quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Advento: preparação para o Natal e parusia do Senhor


A Igreja reservou um tempo na liturgia para o cristão pensar, rezar e viver uma preparação para a vinda do Cristo e memorizar seu nascimento. Pensar no nascimento de Jesus é situá-lo em seu contexto histórico. Como Jesus veio ao mundo? Esta pergunta nos revela muitas coisas. Primeiro, Jesus não é um ser extraterrestre. Ele não pode ser identificado como uma entidade espiritual. Jesus é uma pessoa. Uma pessoa que tem duas naturezas e forma uma só realidade: ele foi humano e consubstancial ao Pai ao mesmo tempo. Ele se submeteu a tudo e a todos. Não fugiu de sua condição nem de sua realidade. Foi plenamente humano. O teólogo Leonardo Boff certo dia disse que “humano como Jesus só sendo Deus”. Ninguém foi perfeitamente tão humano quanto Jesus, o Nazareno. Não usou de sua igualdade para com Deus para aproveitar-se dos homens, alienando-os e explorando-os. Jesus teve a oportunidade de governar todo o mundo, mas não veio a este mundo com este projeto. O mundo já tem seus governos, ele não precisava tomar o poder de ninguém. Jesus recusou e condenou toda forma de poder que oprime o ser humano. E esta recusa o levou à morte de cruz, porque esta recusa estava acompanhada de denúncias explícitadas. O medo não fazia parte da vida de Jesus. Ele teve medo como todo ser humano tem, mas não se deixou dominar. Foi um homem plenamente corajoso e fiel aos desígnios de Deus. É este o Salvador que celebramos na Solenidade do Natal do Senhor todos os anos. O Advento é o momento litúrgico-espiritual no qual os católicos são convidados a esperar e vigiar.
A figura do profeta João Batista é muito forte no Advento do Senhor. Ele preparou o caminho para Jesus passar. E batizando o Messias no rio Jordão, confirma-o na missão. É a partir do batismo que Jesus inicia sua atividade missionária nos povoados, estradas e vilarejos. João Batista reconhece o Messias prometido pelos profetas. Realmente, Jesus confirma as profecias do Antigo Testamento apresentando-se como o missionário do Pai que veio evangelizar os pobres. Optando pela pobreza radical e pelas vias “impuras” de seu tempo, demonstra claramente de que lado Deus está. Os profetas diziam que Javé está do lado dos oprimidos e contra os opressores, e a ação missionária de Jesus confirma esta opção. Quem não ler e não acreditar em Jesus nesta perspectiva pode não entender Jesus e segui-lo de forma equivocada. O Advento chama-nos para a conversão neste sentido: é preciso revisar a maneira de vermos Jesus, para podermos mudar algumas atitudes antievangélicas.
A realidade do mundo atual exige de cada pessoa um repensar de posturas. A humanidade caminha por estradas que levam a morte. Celebrar a vigilância não é olhar para o céu e esperar que as nuvens se abram e de lá venha o Libertador da humanidade, aquele que resolverá todos os nossos problemas. Os problemas não são de Jesus, mas nossos. Ele caminha conosco e nos auxilia. Por que é que a transformação do mundo demora tanto para acontecer? Porque a grande maioria dos homens e mulheres não está agindo conforme seu credo e sua fé. Se formos analisar os milhões de pessoas que estão voltadas para o sagrado, mas nada fazem pelo bem comum do planeta é de se lamentar!... O homem pós-moderno precisa superar um dos piores males do sistema capitalista: o egoísmo. Um exemplo disso está na maneira como os norte-americanos vêem o mercado internacional e lidam com a crise financeira e moral: eles só se preocupam com o bem-estar deles. Não estão preocupados com as conseqüências do regime capitalista na vida dos países emergentes, que sofrem porque não suportam os impactos dos números milionários. Aí está a verdadeira crise que está por trás da crise financeira: a crise de humanidade. Vigiar significa está atento aos sinais dos tempos e alimentar a esperança de que outro mundo é possível. Que o Advento nos motive e nos reanime na caminhada, nos confirme na fé e nos fortaleça no seguimento de Jesus.


Tiago França

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