sábado, 3 de abril de 2010

Jesus ressuscitou!


“Ele não está aqui. Ressuscitou!" (Lc 24, 6).

A Páscoa é a festa da passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade. Jesus está vivo, pois venceu a morte com amor. Com sua ressurreição, inaugura um novo tempo, tempo de vida e liberdade. Assim como Jesus não foi abandonado nas trevas da morte, também nós somos resgatados pelo Espírito de Deus e reconduzidos ao seio da intimidade com Deus. Esta é a nossa alegria, de sabermos que somos ressuscitados para uma vida nova em Cristo.

Estamos num tempo de perseguições e tribulações, os sinais de morte são visíveis e ameaçadores, as diversas formas de violência e a resposta violenta da natureza causam medo e pavor. Os católicos, mais que os demais cristãos e não cristãos estão perplexos diante das denúncias de abusos sexuais praticados por membros do clero da Igreja há décadas. Os escândalos se multiplicam e revelam a face desumana e pecadora da Igreja. Até o intitulado Pontífice é acusado de acobertar tais abusos! O que está acontecendo com o mundo e com a Igreja? Como falar de ressurreição diante de tantos males?...

É preciso ter o devido cuidado para não nos tornarmos profetas da morte, pois estes anunciam desgraças e destroem a esperança do povo. Anúncios apocalípticos e exageros levam ao desespero. Diante das calamidades da vida penso que três atitudes são necessárias: 1. Reconhecer a realidade a partir do olhar de Deus, ou seja, olhar o mundo com misericórdia e lucidez; 2. Admitir e pedir perdão pelos erros cometidos a partir da humildade ensinada e vivida por Jesus e 3. Manter viva a esperança semeada e despertada por Jesus, esperança que nos motiva na construção do Reino.

Mesmo diante das manifestações do poder da morte que hoje impera no mundo, os sinais de vida do Reino de Deus são presentes e se manifestam humilde e simplesmente. As lutas dos povos pela liberdade e pela superação das crises, a ousadia profética dos pobres e o clamor que denuncia a mentira dos poderosos e do sistema opressor são sinais da atuação divina no meio do mundo. Ninguém tem o direito de acusar a Deus de omissão diante da situação do mundo, penso que tal acusação deve voltar-se para os próprios homens e mulheres, que procuram cada vez mais os próprios interesses em detrimento do projeto de vida e de liberdade proposto por Jesus.

Enquanto o projeto de Jesus não for assumido pelos cristãos, o Cristianismo continuará tendo sérios problemas. Tal projeto precisa ser colocado no centro de nossas preocupações. A Igreja precisa anunciar a Boa Nova de Jesus, pois foi para isto que foi chamada, e renunciar o poder temporal que a corrompe. As ambições, o sucesso, as riquezas e o poder corrompem os homens do mundo e também os homens da Igreja. Os sinais dos tempos nos revelam a importância e a necessidade de recuperarmos o rosto da Igreja primitiva. Um dos piores males do mundo e da Igreja é a ambição pelo poder. Enquanto este mal não for erradicado, infelizmente, a situação se agravará.

Entre os cristãos, que professam a fé em Jesus de Nazaré, evangelicamente, é inadmissível que se brigue pelo poder, pois Jesus renunciou a toda forma de poder e se apresentou como servidor das pessoas. É preciso que lutemos, a fim de que a Igreja se torne serva fiel da vinha do Senhor. Na entrega sem reservas ao amor incondicional de Jesus teremos uma Igreja mais santa. Esta deve ser a nossa Páscoa: passagem de uma Igreja apegada ao poder e às riquezas para uma Igreja servidora da humanidade. Somente uma Igreja servidora e humilde pode perder a exacerbada preocupação pela reputação perante o mundo, pois quem ama através do serviço fiel e destemido ao Deus que está no próximo não vive preocupado com acusações e/ou difamações.

A Igreja servidora da humanidade é formada de mulheres e homens convertidos ao Evangelho, discípulos e missionários, que na prática constante do amor são fiéis peregrinos no caminho do Ressuscitado. O amor-doação é a rocha firme e a edificação certa daquele que se coloca na fileira do discipulado. A ressurreição de Jesus é a prova definitiva do amor de Deus pelo mundo e pela humanidade. Que Ele nos ressuscite para uma vida nova, para sermos construtores de um mundo novo.

FELIZ PÁSCOA!


Tiago de França

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