domingo, 3 de maio de 2009

Jesus, o bom pastor


"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas"(Jo 10,11). Estas são as primeiras palavras do texto do Evangelho deste Domingo do Bom Pastor. As palavras que mais me chamaram a atenção foram estas primeiras. O que elas significam para nós? Quem é o bom pastor? O que é um bom pastor? Quem são as ovelhas? Vamos pensar o texto e a nossa realidade, tendo Jesus como o centro desta breve reflexão.

Jesus é o bom pastor. Ele é o modelo de pastor. Durante todo o texto do Evangelho deste Domingo, Jo 10,11-18, Jesus sempre faz referência à doação da vida. A insistência de Jesus com a expressão "dar a vida" mostra que o bom pastor é aquele que dá a vida. O que quer dizer dar a vida? Dar a vida tem um sentido. Não é por acaso que o bom pastor deu a vida. Ele não deu a vida por si mesmo, em função de si mesmo, mas "por suas ovelhas". Quem são estas ovelhas?

É preciso insistir na idéia primeira: dar a vida. Parece que quem não quiser dar a vida, não pode ser pastor. A doação da vida é uma exigência para pastorear. Esta doação remete-nos ao cuidado, à responsabilidade, à acolhida, o estar junto, à escuta, à partilha de vida, à experiência. Isso mostra que o bom pastor é um homem de vivência. É um homem que vive a vida de suas ovelhas. O bom pastor é aquele que vive a vida de suas ovelhas, que na hora da agonia, da perseguição e das ameaças está presente, cuidando e protegendo. Dessa forma, o bom pastor sofre com suas ovelhas e se rejubila quando elas estão protegidas e felizes.

Na Igreja, os bons pastores são homens e mulheres que lideram e orientam as comunidades cristãs: coordenadores, catequistas, ministros, diáconos, freiras, padres, bispos, etc. São aqueles que caminham com o povo de Deus. Houve um tempo em que as ovelhas, entendidas como o povo de Deus, os cristãos em geral, eram tidas como pessoas passivas, que nada entendiam e que precisavam ser orientadas. Jesus fala no texto que as ovelhas conhecem a voz do bom pastor. Assim, as antigas ovelhas da Igreja precisavam escutar seus pastores, porque somente eles é que detinham o poder sagrado de orientá-las. Somente os pastores é que sabiam e as ovelhas deviam escutar e obedecer.

Com o Concílio Vaticano II e as Conferências do CELAM, a Igreja reavaliou esta postura e buscou reorientar a metodologia, porque descobriu que o método era ineficaz. Quem era ovelha passiva, agora é convidada a ser protagonista da história da Igreja e do processo de evangelização. É verdade que alguns pastores não gostaram da idéia. Alguns até não aceitam e dizem nas comunidades: "Aqui quem manda seu eu. Eu é que fui ordenado para dizer o que vocês devem fazer. Vocês não sabem de nada!" Estes pastores, com suas arrogantes expressões, se denunciam. Agindo dessa forma, provam que não querem dar a vida, mas conservá-la no pleno exercício do poder.

Neste Domingo do Bom Pastor, os que foram escolhidos para tal ofício, são convidados a fazerem uma autoavaliação de como estão exercendo seus ministérios. Devem perguntar-se: O que me motivou a ser pastor? Como estou exercendo tal encargo? É uma vocação ou uma profissão? Eu sou pastor ou mercenário? Os Bispos reuniram-se em Assembléia em Itaici - SP para refletirem um pouco sobre a formação dos padres na Igreja do Brasil. Queira Deus que esta tenha sido a preocupação: termos melhores pastores na missão, homens do serviço e da acolhida.

É preciso sermos profetas, por mais que isso nos custe a vida, para denunciarmos os falsos pastores. Quem são eles? São os mercenários. Jesus os denuncia no Evangelho de hoje. As Igrejas Cristãs de nossos dias têm muitos mercenários. Homens que aparentam ser bons pastores, mas não o são. Como identificar o bom pastor? Basta ver seu testemunho de doação. Se ele não doa a vida por suas ovelhas, então é mercenário. Um exemplo de pastora que deu a vida pela vida de suas ovelhas: Ir. Doroth Stang, mártir da fé em terras paraenses. Derramou seu sangue em nome da vida do povo de Deus. Foi levada ao matadouro e na agonia do Horto foi fiel a Jesus. Os mercenários são aqueles que usando do sagrado e da Palavra de Deus manipulam as pessoas, enriquecendo-se. Estes, por sua vez, costumam serem ricos, possuem muitos bens materiais. O bom pastor, do contrário, se parece com Jesus: humilde e despojado.

Diante das comodidades da vida pós-moderna torna-se cada vez mais difícil dar a vida pelo Reino de Deus. Os casos estão cada vez mais raros. As pessoas estão procurando salvar suas vidas, preservá-las. A vida cômoda e prazerosa sempre é mais fácil. Prega-se um Jesus próspero, que concede riquezas e prodígios aos fiéis dizimistas. Quanto mais se investe na fé, mais Jesus derrama suas bênçãos! Quanta mentira e ilusão!... A missão do autêntico cristão é denunciar com o testemunho esta cruel falsidade que está enganando a muitas pessoas nos vários templos bem ornamentados de nossas Igrejas. Estão fazendo o contrário daquilo que Jesus pediu.

Que o Espírito que levou Jesus a dar a vida pela vida do mundo nos impulsione e nos encoraje a sairmos do nosso comodismo e nos leve a darmos nossa vida por aquelas pessoas que nos são confiadas. Deus é bom e misericordioso, mas saibamos que prestaremos contas de nossa missão. Negar-se à ela é negar o próprio Cristo. É caminho sem volta para muitos, que descompromissados pela causa do Reino, procuram em nome de Deus salvar suas vidas, mas na verdade estão perdendo-se conscientemente.

Tiago de França

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