quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A salvação em Jesus Cristo


“Aquele que crer e for batizado será salvo” (Mc 16, 16).

Os cristãos afirmam que Jesus veio a este mundo para nos salvar. Na Igreja Católica pré-conciliar, dizia-se que Jesus veio salvar as almas. A catequese ensinava que todos deviam se purificar por meio de sacrifícios e pela confissão dos pecados, para que se pudesse ter a alma “limpa” para Jesus. Ter uma alma pura era a grande preocupação dos cristãos. Neste contexto, o pecado era o grande mal a ser combatido. Na relação com Deus, mediada pelos sacramentos da Igreja, principalmente a Confissão e a Eucaristia conferidos pelo presbítero, figura central da comunidade paroquial, o fiel era chamado a se purificar, para não ser pego desprevenido na hora da morte. Era preciso se preparar para morrer. Morrer no “estado de graça” era o ideal. Quem morresse em pecado mortal, tinha o inferno como destino certo.

A salvação sempre foi entendida de forma isolada. Jesus veio salvar a cada um em particular. Ele vai separar os homens bons dos que são maus e dar a cada um conforme as obras. É o que todos esperam. Os considerados “crentes” se apegam na afirmação de que a salvação se dá pela fé e pela graça. Os católicos respondem que as obras são necessárias. Há alguns que pensam que estão conquistando a salvação pelas obras que praticam. De um lado, muitas Igrejas cristãs neo-pentecostais afirmam que serão arrebatadas no último dia em detrimento de outras, por outro, a Igreja Católica afirmou que fora dela não existe salvação. Cada uma que queira apropriar-se de Jesus e da salvação oferecida por ele. Todas as Igrejas criam condições para aqueles que aspiram à salvação. Tais condições tiram a universalidade da salvação e a institucionalizam, reservando-a a determinada denominação ou Igreja.

Considerando que Jesus instituiu alguns dos sacramentos, enquanto sinais da presença e da ação de Deus na pessoa e no mundo, que inaugurou o Reino de Deus entre nós; não é possível constatar que Jesus escolheu um povo, uma cultura ou alguma religião como lugares de manifestação de sua presença salvífica. Não é possível ser ecumênico, nem construir ecumenismo particularizando a pessoa de Jesus. Sendo homem-Deus, Jesus não pode ser particularizado. Ele não é Deus de uma pessoa, grupo ou religião. O Jesus individualizado não é o Filho de Deus, mas projeção do desejo das pessoas e construção mitológica das instituições. Um Deus não pode ser apoderado, nem pensado plenamente, pois é o infinitamente Outro. Na relação com Deus todo ser humano é livre e pode adorá-lo dentro ou fora das instituições religiosas e estas não podem julgar a fé dos que não aceitam se submeter aos seus sistemas religiosos.

Na comunidade autenticamente cristã, a salvação é um processo comunitário da construção do Reino de Deus. Rezar para ir para o céu é desconhecer o sentido da salvação em Jesus Cristo. Jesus não veio a este mundo buscar almas para Deus, como já escutei pregações dizer. Reduzir a missão salvífica do Filho de Deus à salvação de almas é desconhecer a missão de Jesus. A alma é uma parte de nós. Uma parte que não participa do processo histórico, apesar de estar em nós. Quando esteve no mundo, Jesus encontrou pessoas e estas estavam situadas na vida comum do mundo. Jesus estava interessado na vida das pessoas e não em suas almas. Ele não foi uma alma penada aparecendo aqui e acolá, mas um homem comum, um sujeito histórico, submetido à realidade humana tão desumanizada de sua época. É este o Cristo que nos salva!

Quando era pequeno, perguntava-me: De que seremos salvos? Não entendia muito a salvação ensinada na catequese porque se tratava mais de uma realidade metafísica (espiritual) do que histórica (ligada à realidade). Se somos pessoas e vivemos no mundo, não seremos salvos a partir de cima, mas a partir daqui de baixo, logo a salvação se dá na história dos homens. Crendo que Jesus é o Emanuel, então cremos que Deus está conosco e constrói conosco o novo céu e a nova terra, o Reino. É na construção do Reino que somos salvos e o somos integralmente.

É preciso compreender a salvação a partir do mistério da encarnação de Jesus. O Filho de Deus encarnou-se em nossa realidade, fez parte da condição humana, igual em nós em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4, 15), e desta forma, conhecendo a nossa realidade manifestou-nos a misericórdia divina, salvando-nos de nossos pecados. Estava no querer de Deus que Jesus viesse até nós e a partir de nossa realidade nos concedesse a salvação. Esta é um dom gratuito de Deus, pura ação da graça em nós, pois não alcançamos a salvação por nossos méritos ou esforços. É verdade que precisamos levar uma vida que corresponda à condição de pessoas resgatadas pelo sangue de Cristo. Tal condição pressupõe a caridade para com o próximo como valor maior do Reino de Deus.

A felicidade que o mundo não consegue oferecer é encontrada em Jesus Cristo e na adesão à sua proposta. A salvação não é proposta de felicidade compensatória, oriunda da relação “comercial” entre Deus e o ser humano, como muitos pregam e vivem, mas um dom gratuito e imerecido, que na bondade e na misericórdia, Deus concede ao ser humano. A leitura da Palavra revela que Deus quer salvar a todos, porque todos são chamados à filiação divina em Jesus Cristo, pois somente este é que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68). É Jesus a nossa salvação e todos podem ser salvos por meio dele. Ele acolhe a todos sem distinção. Na concepção cristã somente Jesus salva e ninguém está autorizado a julgar a fé das pessoas. A Igreja, enquanto instrumento de salvação, é convidada a mostrar o caminho que leva à verdadeira vida sem fazer juízo sobre o destino das pessoas, pois não é proprietária da salvação, nem mediadora entre Deus e os homens, mas chamada a ser servidora do Reino de Deus.

A salvação em Jesus Cristo se dá na gratuidade e na liberdade. A gratuidade denuncia a vivência mercadológica da busca da salvação a que assistimos em muitas Igrejas cristãs. Ninguém pode vender ou comprar a salvação, pois constitui um dom gratuito de Deus. A única exigência que se apresenta para sermos salvos por Jesus é o cumprimento do mandamento do amor. Quem não amar não será salvo, pois é o amor que nos salva das forças da morte e nos restitui a dignidade de filhos de Deus. A salvação se dá na liberdade porque ninguém é forçado a nada. Deus Quer nos salvar, mas toda pessoa é livre para aceitar ou não. Se existe perdição é porque há pessoas, que na liberdade, se recusam a acreditar em Deus e serem salvas por Ele.

Enfim, podemos certamente afirmar que a salvação é o encontro com a vida plena. Em nosso mundo não temos vida plena. As pessoas são agredidas em sua dignidade e o sofrimento parece eterno. Por isso, a pessoa que crer e segue Jesus acredita no novo céu e na nova terra, onde reinarão plenamente a justiça, o amor e a paz. O cristão que acredita em tais valores luta cotidianamente para que os mesmos se tornem realidade no mundo. Se não temos vida plena é porque a verdadeira vida está escondida com Cristo em Deus (cf. Cl 3, 3 – 4).


Tiago de França

Um comentário:

Anônimo disse...

Busco alguém que possa fazer uma oração fervorosa para mim e para minha família em nome de Jesus.
Carlson Ripoll Gomes