O resultado do 1º turno das
eleições 2018 não trouxe muita novidade. Analisando os números, nomes e
partidos, constatamos algumas evidências que nos preocupam, apesar de que o
cenário já era esperado. Cresceu o número de políticos conservadores. Esta parece
ser uma tendência mundial. Há uma onda conservadora tomando a política. Estes políticos,
para se elegerem e reelegerem, usaram das mesmas táticas de sempre:
aproveitaram-se do medo e da ignorância da grande maioria da população;
exploraram o tema da família, da violência, do combate ao comunismo e à
corrupção e da fé religiosa das pessoas.
Estes foram os temas mais recorrentes. O resultado foi a
vitória expressiva de militares e protestantes, especialmente líderes
religiosos. Também foram eleitos e reeleitos, inúmeros políticos alinhados com
o discurso do ódio às minorias presentes na sociedade brasileira. Nas falas e
posturas, durante a campanha eleitoral, eles não tiveram vergonha de expor seus
preconceitos e fobias. E foram aplaudidos de pé. O político tradicional quer
uma sociedade “ordeira”, no sentido de ordenada, homogênea, uniforme. Fala-se
que todo mundo tem que ser cristão, não ao modo do Evangelho, mas ao modo
violento do falso cristianismo. Misturou-se política com proselitismo
religioso, e esta mistura criou um discurso alicerçado na intolerância.
Este discurso é formado com frases de efeito, tais como: “Bandido
bom é bandido morto!”; “Lugar de bandido é na cadeia!”; “O Brasil acima de
tudo, Deus acima de todos!”; “Vamos esmagar os inimigos de Jesus!”; “O Brasil
tem que aceitar Jesus!”; “Nossa bandeira não pode ser vermelha!”; “Vamos mudar
o Brasil nem que seja na bala” etc. Estas e tantas outras expressões revelam a
índole dos inúmeros políticos eleitos. São pessoas eleitas por uma população
que foi às urnas e, sem visão nenhuma da realidade (salvo exceções, para fazer
justiça), entregou o País nas mãos de gente que tem sede de sangue e desejam
que a maioria esmague as minorias, submetendo-as à eterna humilhação.
Curiosamente, muitos dos políticos eleitos, que adotaram um
discurso conservador e de combate à corrupção, são pessoas imorais e corruptas.
Muitos deles já são réus em processos judiciais, e envolvidos em escândalos de
toda ordem. No Brasil, os políticos zombam da justiça e da ingenuidade do
eleitor: Muitos roubaram dinheiro público, mas, durante a campanha, defenderam
operações policiais de combate à corrupção. Alguns até se referiram e elogiaram
operações como a Lava Jato para falar da sua “predileção” pela justiça e pela
honestidade. Vários foram eleitos. Os que não foram, apesar dos muitos votos
recebidos, ficaram esperançosos para as próximas eleições. Devido às vagas
serem limitadas, muitos corruptos não puderam ocupá-las desta vez.
Por outro lado, o povo conseguiu eleger figuras importantes
para continuar defendendo seus legítimos interesses. Foi o caso de muitos
deputados eleitos, bem como alguns senadores. Trata-se de uma minoria que já
estava comprometida com as lutas do povo, nas várias atividades e/ou bandeiras
populares: moradia, causas indígenas, educação, saúde, luta pela terra,
direitos das mulheres e dos negros, juventude, combate à criminalização dos
pobres, comunidade LGBT etc. Também alguns governadores dedicados ao povo foram
eleitos e reeleitos, principalmente no Nordeste. Estes personagens mostram que
nem tudo está perdido na política. Nos poderes executivo e legislativo temos
excelentes pessoas, que cumprem, honradamente, a sua missão na política.
Para o cargo de Presidente da República,
os votos se concentraram em três candidatos: Ciro Gomes, do PDT (12,47%),
Fernando Haddad, do PT (29,28%) e Jair Bolsonaro, do PSL (46,03%). Os demais
candidatos não tiveram votação expressiva. O povo levou a eleição para o 2º
turno, que ocorrerá no dia 28 de outubro. Pela primeira vez na história das eleições
brasileiras ocorrem dois fenômenos, que cremos ser necessário considerar. Primeiro,
um candidato que, sem apresentar propostas detalhadas e sem participação
significativa em debates, ficou em primeiro lugar. Estamos falando de Jair
Bolsonaro, filiado a um partido até então considerado “nanico”, que era pouco
conhecido pelos brasileiros.
O candidato foi ganhando notoriedade
devido às suas falas polêmicas na Internet. Basta digitar seu nome no YouTube
ou no Google, que logo se ver uma enxurrada de falas e posturas polêmicas,
pouco civilizadas e dadas a reforçar o discurso de ódio, que separa as pessoas
e causa um verdadeiro caos social. Em um País marcado pela ignorância, oriunda
da falta de educação de qualidade e de apreço à informação substanciosa e
verdadeira, as falas do candidato levaram multidões ao êxtase, verdadeiras
alucinações de massa.
Gestos
e palavras de ordem, simulando violência, levaram muitas pessoas a crer que o
candidato vai mesmo “acabar com todos os bandidos” do Brasil! Estas mesmas
pessoas não quiserem e nem querem nem saber como o candidato fará isso, caso
eleito, mas somente a promessa lhes causa certo alívio, pois estão mergulhadas
no lamaçal da violência, uma constante do cotidiano dos brasileiros. Com propostas
simplistas para problemas complexos, o candidato ganhou a simpatia e o voto de
milhões de brasileiros. Quanto aos demais problemas, as pessoas nem perceberam
que ele não nenhuma apresentou proposta viável. A impressão que há é a de que o
único problema que afeta o Brasil é a violência. Mera ilusão.
Integrando,
ainda, este primeiro fenômeno, também tivemos as chamadas fake news (notícias
falsas), que circularam livremente e de forma mais intensa, na medida em que o
dia das eleições foi se aproximando. O WhatsApp se transformou num poderoso
veículo de compartilhamento de calúnia, injúria e difamação. A maioria das
notícias falsas tinham o objetivo de desconstruir a imagem do candidato do PT à
presidência. Portanto, foi a candidatura mais prejudicada. A Justiça Eleitoral,
que tinha prometido ser rigorosa na apuração e punição daqueles que espalhassem
notícias falsas durante as eleições, não cumpriu com sua promessa. Diante da
quantidade de notícias falsas, o que se apurou até agora parece insignificante.
O
segundo fenômeno a ser considerado é a ida do candidato do PT ao 2º turno das
eleições. O ex-presidente Lula apostou, de última hora, na possibilidade de seu
escolhido, Fernando Haddad, ser eleito presidente do Brasil, mesmo sabendo que
a mídia e seus adversários na disputa, iriam, como, de fato, exploraram muito
bem, o fato de o escolhido ser orientado pelo ex-presidente, desde a prisão, em
Curitiba. Político experiente e conhecedor do povo brasileiro, o ex-presidente
Lula teve êxito na sua escolha e jogada política, até o momento. Conseguiu,
apesar de tudo, levar seu candidato ao 2° turno das eleições. Isso nunca
ocorreu na história do Brasil. É importante lembrar ao leitor que este mesmo
ex-presidente, com sua força política e carisma peculiar, conseguiu eleger e
reeleger a ex-presidenta Dilma Rouseff.
Graças
à expressiva votação que teve no Nordeste, Fernando Haddad conseguiu chegar ao
2º turno. A maioria dos nordestinos se mostrou fiel ao ex-presidente Lula, por
seus grandes feitos naquela região, quando de sua passagem pela presidência, de
2003 a 2010. A passagem do ex-presidente pela região, antes de sua prisão,
reacendeu a esperança do povo. Nestas eleições, o povo depositou a mesma
confiança na pessoa de Fernando Haddad. Por este motivo, imediatamente após as
eleições, os nordestinos voltaram a ser alvos de ataques preconceituosos nas redes
sociais; ataques feitos por pessoas das regiões sul e sudeste, principalmente,
que votaram no candidato Jair Bolsonaro.
Agora
estamos na marcha para o 2º turno. Até o presente momento, o candidato Jair
Bolsonaro se utiliza da mesma tática: tom agressivo, ausência de propostas
viáveis, bem como sinaliza que continuará ausente nos debates. Acentua-se cada
vez mais certo estranhamento entre ele e seu vice, o general Mourão. Desde o
dia da confirmação deste como candidato a vice, os dois andam se desentendendo.
Um é mais fechado que o outro. São dois bicudos que defendem ideias extremistas
em um País carente de democracia.
A
primeira pesquisa de intenção de votos, feita e publicada pelo Datafolha,
revela que milhões de brasileiros continuam anestesiados, seduzidos pelas
ideias antidemocráticas do capitão de reserva do exército, que assessorado por
vários generais do exército, deseja ser presidente do Brasil. Sua candidatura
pode ser resumida em três palavras: militarismo, entreguismo e neoliberalismo. Se
o povo não abrir os olhos daqui para o dia 28 de outubro, assistiremos,
certamente, ao pior retrocesso político da história brasileira. E a partir de
janeiro, se o capitão for empossado, assistiremos ao início da morte
sistemática e progressiva de nossa jovem e sofrida democracia. A decisão está
nas mãos do povo tão iludido e enganado.
Tiago de França
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