quarta-feira, 27 de maio de 2009

Por que e como orar?


A oração tem sido motivo de preocupação para muitas pessoas. Diante das tragédias do mundo atual e dos problemas que angustiam boa parte da humanidade, as pessoas estão buscando cada vez mais o sagrado. Há no homem um desejo natural de busca do transcendente. A compreensão e a busca de Deus sempre inquietaram o homem. O sentido da existência é questionado e o homem procura situar-se no tempo e na história.

A oração é um meio eficaz que as religiões se utilizam para encontrar-se com Deus, com o sagrado. Para aquele que crer em Deus, de forma especial, aqueles que acreditam no Deus Uno e Trino, sabemos que Deus atrai para si todas as criaturas da Criação. Tudo foi criado por Deus e existe em função de Deus. Deus é o centro da vida de quem nele crer e confia. Assim sendo, a comunhão com Deus por meio da oração torna-se uma necessidade do crente.

Uma vez comprovada a necessidade de se rezar, pois de Deus tudo recebemos e em Deus tudo somos, resta-se agora saber como rezar. Toda forma de oração é válida? Como explicar a situação de pessoas que muito rezam, mas que continuam se sentindo vazias e sem sentido para a vida? Podemos encontrar sentido para nossas vidas na oração? Nem toda forma de oração é válida, porque algumas deixam de ser oração. Para que nossa oração seja eficaz, precisamos conhecer melhor a Deus. É verdade que ninguém conhece plenamente a Deus, pois nossa razão é limitada no conhecimento de Deus. Apesar de ter se revelado aos homens, Deus continua sendo um mistério insondável.

O grande perigo está em criar uma imagem de Deus. A imagem de Deus não é Deus, mas suposição de nossa mente. Muitas pessoas criam um deus para si e o adoram. Às vezes, discordam ou não aceitam o Deus revelado por Jesus e criam um deus para si. Este deus criado torna-se ídolo e não responde a nada, porque é um falso deus, um deus imaginário. O desafio é acreditar no Deus revelado por Jesus e amá-lo sobre todas as coisas. Crer neste Deus com a vida.

Para bem rezarmos, precisamos também estar cientes de que Deus não precisa de nossas orações. Nós não rezamos para Deus. Deus não depende de nossas orações para ser ele mesmo. Deus é completo e somente ele basta-se a si mesmo. A nossa oração nada acrescenta ao ser de Deus. Nós é que precisamos rezar. A nossa oração é para o nosso bem. Costumo dizer que rezamos para nos tornar pessoas melhores. A oração ensina-nos a viver o amor de Deus. Se a nossa oração não estiver em função da vivência do amor, torna-se inválida e alienante.

Outro dado interessante sobre a oração é que esta deve estar ligada a vida do orante. Quem orar sem sintonia com o cotidiano da vida, não sabe rezar, mas fugir da vida por meio da oração. A oração não pode ser uma fuga do mundo. Há pessoas que rezam para fugir do mundo e esquecer os problemas da vida. A oração torna-se paliativo, momento de "repouso psicológico", em que se fecham os olhos e se esquece de tudo e de todos. Isto não é oração, mas relaxamento das tensões cotidianas.

A oração precisa ser um encontro natural com Deus. A relação com Deus se dá com naturalidade, apesar de ele não se encontrar como pessoa (de carne e osso) conosco na oração. Antes de tudo, é preciso confiar na presença de Deus e permitir que ele ore em nós. A oração não precisa de excesso de palavras. Muitas vezes, as pessoas falam demais na oração e falam tanto que se esquecem de escutar a Deus... Escutar a Deus exige silêncio da boca e do coração, principalmente do coração, pois Deus fala ao coração da pessoa. É preciso se envolver no silêncio orante em que Deus fala suave e certamente. É uma experiência infalível!

Cada pessoa tem sua experiência de oração, mas precisa prestar atenção à oração que realiza. A verdadeira oração leva-nos a comunhão com Deus que se dá na comunhão com nosso semelhante. Escutei de um padre casado e professor no Seminário da Prainha, o grande Prof. Lauro Motta (in memorian), que São João Maria Vianney, padroeiro dos padres dioceses e santo francês, estava diante do Santíssimo Sacramento numa igreja. E quando perguntado sobre o porquê de seu silêncio na oração, porque não falava nada ao rezar, somente olhava para o Santíssimo, então respondeu: "Minha oração é muito simples, eu olho para Jesus e Jesus olha para mim. Isto me basta". Eis um modelo de oração eficiente, vivido por um santo padre da Igreja.

A oração faz bem ao corpo e ao espírito. Se não sentirmo-nos bem ao rezarmos, então é bom que revisemos nosso jeito de rezar. A oração não pode fazer mal a ninguém. Ele é um diálogo aberto e disponível com Deus. Por meio da oração, Deus se faz presente em nosso ser e nos tornamos pessoas mais humanas e humanizadoras. Se a oração não nos ajuda a sermos pessoas melhores, a sermos cristãos autênticos, então é melhor não rezarmos. É por meio da oração que recebemos de Deus o Espírito que confirma nossa fé e nos ensina a amar.

Termino esta breve reflexão sobre a oração com as palavras de São Vicente de Paulo, homem de Deus e dos pobres, que assim conceituou, a partir de sua experiência de oração, o significado da oração interior: "A oração interior é: elevar alma e espírito a Deus. A alma vai se desprendendo devagar de si mesma, para procurar a Deus dentro de si. É um diálogo da alma com Deus, uma compreensão mútua, uma troca de idéias. Deus comunica à alma, interiormente, o que cada um deve saber e fazer. E a alma, de seu lado, confia a Deus, num diálogo silencioso, os próprios desejos, como Ele lhos ensinou. É tão preciosa, a oração interior. Simplesmente não há nada que seja mais importante" (IX, 419).



Tiago de França

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