domingo, 26 de abril de 2009

Refletindo a fé


Fui indagado por uma jovem católica a respeito de algumas questões de fé. Ela é da Paróquia de N. Sra. de Nazaré, bairro Montese, Fortaleza - CE. Partilho com vocês as indagações e as respostas dadas:

"Minha prezada Wannie,

Recebi tua mensagem. Tuas perguntas são valiosas e revelam o espírito inquieto de uma jovem que deseja ser uma cristã autêntica na Igreja. Isto é muito bom e agradável a Deus. A Igreja precisa de pessoas esclarecidas e autênticas. A autenticidade faz parte do caminho de Jesus. Autenticidade e coerência são dois valores que fazem parte do caminho de Jesus. Fico feliz pelas suas perguntas. Irei respondê-las, utilizando-me de uma linguagem simples, como fiz na primeira vez que conversamos no Colégio Piamarta.

Depois de ter lido, relido, meditado e rezado suas indagações, enumerei-as e refleti profundamente sobre elas. Assim sendo, você coloca as seguintes questões:

1. Sobre o "dizer-se tocada pelo Espírito Santo em outras Igrejas".
Olha,
Depois de Lutero a fé pode ser vivida em vários tipos de manifestações. A fé é única e são várias as formas de se manifestar esta fé. A fé cristã se dá no seguimento de Jesus e todas as Igrejas são chamadas a professarem esta verdade. As Igrejas de cunho pentecostal, assim como a Renovação Carismática Católica têm esta expressão do toque e da posse dos dons do Espírito Santo. Este Espírito não é propriedade particular de nenhuma das Igrejas Cristãs. O Espírito de Deus é livre e atuante nas pessoas e no mundo em que vivemos. Ninguém pode se apoderar do Espírito de Deus, porque como a Escritura diz, "o Espírito sopra onde quer e quando quer". Quem poderá se apoderar do dom Deus? Deus é livre e age na liberdade. Por isso, é preciso desmascarar esta falsa espiritualidade que assistimos atualmente em nossas Igrejas. O Espírito Santo virou "mercadoria" de comércio. Está havendo uma manipulação da fé e do Espírito. Não podemos negar a ação do Espírito de Deus. Mas ele não age segundo o que vemos na maioria dos casos. É verdade que todas as Igrejas podem ser assistidas pelo Espírito de Deus. O Espírito Santo não é propriedade da Igreja Católica, mas ele está nos cristãos a partir do batismo. Como discernirmos a ação do Espírito de Deus em nós? É simples. O Espírito de Deus nos leva a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O Espírito nos leva a servir nossos irmãos e irmãs que precisam de nós. É ele que nos capacita, imprindo em nós a graça divina, a amarmos os nossos irmãos. A grande maioria dos milagres, visões, êxtases, revelações que assistimos em nossas Igrejas é MENTIRA. Por quê? Porque o Espírito de Deus age no silêncio, age no fundo do coração das pessoas, age em suas vidas. O Espírito Santo não age isoladamente. Ele age conforme ele quer e não conforme nós queremos. Também não podemos duvidar, que há pessoas que são curadas, que experimentam o poder curativo da fé. Mas é a fé da pessoa em Deus que a faz uma pessoa renovada. O que as Igrejas passam? Elas usam do Espírito de Deus para se autoafirmarem e para glorificar seus pastorais e suas denominações religiosas. A falsidade está justamente aí, na manipulação do Espírito de Deus.

2. Sobre "O Espírito Santo e a unidade dos cristãos".
Olha,
Deus quer ver a unidade das pessoas e dos cristãos. A unidade dos cristãos é uma das metas da evangelização da Igreja. Mas o cristãos não se unem. Há um não-querer para com a unidade. Cada um se julga santo e justo aos olhos do mundo e de Deus e usam o Espírito Santo para legitimar essa desunião. Só que esta realidade é contrária à vontade de Deus. Toda desunião é antievangélica. O Espírito Santo NÃO suscitou a separação dos cristãos. Quem pensar que foi o Espírito que inspirou os protestantes a se separarem da Igreja, está muito enganado! Deus não é de uma religião, mas de todas. Ele é Pai de todos. O problema é que as Igrejas se autoafirmam de Deus. Mas, repito: Deus não criou nenhum sistema religioso neste mundo. Ele age no sistema religioso e pode até confirmá-lo, se o sistema religioso levar o homem a Deus. Religião, vem do latim religare, religar o homem a Deus. Mas todos os sistemas religiosos e doutrinas são obras humanas, que podem ser confirmadas por Deus se elevam o homem a Deus. Essa estória de dizer que o Espírito está aqui e não acolá, é contraditória. O Espírito de Deus está onde Ele quiser. Repito: o homem não pode manipular nem dominar o poder nem o Espírito de Deus.

3. Sobre "o vazio espiritual de muitos que praticam a religião".
Olha,
Muitas são as pessoas que não tem uma fé madura e consciente, mas que só vivem nas Igrejas. Há pessoas que são fiéis à pratica religiosa, mas não entendem sua fé nem a vivem coerentemente. Isto é muito grave. Para resolver tal situação precisamos saber o que Deus quer de nós. Precisamos saber o que Jesus pediu para fazer. É aquilo que eu disse: se a pessoa se apegar à prática religiosa e não VIVER no cotidiano da vida a opção de Jesus, ela se sentirá vazia. Há cristãos escravos da doutrina, cumprem-na fielmente, mas não amam a Deus como a si mesmo nem ao próximo. De que adianta isso? É inválida a prática religiosa que não elevar a pessoa a Deus e ao serviço fraterno. Os doutores da lei e fariseus eram assim. Jesus os acusa de "sepulcro caiados" e "filhos do diabo" (Cap. 8 do Evangeho de João). Por que Jesus os acusa? Porque eles só estavam preocupados com o cumprimento da lei e não com o mandamento do amor. É o amor que preenche o vazio da existência humana. Sem o amor, não há prática religiosa que dê sentido à existência do homem.

4. Sobre o surgimento de minha vocação sacerdotal.
Olha,
Faz muito tempo que desejo ser padre. Desde minha infância penso em ser um presbítero (sacerdote, padre) na Igreja. Sinto que Deus me chama a este serviço específico. Creio que Deus precisa de nós para a edificação de seu Reino entre nós. O sacerdócio ministerial é muito útil para que a Igreja se torne cada vez mais instrimento de salvação na humanidade. A centralidade da vocação ao ministério ordenado está no serviço ao próximo. Sem este serviço, não vale a pena ser padre na Igreja. Quando o padre não serve ao irmão e irmã necessitado/a, ele perde o sentido de seu ministério. Todos já somos sacerdotes pelo batismo. Somos um povo de sacerdotes, como nos ensinou o Apóstolo Pedro; mas na Igreja há a especificidade do sacerdócio. É verdade que a obrigatoriedade do celibato para os ministros ordenados é um pouco difícil de ser aceita, mas esta é uma questão de ordem disciplinar, que ao logo do tempo, a Igreja fará uma revisão. O tempo vai exigindo isso. Para tudo tem seu tempo! Quero ser padre porque me identifiquei com tal vocação e quero contribuir com a construção do Reino de Deus neste mundo dilacerado de dor e sofrimentos.

Espero ter respondido às suas indagações. Que o Deus da vida seja tudo para todos. Rezo ara que o Espírito do Senhor lhe mostre as veredas do caminho de Jesus e que você o siga de verdade e perseverantemente.

Receba meu abraço e a minha oração.

Abraços,

Tiago de França"

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