sexta-feira, 12 de junho de 2009

Namorar e ficar


Hoje é o Dia dos Namorados. Pensei em escrever algo para os namorados. Não posso falar a partir de uma experiência pessoal e atual, pois sou seminarista. O celibato presbiteral nos coloca outra proposta, e desde a formação seminarística somos iniciados na vida celibatária. Em outras palavras, quero dizer que seminarista não deve namorar, tendo em vista a opção que fez, ou seja, caminhar para o sacerdócio ministerial. Mas esta não é a problemática que quero discorrer neste artigo.

Ultimamente, tenho tido contato com muitos jovens e assistido alguns casais de namorados e noivos. Confesso que a situação dos jovens enamorados é preocupante, pois há um relativismo sentimental. O que é isso? Os sentimentos que surgem entre os jovens no campo da afetividade e sexualidade são muito relativos, ou seja, sem profundidade e sem seriedade. Claro que há exceções. A maioria dos jovens procura curtir a vida. Este curtir significa viver sem pensar nas conseqüências dos atos praticados, ou seja, brincam com coisa séria.

Quase tudo é relativo entre os jovens, e dentro desta relatividade está o famoso ficar, que é o oposto de namorar. O ficar é passageiro e descompromissado. A falta de compromisso com os sentimentos do outro é algo grave quando se leva em consideração a maturidade humana. Esta falta de compromisso gera pessoas imaturas e instáveis, pessoas que não têm o privilégio de viver um sentimento duradouro e sério. Encarar a vida com seriedade é uma necessidade que se impõe para a vivência estável num momento incerto e cheio de inseguranças.

Infelizmente, os jovens descarregam suas energias em circunstâncias e sentimentos desnecessários e instáveis. A juventude pós-moderna está mergulhada na erotização. Há uma exacerbada exposição do corpo e o aliciamento sexual está presente nas relações entre os jovens. Os jovens estão se tratando como objetos de desejo sexual. As conversas, o olhar, o pensar, o agir, o sentir e o tocar estão implícitos, e às vezes, explicitamente ligados ao aliciamento, à idéia de sexo. O ficar torna as pessoas descartáveis. O mercado e a tecnologia oferecem todos os meios necessários e possíveis para a vivência das relações superficiais entre os jovens. Os meios mais usados são a internet, o celular, a moto, a moda, os shoppings, etc.

O ficar tem na relação sexual seu ápice. Enquanto o casal não “fizer amor”, não fizeram nada! A gíria é clara: “Mas fulano tem uma pegada!”... O preservativo é usado para proteger daquilo que é indesejável: doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Uma vez que o preservativo impede tais conseqüências, então os jovens “ficam a vontade”. Neste sentido, a Igreja acerta quando condena o uso da camisinha, tendo em vista que, talvez, se esta não existisse, os jovens fizessem menos sexo, pois tinham certo medo das doenças e da gravidez indesejada.

O namoro é uma relação que é chamada a ser durável e séria, pautada na construção do amor e no respeito mútuo. Trata-se do primeiro estágio de conhecimento recíproco, experiência necessária para o desenvolvimento do ser humano, enquanto ser sexuado. Creio que nem os eclesiásticos deveriam se privar da experiência afetiva do namoro! Antes da formação do seminário ou do convento, o namoro não desvia aquele que é chamado por Deus ao serviço do povo de Deus, afinal de contas, os eclesiásticos não são privados da sexualidade. Os votos e a consagração não nos destituem sexualmente. Somos seres sexuados da ponta dos pés até o fio de cabelo da cabeça! É no namoro que os jovens se conhecem, partilham os sonhos e pensamentos. Partilham as tristezas e alegrias das descobertas recíprocas de um relacionamento que tende para o estado matrimonial. É no namoro que os jovens aprendem a ser co-responsáveis e fiéis. Tal aprendizado se dá por toda a vida do casal, principalmente após a celebração das núpcias.

Seria muito bom se os jovens namorassem mais e ficassem menos. O namoro constrói a pessoa e o ficar fere a dignidade sexual da pessoa. É tão triste ver jovens mulheres, que chegado o dia do casamento, já não se lembram mais de quantas relações sexuais fizeram durante a vida pregressa... Diante disto, pergunto: Como essas jovens vão educar suas filhas? O que vão dizer para elas, quando as virem diante de homens que só querem conhecê-las sexualmente?... Isso também vale para os jovens homens, futuros pais. Não quero ser moralista, pois o moralismo não constrói, mas é urgente que os pais reflitam com seus filhos tal situação, pois somos filhos de Deus e somos pessoas, não objetos de desejo sexual de ninguém.


Tiago de França da Silva

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