrimentos dos outros. Na verdade,
o insensível não enxerga os outros em hipótese nenhuma, exceto quando precisa
se aproveitar de uma ocasião para a satisfação de seus próprios interesses.
Somente o fato de nos aproximarmos dos outros já é uma ação
evangélica. Mesmo que não possamos resolver o problema, mesmo quando somos
impotentes diante de determinadas situação que se mostram insolúveis; mas somente
o fato de permanecermos com quem sofre, isto é compadecer-se, isto significa
seguir Jesus. Trata-se de uma demonstração fática da comunhão fraterna: exigência
da fé cristã. A compaixão nos faz entrar na dinâmica amorosa do encontro com os
outros. É neste encontro que crescemos na fé, no amor e na esperança.
Por fim, precisamos considerar que Jesus, o Bom Pastor,
também se dirige a todos os pastores de nossas Igrejas. Estes não podem
abandonar o rebanho sofrido e sedento de justiça e paz. Em Jeremias 23, 1, a
advertência divina é clara: “Ai dos
pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o
Senhor!” Todos os que se colocam a serviço do pastoreio do povo de Deus
devem estar atentos: Não se deve deixar perder-se e dispersar-se o rebanho do
Senhor.
Diante
de Deus, cada pastor prestará contas do que fez com o rebanho. Assim, toda
pessoa que desejar servir como pastor no seio do povo de Deus deve saber,
antecipadamente, que o mandamento de Deus pede que se cuide, com todas as
forças e com o coração cheio de amor, do rebanho divino, que peregrina neste mundo
rumo ao Reino definitivo.
O desejo
de Deus é a vida do seu rebanho, e para que este continue firme e forte na
caminhada, mulheres e homens são escolhidos e eleitos para pastorear,
enviando-os para cuidar com o mesmo cuidado que Jesus teve em sua missão terrestre.
O Deus que chama e envia, é o mesmo que, por meio do Espírito Santo, mantém
fieis os que são enviados em missão. O rebanho necessita de bons e santos
pastores.
Tiago de França
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