terça-feira, 25 de agosto de 2009

Chamados à santidade


Certa vez, escutei de alguém a seguinte expressão: “Hoje, mais do que em outros tempos, precisamos de santos na Igreja e na sociedade”. Também concordo com tal verdade. Ser santo não é coisa fácil, mas também não é algo impossível. Em algum lugar do Evangelho Jesus diz: “Sede santos, assim como o vosso Pai do céu é Santo”. É um bom convite. Vamos tentar entender este convite, para ver se é possível sermos santos. Temos o convite, esforcemo-nos em atendê-lo.

Primeiro, é preciso crer que Deus é Santo, pois é a fonte de toda santidade. O texto do Evangelho do domingo passado nos revelou por meio das palavras de Pedro a seguinte verdade: “... tu és o Santo de Deus”. Jesus é o Santo de Deus. Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, isto quer dizer que, segundo as Escrituras, somos imagem e semelhança da santidade de Deus. Isto indica-nos a possibilidade não de sermos iguais a Deus, mas semelhantes a ele no que concerne a sua santidade. Em outras palavras, somos chamados a participar da santidade de Deus. Ele, por sua própria vontade, partilha conosco o seu amor e nos faz santos no amor e para o amor.

No amor somos santos e para o amor somos santificados. Isto é muito belo! Mas onde fica a nossa condição de pecadores? A santidade divina é sinal de perfeição, porque Deus é perfeito. Somente Deus é, essencialmente, bom. Se o pecado passou a fazer parte de nossa condição, logo não seremos, jamais, perfeitos. E se conseguíssemos ser de fato, seríamos deuses, iguais a Deus. Isto não nos é possível! Então, como podemos ser santos? Partindo da compreensão de que somente Deus é Santo e Justo, Puro e Perfeito, o convite de Jesus aos homens a serem santos, não implica estado de perfeição, ou seja, participamos da santidade de Deus, mas não somos perfeitos como Ele.

Assim sendo, o homem não é chamado a ser perfeito, mas sua santidade consiste num esforço permanente, auxiliado pela graça de Deus, de participar da divindade de Jesus por meio da prática dos mandamentos. Ao jovem rico que queria salvar-se, Jesus perguntou pelo cumprimento dos mandamentos, e sendo ele rico materialmente, lhe foi proposto ainda, renunciar às suas posses para o seguimento de Jesus Cristo. Parece que Jesus não ficou satisfeito somente com o cumprimento dos mandamentos. Ele pede a renúncia daquilo que prende e que impede à realização da pessoa no seguimento. A proposta é renunciar os bens, deixar tudo e seguir, para assim, se alcançar o tesouro no céu.

Em São Vicente de Paulo, padre francês do século XVII e fundador da Congregação da Missão e outros ramos voltados à caridade para com os pobres, além dos mandamentos da lei de Deus, há cinco virtudes, que praticadas no exercício da missão, torna a mulher e o homem, santos e santas no amor de Deus: humildade, simplicidade, mansidão, mortificação e zelo. São virtudes práticas. São instrumentos a serviço da missão. A prática de tais virtudes eleva o homem ao ser de Deus e o torna santo.

Vejamos o que São Vicente de Paulo diz sobre cada uma das virtudes citadas. Sobre a simplicidade: “Deus é simples. Onde encontrares a simplicidade cristã caminharás seguro; pelo contrário, os que recorrem a precauções e artimanhas estão num medo contínuo de que descubram seu artifício e que, ao se ver surpreendido em sua falsidade, ninguém quer ter confiança neles” (XI, 740s, 462). Sobre a humildade: “Entendei bem isto, meus senhores e meus irmãos: nunca poderemos fazer a obra de Deus se não tivermos uma profunda humildade e uma humildade de opinião sobre nós mesmos” (XI, 71). Sobre a mansidão: “Não há pessoas mais constantes e firmes no bem que aqueles que são mansos e pacíficos; pelo contrário, os que se deixam levar pela cólera e pelas paixões são geralmente muito inconstantes, porque agem por impulsos e ímpetos” (XI, 752). Sobre a mortificação: “Cristo disse: ‘Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo e tome sua cruz cada dia’. E dentro do mesmo espírito, São Paulo acrescentou: ‘Se viveis segundo a carne, morrereis; mas, se com o espírito fazeis morrer as obras da carne, vivereis’. Por isso todos nós dedicaremos assiduamente a submeter à vontade e o próprio juízo, e a mortificar todos os sentidos” (RC II, 8). E sobre o zelo: “Se o amor de Deus é fogo, então o zelo é sua chama” (XI, 590). São Vicente de Paulo foi proclamado santo porque viveu tais virtudes.

Há algumas falsas imagens ou idéias sobre a santidade. Alguns pensam que os santos não dormem, não bebem, não comem nem pecam! Outros pensam que a santidade é para alguns escolhidos. Antes do Vaticano II somente os clérigos é que podiam ser proclamados santos, pois eram celibatários e ordenados. Quem estivesse fora de tais condições, dificilmente era proclamado santo, porque o “estado de perfeição” era reservado aos clérigos, considerados pessoas de ordem superior em relação aos leigos. Na Igreja pós-Concílio houve uma reforma do conceito de santidade, mas ainda há resistência por parte de alguns. Hoje, é preciso pensar a santidade a partir do seguimento de Jesus. Podemos afirmar, seguramente, que somente aqueles que seguem Jesus é que podem ser santos. Não há santidade fora do seguimento de Jesus. E o seguimento de Cristo se dá na adesão ao seu projeto de amor e de vida para todos.

Certamente, podemos ser santos. O senhor nos chama a isto desde o nosso batismo. A confiança na divina Providência é outra qualidade do homem que almeja a santidade e o reconhecimento da condição de pecador é outra marca característica. O homem torna-se santo quando procura, acima de todas as coisas, fazer a vontade de Deus. E a vontade de Deus consiste em amá-lo acima de todas as coisas e ao próprio como a si mesmo. Temos toda a vida para buscar viver tal mandamento, pois é este que nos santifica todos os dias. Ninguém, a não ser o próprio Deus, é quem é santo plenamente. A santidade é uma construção cotidiana, uma caminhada de renúncias e sacrifícios. Seguir Jesus e fazer a vontade de Deus são uma só coisa e quem aceita abraçar tal empreitada, deve implorar a graça de Deus, pois sem esta é impossível agradá-lo e, conseqüentemente, ser santo.

Ó Deus, fazei-nos santos como Vós sois Santo!


Tiago de França

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