domingo, 14 de junho de 2009

O Reino de Deus: pequenez e força


O texto do Evangelho deste XI Domingo do Tempo Comum é Mc 4, 26 – 34. A semente é usada por Jesus em duas parábolas para se entender o Reino de Deus. Jesus se utiliza de coisas das quais o povo tinha conhecimento, dos instrumentos do cotidiano da vida do povo. Desta vez, Jesus se utiliza da atividade do homem do campo para levar os ouvintes a entenderem a dinâmica do Reino de Deus. Este, por sua vez, tem uma dinâmica e uma lógica que, quem não entendê-las, também não vai compreender nem participar do Reino de Deus.

O mundo tem sua lógica própria, lógica esta que abarca todo ser humano numa cadeia de relações. Estas, por sua vez, são pautadas no interesse. Sempre os interesses pessoais e dos grupos superam o interesse pelo bem comum. Costumo dizer que a lógica do mundo tem suas características: competitividade, consumismo, materialismo, agressão ao meio ambiente, ganância, poder, prestígio etc. Os valores do Reino de Deus andam na contramão da lógica do mundo. Como ensina o biblista Carlos Mesters: “O Reino de Deus é caminhar com Jesus na contramão”. O mundo preza pela grandeza, pela multidão, pela globalização da desumanização da pessoa, ou seja, a opressão humana é um mal globalizado, porque o capitalismo chegou a toda parte e vitima milhões de pessoas.

O texto do Evangelho de hoje vem mostrar como o Reino de Deus se apresenta e se enraíza no mundo. A simplicidade dos pequenos acontecimentos da vida da comunidade cristã são sinais vivos do Reino de Deus acontecendo entre nós. Estes sinais são simples, humildes, mas muito significativos. A mídia não se interessa com estes sinais e quando os publica, deprecia-os enfaticamente. Um exemplo de sinal do Reino que acontece entre nós é a luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra pela Reforma Agrária no Brasil. Quando este Movimento aparece na mídia é tido como um movimento de baderneiros, de pessoas que invadem as propriedades alheias. Por que isto? Porque a mídia está a serviço da ideologia capitalista. Ela alicia para o consumismo e não está preocupada com a dignidade da pessoa. A pessoa é exposta em sua intimidade e vista como objeto de consumo.

O Evangelho fala que o Reino é como uma semente. O que é uma semente? Não é uma planta, mas algo aparentemente sem vida e sem brilho, mas quando semeada em terra fértil produz uma linda árvore, que produz muitos frutos. A semente da mostarda é citada no Evangelho e constitui a menor dentre todas as sementes, mas quando nasce e cresce, torna-se uma dentre as maiores árvores. O Reino de Deus é do mesmo jeito. Iniciou-se com um grupo de doze homens pobres e pecadores. A partir de uma leitura do Evangelho veremos que Jesus e os doze não significavam nada diante do poder imperial. Jesus e seu grupo não representavam nenhuma instituição, eram destituídos de poder. Não podiam nada, a não ser anunciar ao mundo o amor de Deus.

O Reino de Deus não está representado no exercício do poder temporal, tão corrompido pela ação humana, mas se manifesta no meio dos oprimidos deste mundo. Onde estão os oprimidos, aí está acontecendo o Reino de Deus. A luta incansável por justiça e paz em todas as partes do mundo é um sinal vivo do Reino de Deus acontecendo entre nós. Mas é preciso não se esquecer da semente, daquilo que é menor. Tudo é muito simples, não há espetáculos no Reino de Deus. Os espetáculos não têm ligação com o Reino de Deus, porque onde há espetáculo há prestígio e poder. No ano que vem teremos um grande espetáculo mundial, a Copa do Mundo. Só que não tem ligação com o Reino de Deus, porque não visa promover a dignidade humana. O povo africano mal consegue sobreviver, devido à fome, o clima, à pobreza, às doenças etc., mas terão que arcar, com a ajuda de outros países, com despesas altíssimas para receber o evento mundial. Terminada a Copa do Mundo de 2010, poderemos perguntar: A Copa mudou o cotidiano sofrido do povo africano?... Não tenho nada contra o futebol, mas investir milhões de dólares em construções de estádios e outros investimentos em detrimento da saúde, educação e desenvolvimento sustentável de uma nação é profundamente vergonhoso e lamentável.

Precisamos viver sempre mais os valores do Reino de Deus, pois a vida do mundo depende da vivência dos mesmos. E o valor supremo do Reino de Deus é o amor, pois somente pelo amor é que há promoção e preservação da vida humana. Quando amamos, vivemos a justiça, o perdão, a solidariedade, a partilha, o respeito, a unidade, a coletividade, etc. Toda pessoa que professa a fé em Jesus Cristo é convidada a semear com a vida os valores do Reino de Deus, pois o nascer destes sinais é a construção do Reino e quem se recusa a semeá-los não participa e nem participará da plenitude do Reino de Deus com a vinda definitiva de Jesus entre nós.


Tiago de França

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