terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mercado da fé


Estive observando a realidade religiosa de Colônia Leopoldina - AL, desde que cheguei, há uma semana. Fortaleza, cidade em que realizo os estudos preparatórios para o sacerdócio, é uma capital onde há uma diversidade religiosa marcante. Colônia Leopoldina está numa situação semelhante, claro que em número muito menor. São dois os pontos que me chamam a atenção diante da pluralidade das ofertas religiosas em ambas as realidades:
1- O alto crescimento de seitas;
2- O grande número de migrações de pessoas nas mesmas.
O surgimento exacerbado de seitas aponta para dois graves problemas:
1 - As pessoas não têm certeza de sua fé nem têm espírito de pertença à sua igreja;
2 - Há uma forte carência espiritual que impulsiona as pessoas a buscarem soluções para seus problemas.
A partir de uma análise teológica da fé e da religião, observa-se um espírito fortíssimo de incerteza nas pessoas e em suas relações com a religião. Cada vez mais cresce na consciência das pessoas a idéia de que professar a fé é frequentar um templo, a fim de que Deus possa resolver os problemas que surgem. As igrejas ou seitas que surgem, têm como objetivo atender às necessidades temporais e espirituais das pessoas. A leitura bíblica que as seitas fazem é puramente deturpadora, ou seja, apresentam Jesus como fonte de solução para todos os problemas. Escutei, certa vez, o bispo Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, dizer: "Quanto mais você investir em Jesus, mais ele agirá em ti e em tua família". A fé, neste sentido, baseia-se numa troca: eu dou a Jesus uma quantidade de dinheiro e ele resolve os meus problemas financeiros e espirituais. Não há dúvidas de que se trata de um verdadeiro mercado religioso. Utiliza-se da boa fé das pessoas e da Palavra de Deus contida na Bíblia, para tirar das pessoas o dinheiro conseguido com muito suor. E no caso dos pobres, tira-se da boca do pobre aquilo que lhe resta para sobreviver. É uma triste realidade que cresce cada vez mais e que não corresponde à vontade de Deus. Pode-se perguntar: Por que esta realidade cresce tanto entre nós? A resposta não é nenhum mistério, porque os interesses são explícitos. Antes, precisamos partir do mandato de Jesus. O que Jesus pediu? Quem ler o Evangelho sabe que Jesus mandou anunciar a Boa Nova da salvação à toda a humanidade. Foi somente isto que Jesus pediu: EVANGELIZAR. É bom que fique claro: Jesus pediu para evangelizar, não para explorar as pessoas. Toda pregação e anúncio que visa pagamentos e retribuições é falso anúncio e exploração. Quem prega o Evangelho visando tirar das pessoas 10% ou mais de sua renda, é falso profeta e mentiroso. E não adianta usar a Bíblia para convencer as mentes daquelas pessoas que nada entendem da Bíblia. Jesus, no capítulo 10, versículo 13 do Evangelho de João chama de MERCENÁRIO todo aquele que engana e tira proveito do rebanho do Senhor. Quem é o rebanho do Senhor? É toda uma sociedade, que perseguida pelo sofrimento, procura em Deus ajuda e Nele deposita sua confiança, mas que encontra centenas e centenas de pastores e pastoras, que ao invés de ajudar, aprovoveitam-se da situação de sofrimento das mesmas. Além de ser um pecado horrível contra Deus, esta é uma realidade que se tornou uma injustiça social. São milhares as pessoas que são enganadas e que vão parar na justiça procurando recuperar as posses perdidas por falsas promessas de bênçãos. A situação se agrava porque percebe-se também uma onda de lavagens cerebrais, que tornam as pessoas convencidas de enriquecimento e curas absurdas. Os pastores e pastoras parecem dominar as forças divinas, realizando curas mentirosas e caluniosas, brincando com a Palavra de Deus. Não há dúvidas de que estamos diante de falsos profetas e falsos evangelizadores, apontados pelos evangelistas Mateus e João, juntamente com o Apóstolo Pedro. É preciso denunciar essa situação injusta e dizer para as pessoas que todo cristão é livre e que Deus condena tal abominação religiosa, que ao invés de libertar, escraviza cada vez mais.

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