quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Resultado do 1º turno das eleições 2018


   
     O resultado do 1º turno das eleições 2018 não trouxe muita novidade. Analisando os números, nomes e partidos, constatamos algumas evidências que nos preocupam, apesar de que o cenário já era esperado. Cresceu o número de políticos conservadores. Esta parece ser uma tendência mundial. Há uma onda conservadora tomando a política. Estes políticos, para se elegerem e reelegerem, usaram das mesmas táticas de sempre: aproveitaram-se do medo e da ignorância da grande maioria da população; exploraram o tema da família, da violência, do combate ao comunismo e à corrupção e da fé religiosa das pessoas.

        Estes foram os temas mais recorrentes. O resultado foi a vitória expressiva de militares e protestantes, especialmente líderes religiosos. Também foram eleitos e reeleitos, inúmeros políticos alinhados com o discurso do ódio às minorias presentes na sociedade brasileira. Nas falas e posturas, durante a campanha eleitoral, eles não tiveram vergonha de expor seus preconceitos e fobias. E foram aplaudidos de pé. O político tradicional quer uma sociedade “ordeira”, no sentido de ordenada, homogênea, uniforme. Fala-se que todo mundo tem que ser cristão, não ao modo do Evangelho, mas ao modo violento do falso cristianismo. Misturou-se política com proselitismo religioso, e esta mistura criou um discurso alicerçado na intolerância.

        Este discurso é formado com frases de efeito, tais como: “Bandido bom é bandido morto!”; “Lugar de bandido é na cadeia!”; “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”; “Vamos esmagar os inimigos de Jesus!”; “O Brasil tem que aceitar Jesus!”; “Nossa bandeira não pode ser vermelha!”; “Vamos mudar o Brasil nem que seja na bala” etc. Estas e tantas outras expressões revelam a índole dos inúmeros políticos eleitos. São pessoas eleitas por uma população que foi às urnas e, sem visão nenhuma da realidade (salvo exceções, para fazer justiça), entregou o País nas mãos de gente que tem sede de sangue e desejam que a maioria esmague as minorias, submetendo-as à eterna humilhação.

        Curiosamente, muitos dos políticos eleitos, que adotaram um discurso conservador e de combate à corrupção, são pessoas imorais e corruptas. Muitos deles já são réus em processos judiciais, e envolvidos em escândalos de toda ordem. No Brasil, os políticos zombam da justiça e da ingenuidade do eleitor: Muitos roubaram dinheiro público, mas, durante a campanha, defenderam operações policiais de combate à corrupção. Alguns até se referiram e elogiaram operações como a Lava Jato para falar da sua “predileção” pela justiça e pela honestidade. Vários foram eleitos. Os que não foram, apesar dos muitos votos recebidos, ficaram esperançosos para as próximas eleições. Devido às vagas serem limitadas, muitos corruptos não puderam ocupá-las desta vez.

        Por outro lado, o povo conseguiu eleger figuras importantes para continuar defendendo seus legítimos interesses. Foi o caso de muitos deputados eleitos, bem como alguns senadores. Trata-se de uma minoria que já estava comprometida com as lutas do povo, nas várias atividades e/ou bandeiras populares: moradia, causas indígenas, educação, saúde, luta pela terra, direitos das mulheres e dos negros, juventude, combate à criminalização dos pobres, comunidade LGBT etc. Também alguns governadores dedicados ao povo foram eleitos e reeleitos, principalmente no Nordeste. Estes personagens mostram que nem tudo está perdido na política. Nos poderes executivo e legislativo temos excelentes pessoas, que cumprem, honradamente, a sua missão na política.

        Para o cargo de Presidente da República, os votos se concentraram em três candidatos: Ciro Gomes, do PDT (12,47%), Fernando Haddad, do PT (29,28%) e Jair Bolsonaro, do PSL (46,03%). Os demais candidatos não tiveram votação expressiva. O povo levou a eleição para o 2º turno, que ocorrerá no dia 28 de outubro. Pela primeira vez na história das eleições brasileiras ocorrem dois fenômenos, que cremos ser necessário considerar. Primeiro, um candidato que, sem apresentar propostas detalhadas e sem participação significativa em debates, ficou em primeiro lugar. Estamos falando de Jair Bolsonaro, filiado a um partido até então considerado “nanico”, que era pouco conhecido pelos brasileiros.

        O candidato foi ganhando notoriedade devido às suas falas polêmicas na Internet. Basta digitar seu nome no YouTube ou no Google, que logo se ver uma enxurrada de falas e posturas polêmicas, pouco civilizadas e dadas a reforçar o discurso de ódio, que separa as pessoas e causa um verdadeiro caos social. Em um País marcado pela ignorância, oriunda da falta de educação de qualidade e de apreço à informação substanciosa e verdadeira, as falas do candidato levaram multidões ao êxtase, verdadeiras alucinações de massa.

Gestos e palavras de ordem, simulando violência, levaram muitas pessoas a crer que o candidato vai mesmo “acabar com todos os bandidos” do Brasil! Estas mesmas pessoas não quiserem e nem querem nem saber como o candidato fará isso, caso eleito, mas somente a promessa lhes causa certo alívio, pois estão mergulhadas no lamaçal da violência, uma constante do cotidiano dos brasileiros. Com propostas simplistas para problemas complexos, o candidato ganhou a simpatia e o voto de milhões de brasileiros. Quanto aos demais problemas, as pessoas nem perceberam que ele não nenhuma apresentou proposta viável. A impressão que há é a de que o único problema que afeta o Brasil é a violência. Mera ilusão.

Integrando, ainda, este primeiro fenômeno, também tivemos as chamadas fake news (notícias falsas), que circularam livremente e de forma mais intensa, na medida em que o dia das eleições foi se aproximando. O WhatsApp se transformou num poderoso veículo de compartilhamento de calúnia, injúria e difamação. A maioria das notícias falsas tinham o objetivo de desconstruir a imagem do candidato do PT à presidência. Portanto, foi a candidatura mais prejudicada. A Justiça Eleitoral, que tinha prometido ser rigorosa na apuração e punição daqueles que espalhassem notícias falsas durante as eleições, não cumpriu com sua promessa. Diante da quantidade de notícias falsas, o que se apurou até agora parece insignificante.

O segundo fenômeno a ser considerado é a ida do candidato do PT ao 2º turno das eleições. O ex-presidente Lula apostou, de última hora, na possibilidade de seu escolhido, Fernando Haddad, ser eleito presidente do Brasil, mesmo sabendo que a mídia e seus adversários na disputa, iriam, como, de fato, exploraram muito bem, o fato de o escolhido ser orientado pelo ex-presidente, desde a prisão, em Curitiba. Político experiente e conhecedor do povo brasileiro, o ex-presidente Lula teve êxito na sua escolha e jogada política, até o momento. Conseguiu, apesar de tudo, levar seu candidato ao 2° turno das eleições. Isso nunca ocorreu na história do Brasil. É importante lembrar ao leitor que este mesmo ex-presidente, com sua força política e carisma peculiar, conseguiu eleger e reeleger a ex-presidenta Dilma Rouseff.

Graças à expressiva votação que teve no Nordeste, Fernando Haddad conseguiu chegar ao 2º turno. A maioria dos nordestinos se mostrou fiel ao ex-presidente Lula, por seus grandes feitos naquela região, quando de sua passagem pela presidência, de 2003 a 2010. A passagem do ex-presidente pela região, antes de sua prisão, reacendeu a esperança do povo. Nestas eleições, o povo depositou a mesma confiança na pessoa de Fernando Haddad. Por este motivo, imediatamente após as eleições, os nordestinos voltaram a ser alvos de ataques preconceituosos nas redes sociais; ataques feitos por pessoas das regiões sul e sudeste, principalmente, que votaram no candidato Jair Bolsonaro.

Agora estamos na marcha para o 2º turno. Até o presente momento, o candidato Jair Bolsonaro se utiliza da mesma tática: tom agressivo, ausência de propostas viáveis, bem como sinaliza que continuará ausente nos debates. Acentua-se cada vez mais certo estranhamento entre ele e seu vice, o general Mourão. Desde o dia da confirmação deste como candidato a vice, os dois andam se desentendendo. Um é mais fechado que o outro. São dois bicudos que defendem ideias extremistas em um País carente de democracia.

A primeira pesquisa de intenção de votos, feita e publicada pelo Datafolha, revela que milhões de brasileiros continuam anestesiados, seduzidos pelas ideias antidemocráticas do capitão de reserva do exército, que assessorado por vários generais do exército, deseja ser presidente do Brasil. Sua candidatura pode ser resumida em três palavras: militarismo, entreguismo e neoliberalismo. Se o povo não abrir os olhos daqui para o dia 28 de outubro, assistiremos, certamente, ao pior retrocesso político da história brasileira. E a partir de janeiro, se o capitão for empossado, assistiremos ao início da morte sistemática e progressiva de nossa jovem e sofrida democracia. A decisão está nas mãos do povo tão iludido e enganado.

Tiago de França

Nenhum comentário: