quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O chamado à santidade


     
      A santidade não é um privilégio reservado a poucas pessoas, mas um chamado universal. Não é um convite para vivermos ocupados com coisas de outro mundo. Também não é oportunidade para vivermos fugindo e negando este mundo. Quem tem aversão ao mundo não pode dizer que trilha o caminho da santidade. O mundo não é obra de Satanás, mas obra divina. Foi para sermos sal da terra e luz do mundo que fomos chamados.

        Para ser santo, não é preciso ser papa, bispo ou padre. Estes também são chamados à santidade, mas a condição de ministro não é necessária para atender ao chamamento divino. Em muitos casos, a condição de ministro mais atrapalha que ajuda no caminho que conduz a Deus. Mas seria muito bom que todos os ministros da Casa do Senhor pudessem ser santos. A Igreja, Casa do Senhor, precisa de mulheres e homens santos.

        Ser santo não é ser perfeito. A perfeição é um atributo divino, homem nenhum a alcança. Todos já nascemos pecadores, e somos socorridos pela graça de Deus, que jamais nos abandona. É esta graça que nos purifica e nos ilumina. Todo aquele que escuta o chamado e se abre à graça santificante, encontra-se definitivamente com Deus e com Ele permanece para sempre. Quem encontra Deus jamais o perde, porque Ele não permite que nos percamos e nos separemos dele. É um caso de amor eterno.

        Santa é a pessoa que ama, e no amor se entrega. Não há santo fora do amor. É o amor que transforma a pessoa. A graça divina é o amor derramado nos corações das pessoas. Este amor é a única força capaz de dar segurança, tranquilidade e paz. É a rocha sobre a qual podemos construir, sem medo, a nossa vida. Quem ama conhece a Deus, e isto é maravilhoso. Não há palavras que possam descrever o sentimento profundo daquele que é amado por Deus. Não há como descrever.

        A graça de Deus vai conformando a nossa vida na direção de Deus. Iluminados e orientados por sua graça, caminhamos com e para Ele. Enamorar-se de Deus, eis o que isto significa. Quando envolvidos por esta graça que santifica, já não precisamos nos preocupar com absolutamente nada. Deus cuida de todas as coisas. É Ele que tudo direciona para o nosso bem. Ele também nos liberta do medo paralisante. Em Deus não há medo, e quem a Ele se entrega, também perde o medo.

        Os santos vivem a aventura do amor. Nesta aventura são santificados. Este amor não é abstração, mas comunhão com os outros. O encontro com os outros revela o amor de Deus por cada pessoa, por cada santo. Não há santidade fora da comunhão com os outros. Esta comunhão se revela na simples presença, no estar junto com os outros, no permanecer. 

Deus permanece conosco nos outros. Esta é a opção de Deus. Desse modo, não é santo aquele que se isola, para ficar orando o dia todo, contemplando no conforto das capelas e salas de oração. Orar é preciso, pois não há santo que não seja uma pessoa de oração. Mas não se santifica aquele que se utiliza da oração para fugir dos outros.

        O santo descobre que estar com os outros é uma forma de oração. Orar significa encontrar-se com Deus, e este encontro acontece de várias formas. A oração pessoal e comunitária são apenas duas formas de encontro com Deus. A solene liturgia faz bem aos sentidos e ao coração, mas não é a única forma de encontro com Deus. Muitas vezes, somente ao contemplar o sofrimento das pessoas, já estamos orando. Acompanhar o sofrimento das pessoas é uma sublime forma de oração, de encontro com Jesus crucificado.

        Poderíamos falar muitas outras coisas sobre a santidade, mas basta-nos concluir com a chave de leitura fundamental para a compreensão correta do chamado à vida santa: viver segundo o Espírito que sonda todas as coisas e nos faz santos no amor. Este é o segredo da santidade. Este Espírito infunde-nos a graça, é Ele mesmo a graça agindo em nós.

Ele tudo nos revela e nos faz verdadeiramente humanos e filhos de Deus. Quanto mais humanos, mais santos somos. A santidade é discreta e o santo vive em comunhão com Deus a partir das coisas simples da vida. Não se identifica o santo pela sua aparência. Jesus, o Santo de Deus, foi considerado um comilão e beberrão, amigo dos pecadores públicos. Os santos de Deus se parecem com Jesus, humanamente desfigurados e pouco atraentes. Assim são as coisas de Deus.

Tiago de França

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