domingo, 20 de setembro de 2009

Servir a todos


“Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos”. (Mc 9, 35)

O serviço fraterno é a marca original do cristão, seguidor de Jesus. Há na pessoa certa tendência natural de ser importante, de recusar-se ser inferior aos outros. Não há pecado em ser importante, nem em não sentir-se inferior aos outros. Toda pessoa é importante, pois aos olhos de Deus somos filhos e irmãos em Jesus Cristo. As diferenças que existem entre as pessoas são normais, pois não somos iguais. O que não está correto são a indiferença e a exclusão de pessoas nas relações sociais. Indiferença e exclusão estão presentes na sociedade e na comunidade eclesial.

A indiferença e a exclusão não permitem que as pessoas exerçam o serviço fraterno, pois quem é indiferente não se compadece com o sofrimento do próximo. A exclusão é outro impedimento, porque se costuma excluir aquele que já está excluído. Ninguém pratica a caridade sem sentir-se sensibilizado pelo sofrimento do outro. É verdade que somente compadecer-se não resolve o problema, mas é pela via da compaixão que agimos caritativamente com o próximo (cf. Lc 10, 25 – 37). A compaixão nos aproxima da dor do outro e nos impulsiona à ação.

Os excluídos da sociedade são muitos e os pobres são cada vez mais numerosos. Novas formas de pobreza vão surgindo. As novas tecnologias são um exemplo de geradoras de novos pobres, pois aqueles que não têm acesso às mesmas ficam marginalizados, despossuídos. A sociedade que produz as novas tecnologias não está preocupada com os pobres. Estes são sempre excluídos porque não sabem e nem podem nada. Os pobres são subestimados em suas condições de pobreza. Só se interessam por eles para ensiná-los a consumir demasiadamente. A corrupção política é outra geradora de pobreza, porque uma vez desviados os recursos públicos, as pessoas ficam sem condições de se desenvolverem e desassistidas pelo poder público ficam à mercê do assistencialismo dos exploradores, que se aproveitam da situação de miséria do povo.

Todo serviço fraterno efetuado na gratuidade e em sintonia com o Evangelho de Jesus é uma ação profética na Igreja e na sociedade. A caridade se manifesta profeticamente diante do individualismo e do consumismo sociais. Quem pensa somente em si e se deixa levar pela ideologia do mercado dificilmente tem condições de corresponder à caridade, porque esta exige partilha e solidariedade. Ser solidário hoje é ir ao encontro da pessoa e não somente de suas necessidades. Ir ao encontro da pessoa é um processo gradativo que se dá a partir de uma leitura da realidade. Esta leitura se realiza a partir do Evangelho de Jesus. Ler a vida com os olhos de Jesus significa compadecer-se e agir como ele se compadeceu e agiu. Jesus serviu a todos, preferencialmente aos pobres.

Na comunidade eclesial temos o problema da liderança. Na Igreja temos os líderes: coordenadores de pastorais e grupos, presbíteros e bispos. Nas congregações religiosas, ordens e institutos de vida consagrada temos os superiores. São mulheres e homens que receberam o ofício de exercer a liderança na comunidade. A maior tentação que as lideranças sofrem no exercício da autoridade está no pensar e agir como se fossem maiores do que os demais membros da comunidade. Este espírito de superioridade corrompe a liderança, porque tal espírito retira dela outro mais importante ainda, o da humildade. Somente o líder humilde é capaz de servir à comunidade.

Um líder colocar-se na condição de servo de todos é algo desafiador, porque a idéia comum que impera é justamente contrária, principalmente quando as estruturas do poder que se exerce obstaculizam o servir. Um exemplo claro disso é a condição do Bispo de Roma. Ele é chamado de servus servorum dei, que quer dizer servo dos servos de Deus. Teoricamente, tal condição implica ser servo de todos os que são servos de Deus. Não me atrevo a julgar a condição do Bispo de Roma, mas levando em consideração a palavra de Jesus, só é verdadeiramente líder aquele que serve. Além de ser aquele que serve, deve ainda ser o último. Ao conceder tal ensinamento aos discípulos, Jesus mostra conhecer muito bem o mais profundo da condição humana.

Nas comunidades eclesiais, as lideranças que se recusam servir são problemáticas porque provocam divisão e mal estar. Certamente não podem ser excluídas, mas reconduzidas e reorientadas. Só pode liderar quem aprendeu ou se dispõe a aprender a servir. Por isso, o líder precisa aprender com Jesus, manso e humilde de coração, a ser um bom operário na Messe do Senhor. Ninguém nasce pronto para liderar, mas deixando-se conduzir pelo Espírito que se manifesta na voz e na situação do outro, aprende-se certamente a ser um bom líder.

O Ano Sacerdotal nos chama a atenção para a liderança exercida pelos padres, principalmente os que são párocos de comunidades. O padre é convidado a comportar-se como pai. Um pai não é dono dos filhos, nem manda na vida dos filhos. Não adianta um pai de família querer ser dono de sua família, pois ninguém é dono de ninguém! Somos livres e filhos de um mesmo Pai, que é Deus. O padre não é dono da comunidade, nem manda na vida dos membros da mesma. Ele é o coordenador, aquele que orienta a fé das pessoas na e para a liberdade. Supondo que o padre seja uma autoridade, esta se revela na capacidade do mesmo servir à comunidade. Se o padre procura ser servido, então não serve para nada, a não ser para ser desprezado e odiado pela comunidade, pois nenhuma comunidade consciente e bem formada aceita o abuso da autoridade exercido pelas posturas ríspidas de muitos presbíteros. Aqui é preciso mencionar a importância da formação da personalidade do presbítero no Seminário.

A triste situação política do Brasil também nos exige analisar o perfil do líder político. O que assistimos é a plena manifestação daqueles que não aceitam servir à nação na integridade de um mandato político comprometido. Nós, que somos membros da comunidade-nação precisamos agir na hora do voto, a partir do ano que vem, para mudarmos este triste quadro. Já que não contamos com mandatos participativos, façamos ouvir nossa voz e nossa indignação na escolha de novos sujeitos, pois é uma injustiça um político bater no peito e dizer com orgulho patriótico que está há mais de cinqüenta anos no poder e ainda se julga exemplo de moralidade política para o país.

Jesus é o maior exemplo de líder que a humanidade já teve, porque não se deixou levar pela corrupção. Sua liderança estava pautada no amor a Deus e ao próximo. E nós, que buscamos segui-lo na comunidade eclesial, precisamos imitá-lo na vivência da fraternidade, que se exerce na justiça e no amor.


Tiago de França

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