quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Dom Hélder Câmara, líder carismático


A palavra carisma vem do grego khárisma e significa atos, graça, favor, benefício. O dicionário Aurélio ensina que carisma é a força divina conferida a uma pessoa, mas em vista da necessidade ou utilidade da comunidade religiosa. O caráter laico da palavra carisma aponta para a definição da influência e fascinação por alguma pessoa. O carisma está ligado à forma da pessoa de ser e de agir. Na Carta paulina aos Efésios 4, 11 – 16 encontramos os carismas como dons de Deus para o aperfeiçoamento dos santos, para desempenho do serviço e para a edificação do Corpo de Cristo. Também no capítulo 14 da Primeira Carta paulina aos Coríntios encontramos o Apóstolo dando explicações à comunidade cristã sobre o sentido e o valor dos dons do Espírito Santo.

Neste breve texto não quero falar dos carismas em si, mas quero falar do líder carismático Dom Hélder Pessoa Câmara, cujo Centenário de seu nascimento a Igreja teve a alegria de celebrar no dia 07 de fevereiro do corrente ano (1909 – 2009). O que significa dizer que Dom Hélder era um homem carismático? Qual o carisma de Dom Hélder? Como ele viveu seu carisma? Precisamos saber do sentido da palavra carismático para não trairmos a pessoa de Dom Hélder e colocá-lo na superficialidade a que o termo atualmente é submetido. Hoje, um jovem entra num grupo de oração e já se afirma carismático! Qual o carisma deste jovem?

O homem carismático, impulsionado pelo Espírito de Deus vive na contramão da história. O carisma é como que um jeito de ser e de agir conforme a vontade divina, e está ligado diretamente ao Espírito. Falar de carisma é falar da presença do Espírito na pessoa, no cristão. Radicalmente, podemos afirmar que os autênticos cristãos são carismáticos. Neste texto refiro-me a Dom Hélder Câmara, mas antes e depois dele apareceram muitos outros: Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Madre Teresa de Calcutá, Ir. Doroth Stang, Pe. Cícero Romão Batista, Dom Oscar Romero, Pe. José Antônio de Maria Ibiapina, Martin Luther King, Mahatma Gandhi etc., que foram mulheres e homens que deram um novo sentido à história da humanidade.

Estas mulheres e estes homens viveram muito além de seu tempo. Não eram seres dotados de poderes sobrenaturais, nem revolucionários alienados, mas pessoas comuns que se identificaram com a verdade e buscaram vivê-la por meio da justiça e do amor. O carismático é pessoa de convicções profundas e irrenunciáveis, que acredita na edificação de um outro mundo possível. Penso que todo autêntico carismático é também profeta, pois sua postura vai contra a lógica comum dos homens. A lógica do mundo está orientada para a esperteza, vantagens, injustiças e corrupção de toda ordem. Os valores da verdade, da justiça e do amor são contrários a tal lógica e inauguram uma sociedade diferente.

Quem conheceu Dom Hélder Câmara pessoalmente sabe de sua presença de espírito. Era um cearense de estatura baixa, “cabeça-chata”, voz forte, que usava batina bege, crucifixo de madeira no pescoço, homem de gesticulações no falar e de um sorriso encantador. Era devoto de São Francisco de Assis e São Vicente de Paulo. O primeiro, pai da pobreza, o segundo pai da caridade. Com Francisco de Assis Dom Hélder aprendeu a ser pobre. Um Bispo pobre na Igreja é algo sublime! Não tinha empregados, mas colaboradores. Com Vicente de Paulo aprendeu a ser amigo dos pobres. Dom Hélder Câmara dizia que quando o Bispo e o padre são pobres torna-se mais fácil ser amigo dos pobres.

Assim, sem sombra de dúvidas, podemos afirmar que o carisma de Dom Hélder Câmara era profético. Pela Escritura Sagrada sabemos que o profeta não é aceito em sua própria pátria (cf. Mt 13, 57). Dom Hélder nasceu no Ceará, foi nomeado Bispo no Rio de Janeiro, andou o mundo no exercício da profecia e morreu em Pernambuco. Nasceu e morreu no nordeste brasileiro. Tornou-se diácono, padre, bispo, escritor, poeta, místico e profeta sem perder o jeito de ser nordestino, fiel às suas origens. No exercício profético de Dom Hélder Câmara podemos citar dois valores fundamentais que ele viveu na radicalidade evangélica: a abertura ao novo e o diálogo para com todos. Ele transcendeu à formação que recebeu no Seminário da década de 20 e tornou-se o grande articulador do Vaticano II, fundador da CNBB e do CELAM.

Os militares, sanguinários da ditadura implantada no Brasil, tinham medo de Dom Hélder Câmara. Sua presença de espírito e a autoridade de sua palavra eram de tamanha grandeza que até os inimigos se curvavam diante da inteligência e da sabedoria do Bispo dos Pobres. Ninguém teve coragem de assassiná-lo. Até que tentaram, mas o assassino confessou ao próprio Bispo: “Dom Hélder, eu fui mandado para matar o senhor, mas não tive coragem!” Era um Bispo de portas e coração abertos para acolher a todos, preferencialmente os excluídos da sociedade.

As desigualdades sociais e a realidade da vida dos pobres levaram-no a percorrer o mundo. As universidades e Igrejas da Europa escutavam-no atentamente, porque ele não falava em nome próprio, mas em nome da vida do povo de Deus e da verdade do Evangelho. Falar em nome de Deus e da libertação do povo, eis o poder da palavra profética. E a palavra do profeta Dom Hélder Câmara incomodou a muita gente: militares, políticos, intelectuais descomprometidos com a verdade, padres e bispos conservadores e inimigos da liberdade. Até o Papa João Paulo II sentiu-se incomodado com a palavra profética de Dom Hélder, quando pediu que ficasse em Recife, pois a função de anunciar a verdade ao mundo era de Pedro e não de um Bispo de uma Igreja Particular como a de Recife e Olinda.

Até hoje os inimigos de Dom Hélder o acusam de “Bispo Vermelho”, que só queria aparecer na mídia e ficar famoso. Acusam-no de ser amigo do poder e do prestígio social, de ser inimigo da Igreja e agitador político. Particularmente, quando escuto tais injúrias, percebo que são oriundas ou da projeção, pois quem o acusa negativamente é porque tem em si os defeitos e projeta-os, ou inveja doentia, porque não consegue ser o que ele foi na história do país e da Igreja. Sendo o carisma dom e graça do Espírito de Deus, certamente Dom Hélder Câmara foi um Bispo carismático.

Diante destas considerações, convido a Renovação Carismática Católica a refazer sua leitura da palavra carisma, uma vez que costuma ser desvinculada da justiça e do amor aos desfavorecidos, voltando-se demais para o louvor e a adoração a Jesus sacramentado. Claro que são importantes o louvor e a adoração a Jesus na vida da Igreja, mas o sentido de carisma, carismático e ser cristão está no seguimento a Jesus de Nazaré, plenamente homem pobre e livre na história, que se encontra em nosso meio, aberto para nos acolher e ser acolhido. Enquanto cristãos, o nosso carisma é o amor, autenticamente gratuito.


Tiago de França

Um comentário:

martha nevares disse...

Pois xom tudo isso maravilha , e o senhor D. Helde santo e chamando os Militares se sanguinarios , gente dom HELTE era amigos dos comandantes Militares de RECIFE , as senhoras do Exército ajudava com suas luta contra os pöbre. ,a fome, a pobreza . e muita enjutica em tudo isso.