domingo, 23 de setembro de 2018

CARTA ABERTA SOBRE AS ELEIÇÕES 2018

“Se você é neutro em situações de injustiças, você escolhe o lado do opressor”.

Desmond Tutu, Nobel da Paz 1984.

Amigos/as,

        Nesta Carta Aberta quero compartilhar, em breves linhas, uma questão que tem me deixado inquieto e preocupado, desde o dia do registro das candidaturas à presidência da República. Nesta Carta, quero me dirigir, especialmente, aqueles que professam a fé em Jesus Cristo, como membros de qualquer Igreja cristã. Não importa a qual Igreja você pertença, pois todo cristão tem a mesma fé em Jesus. O que muda é a forma como esta fé se manifesta. Só há uma fé cristã, pois um mesmo é o Senhor de todos, Jesus, o Messias enviado pelo Pai.

        Quero apelar para o bom senso e para a reta consciência de cada um, considerando os riscos a que estamos expostos, neste momento difícil de nossa história. O cenário eleitoral deste ano está marcado por candidaturas de todo tipo, visando o preenchimento das vagas para as assembleias legislativas nos Estados, a Câmara dos deputados e Senado Federal, governos estaduais e presidência da República. Temos bons cidadãos concorrendo a estas vagas, bem como políticos novos e antigos, reconhecidamente corruptos e conhecidos por praticamente toda a população. Não quero aqui elencar os nomes, pois não caberiam no espaço desta Carta.

        Antes de falar da fé cristã e o voto em Jair Bolsonaro, quero chamar a atenção para a importância de boas escolhas de políticos para os cargos de deputado estadual, federal e senador. O governador precisa da assembleia legislativa para governar. Ele não governa sozinho. O mesmo ocorre com o Presidente da República: necessita do trabalho e da colaboração dos deputados federais e senadores. O Presidente não cria leis, mas apenas as executa e administra o orçamento público devidamente aprovado no Parlamento (Câmara e Senado). Deputados e senadores criam leis, fiscalizam o Presidente e desenvolvem outras funções importantes para o andamento do País. Por isso, façam boas escolhas ao votarem para os cargos do Legislativo.

        Você que leva a sério a fé cristã, seguindo Jesus no seio de uma determinada Igreja, católica ou protestante, considere as seguintes questões: De acordo com a mensagem de Jesus, presente no seu Evangelho, pode um cristão ser favorável à tortura? É correta a atitude de um cristão que cultiva a cultura do ódio? É permitido ao cristão ser favorável à pena de morte e à prisão perpétua? Pode um cristão afirmar que a mulher é inferior ao homem, tentando, assim, justificar que no mercado de trabalho deva ela ter um salário menor que o do homem, desempenhando a mesma função? É correta a atitude do cristão que deseja a morte de outras pessoas que não compartilham das suas ideias e posicionamentos? Pode o cristão ser favorável à ditadura militar, que em vários países da América latina, inclusive o Brasil (de 1964 a 1985), ceifou a vida de milhares de pessoas contrárias ao regime? É correta a atitude do cristão que possui e apoia posturas autoritárias e violadoras das liberdades e dos direitos e garantias fundamentais? Pode o cristão se utilizar do nome de Deus para enganar e se aproveitar da boa fé das pessoas, visando ganhar a eleição? É coerente a atitude de quem afirma ter Deus no coração, e no espaço público desrespeita e agride as pessoas?

        Amigos e amigas, se você leva a sério a fé que tem em Jesus, sabe que o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é a regra de vida de todo cristão. O amor é a lei do cristão. Nada substitui o amor. Sabemos bem que quem realmente acredita em Deus e vive segundo os seus ensinamentos e segundo o seu amor, não pode ser conivente com tudo aquilo que fere e tira a vida das pessoas. Desse modo, a tortura, a cultura do ódio, a pena de morte, a prisão perpétua, a desrespeito às mulheres, o desejar a morte dos outros, os regimes ditatoriais, o autoritarismo, a violação das liberdades individuais e coletivas, a violação dos direitos e garantias fundamentais, o uso indevido do nome de Deus, e a rejeição das diferenças e da diversidade são atitudes contrárias à fé cristã. Quem segue Jesus não deve aderir a tais posturas.

        No campo político, o seguidor de Jesus deve abraçar a verdade e a liberdade, a justiça e o amor, a cultura do encontro e da solidariedade, do respeito às diferenças e da promoção da vida em todas as suas dimensões. A postura de quem segue Jesus e afirma ter Deus no coração é mercada pela doçura, mansidão, respeito, abertura, reciprocidade, suavidade, afeto, fé que se traduz em atos e não em meros discursos, acolhida e ternura. Quem crê em Jesus não se habitua a ser violento com os outros. Jesus não era violento nem promoveu a cultura da violência, mas denunciou, com firmeza e mansidão, a violência que os poderosos do império romano praticavam contra os pobres.

        Amigos e amigas, o Brasil não pode ser governado por um Presidente que não reconhece a banalidade do mal presente na ditadura militar que violentou o povo brasileiro por vinte e um anos. Negar que houve a ditadura militar é abrir a possibilidade de que a mesma experiência terrível se repita. O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro é general da reserva do exército. Muito antes de ser escolhido para ser o candidato a vice, em diversas ocasiões, tem demonstrado que seria uma verdadeira tragédia a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições deste ano. Personalidades importantes, de diversas áreas do conhecimento e das artes, no Brasil e no exterior, tem alertado para este risco. Todos são unânimes ao afirmar, categoricamente, que Jair Bolsonaro e seu vice representam uma gravíssima ameaça à democracia brasileira e à América latina.

        Por fim, caros amigos e prezadas amigas, além da incompatibilidade com a fé em Jesus acima descrita, quero fazer referência a outro ponto, que também é muito grave: Jair Bolsonaro não pensa nos mais pobres. Em nenhum momento da sua campanha e da sua longa trajetória política (há 28 anos como deputado), ele se referiu nem se refere aos pobres. Suas promessas e propostas inviáveis somente visam prejudicar os mais pobres.

Para citar somente uma delas: a promessa de que, se eleito, o “cidadão de bem” terá uma arma de fogo para se defender dos criminosos. Todos sabemos que os pobres não tem condições de comprar armas e munições. Todos sabemos que armas só servem para matar. Sabemos também que não é com armas que se combate a violência. É dever do Estado e não do cidadão cuidar da segurança pública. Para esta área, o candidato não tem uma proposta sequer que seja razoável e que possa ser implementada. Além disso, também sabemos que o Presidente da República não tem, sozinho, o poder de liberar, irresponsavelmente, o acesso às armas. Quem quiser um exemplo de país no qual o poder das armas não resolve o problema da violência, basta analisar e considerar a situação dos Estados Unidos da América: lá o acesso às armas é praticamente livre, e a consequência é que aquele país é um dos mais violentos e inseguros do mundo.

        Não quero finalizar esta Carta Aberta, recomendando o voto em um determinado candidato. O voto é livre e secreto. O que recomendo é que não votem em candidatos que não olham para os pobres. A maioria do povo brasileiro é pobre, e o futuro Presidente da República precisa demonstrar, com clareza e com propostas viáveis e convincentes, interesse em trabalhar, incansavelmente, para reduzir as alarmantes e escandalosas desigualdades sociais que assolam o País. Jair Bolsonaro, durante seus 28 anos de vida parlamentar em Brasília, nunca fez nada de significativo para o bem do País.

Os levantamentos que se fazem sobre a sua pífia atuação mostram que sequer fez alguma coisa pelo Estado do Rio Janeiro, seu Estado de origem e representação. Nunca conseguiu aprovar um projeto para ajudar o povo daquele sofrido Estado a se libertar da crise e da violência. Ser Presidente da República não é para qualquer um. É necessário ser competente (saber fazer), verdadeiramente honesto, ter projeto, querer promover a igualdade e a soberania nacional, ser uma pessoa que realmente deseja o bem comum, que é o bem de todos os brasileiros, e não de uma parcela da sociedade (a elite do dinheiro). Não precisamos de um herói, mentiroso e dado a frases de efeito. Precisamos de um Presidente que tenha projeto, que saiba explicá-lo e implementá-lo, caso eleito.

        Por isso, amigos e amigas, votemos com consciência! Sejamos responsáveis com o nosso voto. Pensemos no bem de todos. Tomemos cuidado com o que vamos fazer nas urnas! Todos somos responsáveis pelo Brasil. Esta é a nossa pátria, e é nela que vivemos. Sejamos responsáveis, coerentes, conscientes e consequentes.

        Recebam meu abraço fraterno e minha prece.

Tiago de França

Desde Belo Horizonte – MG, 23 de setembro de 2018.

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