domingo, 9 de maio de 2010

Guardar a Palavra


“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).

Existe uma relação profunda entre o amor e a observância da Palavra de Deus. A Palavra é para todo crente a fonte inesgotável da sabedoria divina, lugar do encontro com Deus. É por meio dela que se aprende a fazer a vontade de Deus, porque é a plena revelação dos desígnios divinos. A Palavra tem o poder de tornar íntimos a Deus aqueles que a lêem e a meditam, pois ela é “capaz de edificar e dar a herança a todos os santificados” (At 20, 32; cf. 1Ts 2, 13). Pelo que disse Jesus, somente aqueles que guardarem sua palavra é que realmente o amam. Logo, quem não guardar sua palavra não o ama de verdade. Mas o que significa guardar a Palavra de Jesus?

“Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas” (2Tm 3, 16 – 17). Guardar a palavra de Jesus é observar seu ensinamento fundamental: o amor. Quem ama está guardando a palavra de Jesus. O amor resume toda a lei e os profetas (cf. Mt 22, 37s). Deixar-se conduzir pelo Espírito que nos ensina, nos corrige, nos instrui na justiça é a autêntica e vital atitude do cristão rumo à perfeição. A vida cristã depende desse deixar-se conduzir. Para isso acontecer, é preciso que se abandone o medo e se abrace a coragem. Mas qual foi a palavra de Jesus no contexto histórico de seu tempo?

Jesus disse e viveu muitas coisas. O texto evangélico é repleto da mensagem que resume a Boa Notícia anunciada por ele. O próprio Jesus é a Boa Notícia. Ele é a Palavra de Deus. A leitura orante de suas palavras revela que as mesmas são verdade e justiça. Ele é a Verdade. Portanto, guardar a sua palavra é guardar a verdade, ser autêntico. Identificar-se com Jesus é identificar-se com a verdade de seu projeto de amor, é aderi-lo radicalmente. O encontro com a verdade do Cristo é fator fundamental de conversão de vida. A verdade da palavra de Jesus liberta a pessoa para o amor e na prática do amor se vive a comunhão com Deus. A Trindade faz morada na pessoa que ama, ensina-nos Jesus. É uma relação amorosa que realiza e santifica a pessoa.

Todo aquele que guarda a palavra de Jesus é amado por Deus e o amor de Deus transforma radicalmente a pessoa, convertendo-a para o amor. A pessoa amada por Deus torna-se, no mundo, instrumento do amor divino. Assim sendo, a transformação do mundo passa pela transformação do homem. A conversão deste faz progredir aquele. Valores como honestidade, sinceridade, verdade, solidariedade, justiça, partilha, respeito, paz etc. são frutos da conversão e necessários para o verdadeiro desenvolvimento da pessoa humana e do mundo.

Muitas mulheres e homens na história do mundo e da Igreja foram e são templos de Deus. Exemplos de profetas preenchidos pela presença divina e que fizeram avançar o processo de conversão da Igreja: Dom Hélder Câmara, Dom Oscar Romero, Ir. Dorothy Stang, Ir. Lindalva Justo de Oliveira, somente para citar alguns. Outros ainda permanecem profetizando entre nós: Dom Pedro Casaldáliga, Dom José Maria Pires, Dom Erwin Klautler, Pe. José Comblin, Ir. Geraldinha (em MG), Ir. Inês de Barros Lima (no CE), entre tantas outras pessoas que vivem o ágape, amor-doação em favor dos pobres.

O testemunho dos mártires, dos profetas e profetisas são sinais vivos da presença amorosa de Deus no mundo. Eles e elas escutaram os apelos do Espírito e se colocaram a serviço da libertação integral dos empobrecidos. O Espírito de Deus fecunda o coração daqueles que se abrem ao amor. Este confirma a pessoa no caminho de Jesus tornando-a missionária da palavra que liberta de toda escravidão. A Igreja de hoje, mais do que em outras épocas, necessita guardar e testemunhar a palavra de Jesus. A sociedade pós-moderna precisa não somente de escutar, mas de ver o testemunho vivo de cristãos e cristãs que, audaciosamente, testemunham e proclamam com a vida a Ressurreição de Jesus, o Pobre de Nazaré.


Tiago de França

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