sábado, 28 de novembro de 2009

Advento: Tempo de esperança e de alegria


“Bendito sejais, Deus bondoso, pela luz de Cristo,
sol de nossa vida, a quem esperamos com toda a ternura do coração”
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O Tempo do Advento dá início ao Ano Litúrgico da Igreja. Há relatos de que o Advento começou a ser vivido pelos cristãos entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo como preparação para o Natal. Na Gália (atual França) do século IV e na Espanha, o Advento tinha caráter ascético com jejum e penitência e duração de seis semanas como na Quaresma. Com a reforma litúrgica, passou a ser celebrado durante quatro semanas. Durante este Tempo não se canta o Hino de Louvor nas Celebrações da Palavra e da Eucaristia; a cor litúrgica é roxa; usa-se a coroa do advento com as quatro velas e as principais figuras que aparecem na Liturgia da Palavra são: os profetas Isaías e João Batista, São José e sua esposa Maria, e Jesus, que é o centro e o sentido maior da celebração de todo o ano litúrgico.

A espera, a expectativa, a alegria e a conversão formam o conjunto temático do Tempo do Advento. Os judeus esperavam o Messias prometido. Ele veio e eles não o receberam (cf. Jo 1, 11). Desde a subida de Jesus aos céus, após a ressurreição dentre os mortos, os cristão esperam sua parusia, ou seja, a sua volta gloriosa. É um tempo de expectativa porque não sabemos o dia, nem a hora em que Jesus virá. É um mistério insondável. Ninguém sabe, a não ser o Pai (cf. Mc 13, 32). É um tempo de alegria porque não somos chamados a viver a penitência quaresmal, mas a alegria da vinda definitiva de Jesus. A conversão também é característica do Advento, porque este também é um tempo de preparação. Preparamo-nos para celebrar o nascimento daquele que veio com a missão de inaugurar o Reino de Deus e ser nosso Salvador.

Advento também é tempo de esperança. A vinda de Jesus ao mundo é sinal de que Deus não decepciona a esperança humana. Ele cumpre com sua palavra e envia-nos o socorro maior, seu amado Filho Jesus Cristo. A esperança vivida pelos seguidores de Jesus não é qualquer esperança, mas uma esperança que não decepciona (Rm 5, 5). Trata-se de uma esperança que os leva a lutar contra toda desesperança. É uma força que move-nos para a construção do Reino. Somente alimentados pela esperança é que somos capazes de sobreviver às aflições e aos desesperos a que estamos submetidos nos últimos tempos. A vivência da fé cristã restaura-nos para a vivência da esperança.

Estamos diante do aumento da fome, da violência, da corrupção e da crise de humanidade que explica a origem de todas as demais crises. As pessoas estão cada vez mais depressivas, impacientes, insensíveis, egoístas e individualistas. Os aspectos religiosos e o sagrado da dimensão humana estão cada vez mais banalizados. Há certo desespero tomando conta das pessoas, levando-as, no caso de muitas delas, à descrença no valor e sentido da vida. Falar e viver a esperança neste contexto de sobrevivência é de extrema importância e é justamente aqui que aparece a Boa Notícia do Advento. As pessoas precisam saber e crer que o Deus da vida, que é plena bondade e misericórdia, não abandonou o gênero humano na destruição e na morte.

Diferentemente do que muita gente pensa, o nosso Deus está presente e vive conosco a história sofrida de cada dia. Quem acredita em Jesus precisa anunciar a experiência do amor, pois somente esta é capaz de salvar o mundo da destruição que se aproxima. Os homens precisam se conscientizar da necessidade de viver e permitir que outras gerações vivam no futuro. O cuidado com a vida é manifestação do amor que temos pela vida de nosso semelhante e pelo Deus de nossa fé. Quando promovemos e preservamos a vida da pessoa e da natureza estamos provando que realmente amamos a Deus. Ninguém pode dizer que ama a Deus se não cuida da vida do outro. Cuidar da vida do outro é cuidar da própria vida, porque somos irmãos em Cristo, filhos de um mesmo Pai que nos ama.

Percebe-se que o ódio e a vingança entre as nações e entre as pessoas estão aumentando cada vez mais. Por que isto? Porque o amor está sendo deixado de lado, e os interesses mesquinhos estão tomando conta das relações sociais e interpessoais. As pessoas estão se tornando intensamente estranhas umas às outras. O espírito de eliminação daqueles que são considerados “inválidos” para o convívio social está tomando conta do pensar e do agir das pessoas. O ser humano só vale quando produz e quando tem poder aquisitivo para comprar aquilo que é supérfluo, do contrário, precisa ser eliminado porque não serve e só atrapalha o falso desenvolvimento e a falsa harmonia do mercado e das relações entre as pessoas. Isto tudo pode ser chamado de cultura de morte, porque só tende para a destruição da dignidade da pessoa humana.

O autêntico seguidor de Jesus é chamado a combater a cultura de morte que impera no mundo atual e tal combate se dá pelo anúncio do Evangelho de Jesus, que é vida e liberdade para todos. Valores como justiça, solidariedade, partilha, perdão, compreensão, tolerância, amizade entre tantos outros, ajudam na construção de um mundo melhor. Independentemente de qualquer coisa ou circunstância precisamos acreditar no ser humano e a partir dele construirmos um mundo de paz e justiça. Somente quando a justiça fizer parte das relações entre os homens é que teremos um mundo de acordo com a vontade de Deus. É preciso constatar e valorizar as pessoas e as organizações que se comportam justa e coerentemente na luta por uma sociedade justa e solidária, por isso, intensifiquemos esta luta e finalmente viveremos em paz.

Preparar-se para a Celebração do nascimento de Jesus não é só recordar que ele veio até nós, mas assumirmos em nossa vida seu projeto de justiça, de amor e de paz. O desafio é grande, mas não é impossível. Sabemos de nossas limitações, mas em meio a elas e com a ajuda da graça divina podemos fazer a vontade de Deus na construção de seu Reino entre nós. Não nos deixemos vencer pelo medo da morte, nem pelas forças que ameaçam a vida, pois Jesus é o Emanuel, ele está conosco e mais intimamente unido às pessoas que padecem por causa do sofrimento e da perseguição. O nosso Deus é justo e fiel e jamais nos abandonará nas mãos da morte que impiedosamente nos amedronta. Vivamos, pois, intensamente, este santo tempo de graça e salvação e que Jesus renasça no mais íntimo de nosso ser e revigore nossas forças, a fim de que não recuemos diante das dificuldades da vida presente. Que Jesus nos liberte da cegueira que nos impede de vê-lo na vida de nossos irmãos e irmãs que sofrem. Vigiemos!


Tiago de França

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