sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O saber e a humildade


O saber pertence ao ser humano. Somente o homem é que sabe que sabe. Os animais e as plantas não pensam, logo não sabem que sabem. O homem é dotado de inteligência, razão e criatividade. Pelo estudo, pesquisa, observação e pela curiosidade, o homem tem acesso à essência das coisas. Ele descobre o sentido de cada coisa. E o mais importante é que o homem é o único ser que consegue dar sentido à própria existência. A busca, o encontro e o reencontro do sentido da existência é algo extraordinário. Trata-se de um processo que dura por toda a vida.

Até os tempos atuais podemos encontrar grandes figuras que se destacaram em todas as áreas do conhecimento. Inventor de todas as ciências, o homem racional e inteligente desenvolve o próprio conceito de homem e de humanidade. O homem cria a si mesmo e ao mundo em que habita. É também um ser transcendente. Além daquilo que é visível e palpável, ultrapassa os limites da razão e da inteligência e atinge o mundo meta-físico. Consegue pensar as realidades que estão além daquilo que é sensível e material.

E para aqueles que têm fé, acredita-se que Deus é o autor da vida e o Criador de todas as coisas. Criado à imagem e semelhança de Deus, o homem é chamado a reconhecer que Deus o criou com razão e inteligência, para amar e cuidar da criação. Deus confiou ao homem toda a criação, para que nela e por ela vivesse feliz. Assim sendo, Deus é a plena Sabedoria e aqueles que nele acreditam, também recebem o dom da sabedoria. Todos podem saber, mas nem todos são sábios. O sábio pode até ser culto, inteligente e criativo, mas a sabedoria do sábio ultrapassa a tudo isto. Se afirmarmos que os sábios são somente os que são chamados cultos, então os que não tiveram acesso ao conhecimento das ciências não poderiam ser sábios. Quem assim pensa, engana-se profundamente.

O verdadeiro homem sábio é um homem humilde. É sábio aquele que admite nada saber. O sábio cristão é o homem que procura seguir Jesus nas pegadas da humildade. Jesus é o ícone da humildade. É o sábio por excelência, pois cremos que ele participa da natureza de Deus, apesar de não ter se aproveitado disto. É a partir desta verdade que encontramos um grave pecado entre nós. Tal pecado consiste naqueles que possuem muito conhecimento, mas não são humildes. O saber, ao mesmo tempo em que confere cultura e entendimento, também confere certo orgulho e vaidade.

Trazendo esta reflexão para o meio eclesiástico, vamos encontrar muitos leigos, padres, bispos e até papas muito cultos na história da Igreja, mas foram e ainda são poucos os que conseguem unir saber e humildade. O equilíbrio de tais virtudes é necessário para termos mulheres e homens sábios. A tentação da soberba é muito comum entre aqueles que são considerados cultos, inteligentes, gênios, etc. Por isso, se faz necessário, que o homem agraciado por Deus com o dom da inteligência reconheça que a escola da vida é infinita, ou seja, que ninguém sabe de todas as coisas e que somente Deus é onisciente.

De que adianta ser culto ou inteligente e não saber acolher as pessoas? Qual a vantagem de acumular os saberes científicos, mas não ter uma visão ampla da realidade? São muitos os inteligentes que sofrem de miopia, ou seja, não conseguem entender a vida nem conferir sentido à mesma. O saber está para o homem e não o contrário. É para a nossa edificação que precisamos saber das coisas. Antes dos conhecimentos científicos, precisamos saber ler e escrever a vida. Saber enxergar além daquilo que se apresenta, no sentido de buscar entender as possibilidades e as viver bem. Somente a sabedoria divina, que se manifesta na e por meio da linguagem humana, é que pode conferir ao homem a verdadeira sabedoria que humaniza e liberta integralmente.

O sábio também é um místico. Ele contempla a criação e nela vê e vive a vida. Os homens pós-modernos buscam os porquês das crises a que passamos e se esquecem de que a resposta está na criação. Não precisamos ser filósofos, teólogos ou cientistas para saber as razões e motivações históricas das crises causadas pelo homem. Tudo é muito simples. A complexidade obscurece a visão da realidade. O homem, às vezes, complica a vida e a torna difícil de viver. O sábio, com sua perspicácia transcendente e espiritual consegue enxergar além da complexidade, e apesar das fragilidades que lhe são inerentes, sobrevive em meio às mazelas produzidas pelo homem, tendo a plena consciência do sentido de cada realidade. É preciso rogar a Deus, incessantemente, a serenidade e paz necessárias, para que neste mundo conturbado, possamos ser sábios suficientemente para darmos continuidade à peleja da vida.


Tiago de França

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