sábado, 21 de julho de 2018

A compaixão e o caminho de Jesus


“Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6, 34).

        A compaixão é uma das exigências do caminho de Jesus. Colocar-se neste caminho é tornar-se compassivo. Compaixão é “padecer com”, “sentir com”, participar do sofrimento do próximo. Esta participação é efetiva e afetiva. A fé em Jesus torna o discípulo compassivo. Portanto, a compaixão parte desta fé. Esta se manifesta naquela.

        Em um mundo marcado pelo egoísmo, compadecer-se dos outros é uma virtude escandalosa. Hoje, inúmeras pessoas tendem a viver como se os outros não existissem. A indiferença parece ser a palavra ordenadora da sociedade. A realidade dos outros não causa interesse. Não se procura os outros para saber se estão bem. Não há participação na vida dos outros. Passa-se por estes, mas sem enxergá-los. O contato entre as pessoas é superficial, pois estas são superficiais.

        Atualmente, a preocupação parece centrada na busca pelo sucesso e bem-estar. As pessoas lutam para ter conforto material. Há uma preocupação exagerada pelo cultivo da aparência. O importante é aparecer bem nas fotografias publicadas nas redes sociais. Nestas, a falsa alegria é uma constante. Todo mundo parece conectado, em plena comunhão. Mas tudo não passa de aparência. Pessoalmente, a maioria dos milhões de usuários das redes sociais é triste e infeliz. Fotografa-se tudo, principalmente roupas, carros, casas e viagens. Estas coisas são o motivo da alegria passageira dos que cultivam a ilusão das aparências.

        Esta multidão de usuários faz parte da imensa multidão daqueles que não tem pastor. São pessoas dispersas, que vivem buscando algo concreto para continuar sobrevivendo. É verdade que há muita gente acordada e consciente de sua missão no mundo, que também está nas redes sociais. Mas tais pessoas constituem a minoria. A maioria é afetada pela total desorientação. São as “curtidas” em suas publicações que parecem manter a sua autoestima alta ou baixa. Não há liberdade nem realidade, mas prisão e virtualidade.

        No mundo real também encontramos outra multidão de gente injustiçada, padecendo inúmeros tipos de sofrimentos. As dores são muitas e as esperanças tornam-se cada vez mais escassas. Há tanta gente agonizando. A fome, o desemprego, as doenças, as perturbações, a falta de perspectiva, a desolação, a corrupção e tantas outras situações e sentimentos destrutivos ceifam a vida humana. Toda essa gente forma um grande rebanho que precisa ser orientado e assistido. Em todas as épocas da história sempre existiu este povo sofredor.

        No tempo de Jesus também existia o rebanho dos oprimidos. O império romano não tinha piedade do povo, mas explorava-o cruelmente. Também muitos religiosos cometiam o mesmo pecado, explorando o povo. Este vivia abandonado, esperando que Deus enviasse o Libertador. Em Jesus, o povo encontrou uma palavra de orientação, conforto e salvação. Jesus pronunciava palavras de vida eterna, que despertavam e reanimavam a esperança das pessoas. Sensível às dores do povo, Jesus participava de seus sofrimentos.

        No seguimento de Jesus, a comunhão com os sofredores deste mundo é uma exigência fundamental. Quem deseja se colocar no caminho de Jesus deve saber que este caminho não está à margem do sofrimento humano. Em outros termos, o sofrimento humano integra o caminho de Jesus. Sem compadecer-se do outro, o discípulo de Jesus não se torna missionário. Compadecer-se não é sentir pena nem ficar lamentando. A compaixão não se encerra no mero sentir, mas exige um envolver-se com a realidade do próximo. Neste sentido, a compaixão provoca um deslocamento, um sair de si mesmo.

        Sair de si mesmo: eis o desafio da compaixão. Como sair de si mesmo se decidirmos viver no isolamento? Não é possível sair de si mesmo se estamos isolados em nossa zona de conforto. Se vivemos dedicados à busca de segurança para nossa vida pessoal, dificilmente poderemos ir ao encontro dos outros. Muitas vezes, esperamos que as pessoas possam vir até nós. Não estamos dispostos a sair, porque este sair incomoda. A tendência atual é que cada um permaneça no seu mundo, cuidando dos próprios interesses, sem conexão com os demais. A fé cristã é totalmente contrária a este estilo de vida, porque não pode ser praticada no individualismo. A fé em Jesus é incompatível com o egoísmo.

        A compaixão exige aproximação. Não basta ver, mas é necessário se aproximar. Esta aproximação confere o conhecimento da realidade dos outros. Enxergar de longe é atitude de quem não quer se comprometer. Quando vemos o caído e não nos aproximamos dele, é porque não queremos nos comprometer: passamos adiante, fingindo não ter visto nada. Quem perde a sensibilidade é incapaz de sentir compaixão. Uma pessoa insensível não enxerga os sofrimentos dos outros. Na verdade, o insensível não enxerga os outros em hipótese nenhuma, exceto quando precisa se aproveitar de uma ocasião para a satisfação de seus próprios interesses.

        Somente o fato de nos aproximarmos dos outros já é uma ação evangélica. Mesmo que não possamos resolver o problema, mesmo quando somos impotentes diante de determinadas situação que se mostram insolúveis; mas somente o fato de permanecermos com quem sofre, isto é compadecer-se, isto significa seguir Jesus. Trata-se de uma demonstração fática da comunhão fraterna: exigência da fé cristã. A compaixão nos faz entrar na dinâmica amorosa do encontro com os outros. É neste encontro que crescemos na fé, no amor e na esperança.

        Por fim, precisamos considerar que Jesus, o Bom Pastor, também se dirige a todos os pastores de nossas Igrejas. Estes não podem abandonar o rebanho sofrido e sedento de justiça e paz. Em Jeremias 23, 1, a advertência divina é clara: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!” Todos os que se colocam a serviço do pastoreio do povo de Deus devem estar atentos: Não se deve deixar perder-se e dispersar-se o rebanho do Senhor.

Diante de Deus, cada pastor prestará contas do que fez com o rebanho. Assim, toda pessoa que desejar servir como pastor no seio do povo de Deus deve saber, antecipadamente, que o mandamento de Deus pede que se cuide, com todas as forças e com o coração cheio de amor, do rebanho divino, que peregrina neste mundo rumo ao Reino definitivo.

O desejo de Deus é a vida do seu rebanho, e para que este continue firme e forte na caminhada, mulheres e homens são escolhidos e eleitos para pastorear, enviando-os para cuidar com o mesmo cuidado que Jesus teve em sua missão terrestre. O Deus que chama e envia, é o mesmo que, por meio do Espírito Santo, mantém fieis os que são enviados em missão. O rebanho necessita de bons e santos pastores.


Tiago de França

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