quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dom Hélder e a esperança dos pobres


Nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909 em Fortaleza – Ceará. É importante entendermos o Ceará e o cearense para melhor compreendermos quem é Dom Hélder Pessoa Câmara. É no Ceará que encontramos Antônio Conselheiro, Padre José Antônio de Maria Ibiapina e Padre Cícero Romão Batista e Dom Hélder Câmara. Todos cearenses. O que estes homens têm em comum? Poderíamos citar várias qualidades que eles têm em comum, mas o espaço deste artigo é pequeno. Resumo todas as qualidades numa só marca: a caridade para com os pobres. A caridade é a marca indelével do cristão e fez parte da vida destes homens. Sem a caridade, a vida destes homens não teria sentido. Dom Hélder ensinou a Igreja a ser mais humilde e despojada. A Igreja assimilou o ensinamento de Dom Hélder, que era o ensinamento de Jesus?...

Foi seminarista, diácono, padre e bispo da Igreja. Foi um homem da Igreja. Converteu-se aos 56 anos de idade. Não foi uma conversão mágica, mas gradual. Uma conversão que se deu até a morte. A formação do Seminário da Prainha enquadrou Hélder Câmara naquilo que a doutrina tinha de mais conservadora e fechada, pois seus formadores eram fiéis à linha de reflexão tridentina vigente em seu tempo. O padre e o bispo Hélder Câmara aprendeu a ser pastor com os pobres. Foi no contato com os favelados do Rio de Janeiro e com o povo sofrido de Recife e Olinda que ele aprendeu a seguir Jesus. Ele não aprendeu a seguir Jesus com a Filosofia e a Teologia, porque este aprendizado se dá na prática cotidiana da caridade, uma prática perseverante. Com quem os seminaristas e os padres de hoje aprendem a serem pastores?...

Foi discípulo e missionário de Jesus Cristo. Quando Hélder Câmara despertou para a necessidade de reelaborar um novo conceito de Igreja e de ação pastoral junto aos pobres, ele tornou-se discípulo de Jesus. Quando ele, depois de ter refletido melhor suas posições e atitudes como Bispo da Igreja, convertendo-se a Jesus presente nos pobres, ele tornou-se missionário de Jesus. Como missionário, recebeu críticas e foi perseguido. Perseguido pela sociedade opressora e pela ala conservadora da Igreja, ligada ao poder. O “Irmão dos pobres”, conforme saudação do Papa João Paulo II, assumiu a missão de despertar a esperança nos corações dos pobres. Este despertar a esperança é missão profética assumida por poucas pessoas na Igreja. É preciso ter coragem e ousadia para despertar a esperança das minorias abraamicas, ensinava Dom Hélder Câmara. A Igreja de nossos dias está despertando a esperança dos vencidos e oprimidos de nossa sociedade?...

Foi poeta, profeta, escritor e místico. Dom Hélder Câmara foi um homem do silêncio, da palavra e dos gestos. No silêncio da madrugada, cotidianamente desde o tempo do Seminário, ele encontrava-se a sós com o Amado. Deixava-se envolver pelo mistério insondável da presença do Amado no mais profundo do seu ser. Na vida junto ao povo fazia as pessoas descobrirem que Deus estava com elas. Utilizava de todos os meios para despertar e alimentar a esperanças pobres: missas, encontros, palestras, conferências, poesias, conversas, passeatas, visitas etc. Todo seu ministério episcopal estava voltado para a construção de um outro mundo possível. Era um homem comunicativo, esperançoso, afetivo, cheio de ternura nas palavras, homem da escuta atenta às dores de seu povo. Em nossa atual evangelização, a quem estamos evangelizando?...

Recordar é viver. Lembrar de Dom Hélder é buscar reviver os valores evangélicos que ele deixou como legado da esperança, do contrário, todas as nossas homenagens serão puro saudosismo que nada constrói a não ser uma saudade sem sentido. Que o Espírito que impeliu Jesus ao deserto e levou Dom Hélder a ser um autêntico cristão nos leve também a vivermos o amor. Não um amor de palavras, documentos, teoria e aplausos, mas um amor de atos.

Tiago de França

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