segunda-feira, 18 de maio de 2009

O jovem e a Igreja


Neste fim de semana estive em Bela Cruz, uma pequena cidade do interior do Ceará. Fui ao encontro da Juventude Marial Vicentina, que é um dos ramos da Família Vicentina. No sábado à noite falei para os jovens sobre a participação da Virgem Maria na vida de Jesus. No domingo à tarde conversei com os jovens sobre o tema “O jovem e a pós-modernidade”. Neste segundo encontro, uma pergunta feita por uma jovem me chamou a atenção e é o motivo desta breve reflexão. Perguntou a jovem: “O que a Igreja está fazendo pelos jovens?”

Trata-se de uma pergunta que leva a Igreja a pensar na situação atual da juventude. De uma coisa estou certo: os jovens não estão bem. A crise de valores que assola a humanidade tem nos jovens suas piores vítimas. A falta de uma consciência crítica diante da realidade deixa os jovens sem entender a vida e sem perspectivas. Constata-se que um grande número de jovens pensa muito pouco e não planeja nada para a vida. Há uma estagnação alienante que isola muitos jovens e os levam a caminhos obscuros.

Os jovens estão cada vez mais desacreditados diante dos escândalos das grandes instituições que regem a sociedade: política, religião e economia. Eles não acreditam mais nos governantes. Acusam a todos de serem corruptos e não crêem no poder do voto como fator de transformação da realidade. Eles acusam a Igreja e as demais denominações religiosas de serem capitalistas e de estarem distantes de seu mundo. Os jovens não entendem o linguajar da Igreja, assim como sua maneira de lidar com as questões de ordem moral. Apesar de serem consumistas e usuários dos bens produzidos pelo sistema capitalismo, os jovens reclamam da desumanização dos meios de comunicação, como fatores degenerativos de suas personalidades. Ao mesmo tempo em que usam e abusam dos meios pós-modernos de comunicação de massa, eles se sentem vazios e incompreendidos.

A Igreja tem suas prioridades institucionais e pastorais. Creio que seja urgente a revisão conceitual de alguns princípios morais que se tornaram moralizantes. As expressões “não cometa”, “condenamos”, “proibimos” etc. não são aceitas pelos jovens. Costumo dizer que quanto mais se proíbe e se condena, mais os jovens fazem aquilo que é proibido e condenado. A mudança de linguagem e abordagens de questões de ordem moral devem ser revistas pela Igreja. Os jovens não ligam para condenações e proibições, assim como não ligam para as sanções eclesiásticas. Eles dizem que a intenção da Igreja pode até ser boa e construtiva, mas a maneira de se abordar as questões é inaceitável. O jovem em si não se dá com leis, normas, códigos, etc. porque a construção da liberdade faz parte de suas vidas. Os jovens querem ser felizes, mas não entendem felicidade como sinônimo de enquadramento. É impossível enquadrar os jovens em leis e normas de ordem disciplinar.

A Igreja precisa dialogar com os jovens. Escutar o que os jovens têm para dizer. Estar atenta aos anseios dos jovens. É necessário construir com os jovens as normas que devem reger suas vidas. Toda lei ou norma que não levar em conta a realidade dos jovens não é aceita nem observada. Somente os jovens mais engajados da Renovação Carismática Católica e das novas Comunidades de Vida é que buscam ler e observar as orientações da Igreja em matéria de moral sexual. Os demais jovens, principalmente os que não freqüentam grupos e igrejas desconhecem tais orientações e quando tomam conhecimento das mesmas, recusam-se a aceitar e obedecer. Estou em contato com muitos jovens e percebo isto neles.

Os jovens não estão perdidos. Ninguém está perdido. Há uma crise de valores e de participação juvenil na vida da Igreja. A situação dos jovens é crítica e precisa ser considerada. O jovem precisa ser priorizado. Se a Igreja precisa de pastores para o trabalho na Messe do Senhor, então que cuide em pensar nos jovens e agir no meio deles. Não adianta convidar o jovem para o culto, pois ele não se sente motivado para participar. Os jovens precisam ser escutados e assistidos onde se encontram. Não há necessidade de se tirar o jovem de seu mundo para levá-lo ao mundo do louvor e da prece. O que os jovens querem é viver. Eles precisam de dignidade e esta se dá na vida cotidiana de cada um deles.


Tiago de França

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa reflexão! Vou encaminha-la!
Obrigado e hasta pronto!
Clefabio

Tiago de França disse...

Obrigado!
A intenção a ajudar a Igreja e o jovem a se integrarem cada vez mais, para juntos construirmos o Reino de Deus.