domingo, 16 de novembro de 2008

Irmã Dorothy Stang, uma prova de amor pela vida


Todas as vezes que escuto falar do martírio da Irmã Dorothy Stang fico revoltado e ao mesmo tempo feliz. Revoltado porque o latifúndio parece um câncer incurável em nosso país. A situação é tão visível e a justiça brasileira parece não enxergar nada, funciona lentamente e absolve por unanimidade àqueles que são os verdadeiros culpados pelos crimes. São pouquíssimos os criminosos que são julgados e condenados por crimes ambientais neste país. No caso da Irmã Dorothy, os condenados foram os executores do crime, não os mandantes, que são os responsáveis pelo crime. Quem manda matar é que deve ser preso, porque uma vez absolvido encontrará outros pistoleiros para mandar matar outros profetas e profetisas que vivem denunciando tantas injustiças sociais e ambientais. A falta de justiça provoca revolta na população e a revolta destrói a paz. Isto explica o fato de o Brasil ser um país tão violento. Onde não há justiça, não há paz; porque a paz é fruto da justiça. A impunidade é um dos grandes problemas sociais do Brasil. Ela alimenta o ódio e a vingança dos homens que só pensam em destruir a natureza e contribuir com o fim da democracia brasileira. A impunidade afeta diretamente os direitos humanos, porque é um atentado à dignidade da natureza e da pessoa humana. Por outro lado, na morte da Irmã Dorothy encontramos a vida da natureza defendida por ela. É na morte que a vida nasce. É com a morte dos profetas e profetisas que a Igreja encontra forças para continuar na luta pelos direitos humanos. A morte da Irmã Dorothy reforça cada vez mais o espírito dos homens e mulheres de boa vontade, que com coragem e ousadia profética doam sua vida pela preservação da Terra, nossa Casa comum, e na luta dos direitos dos mais pobres e excluídos, que já não têm mais força nem voz para lutar. Se os criminosos e mandantes pensaram que matando a Irmã Dorothy acabariam com a luta pela vida da floresta, enganaram-se profundamente. Eles pensam dessa forma porque desconhecem a história dos mártires da Igreja ao longo dos séculos. Toda a Igreja necessita estudar, aprofundar, rezar e contemplar a vida e o testemunho dos mártires, porque a Igreja foi fundada sobre o sangue dos primeiros cristãos. A Igreja só existe por causa do sangue dos primeiros cristãos, que corajosamente enfrentaram o poder dos reis e imperadores em nome de Jesus e de seu Reino de amor e de justiça. Não valorizar o testemunho dos mártires é esquecer as origens da Igreja e trair o projeto original e fundacional. O mártir é aquele que dá testemunho da verdade e morre por ela. Sendo Jesus a verdade, todo mártir morre por Jesus e quem morre por ele tem a vida eterna. Por isso, com toda a certeza de nossa fé, a Irmã Dorothy faz parte da grande multidão que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro (cf. Apocalipse 7,14). Que que seu testemunho nos encoraje cada vez mais a sermos cristãos coerentes, fiéis observantes do mandamento de Jesus que é o AMOR.

Tiago de França

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