domingo, 28 de junho de 2009

Solenidade de São Pedro e São Paulo


Celebrar São Pedro e São Paulo é falar de espiritualidade missionária, pois ambos foram missionários, principalmente São Paulo. Se analisarmos as personalidades destes Apóstolos, veremos que eram homens comuns, santos e pecadores. Pedro é famoso pela sua coragem. Homem casado (cf. Mt 8, 14), Pedro aceita o convite de Jesus para segui-lo. Em vários momentos demonstrou sua fraqueza no seguimento de Jesus. Cito duas ocasiões: sua falta de fé, quando quis andar sobre as águas (cf. Mt 14, 29 – 31) e quando traiu Jesus três vezes antes do catar do galo (cf. Mt 26, 69 – 75). Estas duas ocasiões mostram a condição humana e pecadora de Pedro. Já o Apóstolo Paulo de Tarso, antes de seguir Jesus e anunciá-lo ao mundo, era perseguidor dos cristãos (cf. At 26, 11). Depois de encontrar-se com Jesus no caminho de Damasco e de ter ficado cego até ser batizado, tornou-se cristão e perseguido. Homem letrado e fiel à educação recebida, São Paulo deixou-se conduzir pelo Espírito de Deus que o fez missionário entre os gentios. Estes dois homens têm muito a ensinar à Igreja que nasceu a partir deles e dos demais Apóstolos de Jesus.

É preciso entendermos que Jesus chamou homens pecadores para a missão. Jesus sabia muito bem o temperamento de Pedro, mas o confiou o pastoreio do rebanho. Não vejo Pedro como Chefe! Penso que foi um coordenador humilde e simples, servo de todos, que apesar das fragilidades inerentes à condição humana foi fiel ao chamado de Jesus até o fim, até o derramamento de sangue. O mesmo se pode dizer de Paulo de Tarso, um missionário livre e itinerante, fundador de muitas comunidades cristãs e escritor da verdade do Evangelho. Ambos foram missionários a partir da realidade em que viviam. Renunciaram ao medo, à covardia dos grandes, à acomodação e anunciaram com coragem e audácia o Evangelho da vida e da liberdade. É preciso se fazer uma releitura metodológica da atividade missionária dos Apóstolos de Jesus para que a missão da Igreja torne-se possível e eficiente. A fidelidade ao mandato missionário de Jesus exige fidelidade ao Evangelho, pois antes de anunciá-lo é preciso vivenciá-lo. Pedro e Paulo eram homens da palavra e da ação, eram profetas da palavra que incomoda aos opressores do povo de Deus e liberta os oprimidos da escravidão do pecado e do poder da morte. Este, manifesta-se neste mundo, por meio de sistemas e ideologias contrárias à verdade e aos valores do Reino de Deus.

No n. 17 da Constituição Dogmática Lumen gentium, do Concílio Ecumênico Vaticano II, está explícito o caráter missionário da Igreja. A Igreja é chamada a ser missionária, porque a sua natureza é missionária. Ela foi fundada por missionários e no contexto da missão. Os capítulos VI e VII do Documento de Aparecida (V CELAM) falam da missão da Igreja no mundo. Também a Encíclica Redemptoris missio, de João Paulo II também fala da missão da Igreja. Cito tais documentos para mostrar que a Igreja tem plena consciência da necessidade da missão. Diante disto, pergunto? A Igreja atualmente é missionária? Na Introdução da Redemptoris missio, João Paulo II responde que “a missão de Cristo redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento”. Olhando a história da Igreja veremos muitas mulheres e homens que foram verdadeiros missionários de Jesus Cristo. Cito dois exemplos de exímios missionários cristãos em terras estrangeiras: o padre francês São João Gabriel Perboyre (Lazarista) e o padre espanhol São Francisco Xavier (Jesuíta). O primeiro foi martirizado na China em setembro de 1840. Estes homens e tantos outros e outras, missionários e missionárias de Jesus, foram fiéis ao mandato permanente de Jesus.

A história não mente ao falar do pecado da Igreja em suas alianças com os poderes deste mundo. Até hoje e graças também às suas estruturas quase que imutáveis, a Igreja tem dificuldade de viver uma espiritualidade autenticamente missionária. A estrutura não é um problema em si, mas o problema está nas pessoas que se apegam às mesmas. Alguns teólogos apontam radicalmente para o problema das estruturas, pois graças a ela, a Igreja “estagnou-se”. O Documento de Aparecida fala de conversão pastoral e revisão de estruturas, mas na prática não vejo mudanças. Há pouco esforço para transformar as paróquias em comunidades de comunidades como pede o documento, para que a Igreja seja verdadeiramente missionária. O clero ainda não está preocupado com a missão, salvo algumas exceções.

Para que possamos viver uma espiritualidade missionária na Igreja, é preciso que ela se arrisque na missão, pois temos plena consciência da necessidade de sermos missionários, agora é hora de agirmos! Para agirmos missionariamente no contexto religioso em que vivemos precisamos renunciar às pastorais de manutenção a que estamos acostumados. O que precisamos manter? Precisamos nos manter corajosos e audaciosos para a missão. Esta deve ser nossa disposição, pois pelo batismo somos chamados a sermos discípulos e missionários de Jesus. O Espírito Santo gera e guia a missão da Igreja, isto significa que, se ainda não somos autênticos cristãos no mundo é porque ainda estamos presos ao que nos impede de atendermos aos apelos do Espírito: medo, preguiça, acomodação, poder, prestígio, etc. A renúncia de si mesmos, o tomar a cruz e o seguimento de Jesus (cf. Lc 9, 23 – 24) constituem a espiritualidade missionária. É desta forma que estaremos construindo o Reino de Deus entre nós, pois é isto que Jesus pediu para fazermos: construir o Reino e não esperarmos que ele chegue pronto em nossas mãos!


Tiago de França

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