sábado, 17 de abril de 2010

O amor e o seguimento de Jesus


“Segue-me” (Jo 21, 19).

No texto evangélico deste 3º Domingo da Páscoa (cf. Jo 21, 1 – 19) encontramos a narrativa da terceira aparição de Jesus ressuscitado a seus discípulos. Primeiro temos a pesca: depois de uma noite sem pescar nada, eles atendem ao pedido do Mestre e pescam abundantemente. Segundo, depois da refeição temos a profissão do apóstolo Pedro, respondendo afirmativamente por três vezes que amava Jesus. Por último, encontramos o grande convite: “Segue-me”.

Com a pesca aprendemos que somente sob a orientação de Jesus é que a missão é possível, pois ele é sua centralidade. A missão consiste justamente no anúncio da pessoa de Jesus. Hoje, como Jesus nos orienta? Primeiro, por meio de sua palavra. Ele mesmo é a Palavra de Deus, é Verbo encarnado, que dando a vida pelo resgate de muitos não foi esquecido na região dos mortos, mas ressuscitou. Portanto, o anúncio do Ressuscitado consiste a missão a Igreja. “Ele é a vossa palavra viva, pela qual tudo criastes”, ensina-nos a segunda Oração Eucarística. Não se trata de uma palavra morta, sem vida, infrutífera, mas a Palavra de Deus encarnada na vida do mundo e ressuscitada para a vida do mundo.

Segundo, por meio do Espírito de Deus que sonda todas as realidades visíveis e invisíveis. Logo mais, na liturgia da Igreja, celebraremos o Pentecostes, que vai nos recordar que o Espírito é a alma da Igreja. Sem o Espírito não há missão. Esta está intimamente ligada aquele. É este mesmo Espírito que fecundou a vida dos discípulos de Jesus, libertando-os do medo, a fim de que anunciassem ao mundo a Boa Notícia do Reino, que é a própria pessoa de Jesus. A missão acontece conforme a inspiração do Espírito, pois é ele quem nos ensina o que dizer e o que fazer, na hora certa e no lugar certo. É a presença amorosa e encorajadora do Deus presente na história do mundo e dos homens. A escuta atenta à voz do Espírito nos faz missionário de Jesus.

Terceiro, os dilemas da vida presente são, na linguagem teológica, sinais que nos revelam a vontade de Deus. Tais dilemas têm seus lugares e personagens. O texto diz que os discípulos jogaram as redes à direita da barca e a pesca foi exitosa. Não bastam ter redes para a pesca, é necessário saber onde pescar. O pescador prudente não pode passar a noite sem nada pescar, mas precisa saber qual o lugar onde se podem encontrar bons peixes. No anúncio do Cristo que salva, o missionário precisa saber anunciar. O mundo exige que sejamos não somente missionários, mas bons missionários. Como ensinou São Vicente de Paulo numa de suas orações vocacionais: “Não importa que sejam poucos, mas que sejam bons”.

A Igreja latino-americana descobriu na sua reflexão teológica que o Pobre é o lugar do encontro com Jesus. Antes de tal reflexão, São Vicente de Paulo ensinou que “os pobres são nossos mestres e senhores”. Assim sendo, este lugar de encontro também é o lugar da pesca. É lá que o discípulo se encontra com o Mestre e aprende a ser missionário. A Igreja precisa mais do que em outras épocas redescobrir este verdadeiro lugar de encontro com Jesus, pois como disse o Papa João Paulo II: “Fiel ao espírito das bem-aventuranças, a Igreja é chamada à partilha com os pobres e oprimidos de qualquer gênero. Assim, exorto os discípulos de Cristo e as comunidades cristãs, desde as famílias às dioceses, das paróquias aos institutos religiosos, a fazerem uma sincera revisão da própria vida, na perspectiva da solidariedade com os pobres” (Carta Encíclica Redemptoris missio, n. 60).

Redescobrir tal lugar de encontro é buscar rever certas posturas que são contratestemunhos na vida eclesial. Assim sendo, é necessário que a Igreja esteja atenta às transformações sociais e tenha a coragem de lançar as redes no lugar certo, lançar as redes “nas águas mais profundas”, como nos ensina Jesus em outra ocasião. O momento atual desafia a Igreja a uma revisão de vida na perspectiva dos pobres. Tal revisão torna-se cada vez mais urgente, do contrário, as redes vão ficando vazias e as saídas para a pesca, frustrantes. Temos mares, redes e todos os instrumentos possíveis, resta-se imitar os discípulos de Jesus: perder o medo e jogar as redes.

A profissão de Pedro nos ensina o valor do amor que gera fidelidade à missão recebida. Somente o amor nos conduz à missão e nos torna verdadeiramente bons missionários na messe do Senhor. É o amor que nos mostra com a devida certeza o lugar da boa pesca. O amor é como o querosene no candeeiro, sem querosene não existe luz. Aquele que não ama a missão recebida, nem as pessoas com as quais se encontra não é missionário, mas aparência de missionário. O amor sustenta e dá sentido à missão. Esta deve ser vivida no amor, por amor e para o amor. Isto porque aquele que nos envia é o amor por excelência.

Por fim, temos o convite de Jesus: “Segue-me”. Para segui-lo é preciso pescar com amor. Seguir Jesus é estar com ele onde ele está. Jesus tem o seu lugar no mundo, não está à toa. No Evangelho o encontramos no meio dos excluídos. Ele se recusa em viver na corte imperial, mas na beira do caminho e nos pequenos povoados, no meio dos pecadores e da multidão empobrecida. Jesus é o missionário do Pai que não visita o povo, mas é povo vivendo no meio do povo, o Irmão entre os irmãos. Com isto, o discípulo missionário de Jesus já sabe onde deve permanecer enquanto a sua missão perdurar neste mundo. Trata-se de um ensinamento fácil de aprender, mas difícil de viver. O Pobre enquanto lugar teológico é a escola onde se aprende a seguir Jesus. Quem não estiver disposto a ingressar na fileira dos servidores dos excluídos, não terá o privilégio de viver com Jesus e em Jesus.

Concluo esta reflexão com o testemunho de Francisco de Assis, que tendo renunciado à vida abastarda descobriu o Cristo Jesus na pessoa dos pobres mendicantes, tornando-se um deles. A Igreja precisa resgatar tal testemunho na sua atual presença no mundo, a fim de que todos vejam e creiam que Jesus está vivo em nosso meio, não por meio do discurso teológico bem elaborado, nem da doutrina sistematicamente defendida e ensinada; mas por meio de mulheres e homens livres e felizes na missão. Mulheres e homens dotados do Espírito que confere vida e liberdade ao mundo, destemidos na missão, profetas da justiça e da misericórdia do Reino de Deus. Somente assim, não precisaremos temer a qualquer tipo de acusações, porque o anúncio da verdade será a nossa meta e esta mesma verdade libertará o mundo e nos libertará.


Tiago de França

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