domingo, 8 de agosto de 2010

Vigiar na fé e na solidariedade


“A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12, 48).

Depois de ter inaugurado o Reino de Deus, Jesus confiou a continuidade desta construção permanente aos seus discípulos. Estes são chamados a prolongar a vida e a missão de Jesus, o enviado do Pai. Desta forma, entendemos que os discípulos se tornaram missionários da vinha do Senhor, operários do Reino. A Igreja nasce justamente no início da construção do Reino e em função do mesmo. Ela nasce para se colocar a serviço de tal construção. Todos os que desejam fazer parte do corpo eclesial devem saber e assumir tal compromisso. A centralidade da missão deste corpo está na construção do Reino. Sem este não tem sentido a existência da Igreja.

O texto evangélico que está no centro da Liturgia da Palavra deste Domingo (Lc 12, 32 – 48), Dia dos Pais, chama-nos a atenção para o compromisso com o Reino de Deus. Jesus começa dizendo que o Reino é do “pequenino rebanho”. Este é formado pelas “minorias abraâmicas”, ou seja, pelos empobrecidos de todo tempo e lugar. Os empobrecidos formam o povo de Deus. E a Igreja, que nasceu em função do Reino, deve colocar-se a serviço deste pequenino rebanho. Trata-se de um serviço fiel, permanente e missionário. Um serviço que se dá na vigilância, na iminência da vinda definitiva do Senhor, que estabelecerá de uma vez por todas o seu Reino.

Aqueles que desejam servir ao Reino precisam estar atentos à recomendação de Jesus, a saber:

- “Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar” (v. 36): Quem serve a Deus precisa estar atento aos sinais dos tempos e à volta iminente de Jesus. A fidelidade no serviço ajuda em tal espera. É preciso manter as “lâmpadas acesas” e os “rins cingidos”. O “empregado” prudente é aquele que está atento ao que pediu o seu patrão. Assim é o cristão: deve permanecer fiel e vigilante naquilo que abraçou como missão.

A Igreja, serva do Servo Sofredor, colocando-se permanentemente a serviço dos empobrecidos do Reino, precisa também vigiar para não se desviar do serviço humilde e solidário. As tentações do poder, do prestígio e das riquezas podem apagar as lâmpadas da Igreja. Para resistir a tais tentações, a busca incessante da fidelidade criativa na missão é urgentemente necessária. A Igreja é a grande responsável de “dar comida a todos na hora certa”, ou seja, estar atenta às necessidades dos prediletos de Jesus e protagonistas do Reino, os empobrecidos.

O texto revela, ainda, três tipos de “empregados”, que apontam para três tipos de servidores do Reino:

1. O empregado que, pensando que o patrão está demorando, resolve espancar os criados e as criadas, comer e beber até embriagar-se. Na Igreja, este empregado representa todas aquelas pessoas que se aproveitam dos encargos religiosos para obter vantagens e privilégios. Podem ser ordenados ou leigos. Costumam ser agressivos, pois gostam de maltratar as pessoas por se sentirem superiores e/ou melhores do que elas. Isto é mais grave na vida daqueles que se consagraram ao serviço, pois vivem o oposto, ou seja, obrigam, direta ou indiretamente, os leigos a lhes servirem. Isto é a maior prova da falta de vocação para o serviço. Tais pessoas jamais poderiam ter assumido encargos de coordenação e animação do povo de Deus.

2. O empregado que mesmo conhecendo a vontade do seu Senhor, nada preparou nem agiu conforme a sua vontade. Na vida eclesial, este segundo tipo de “empregado” está relacionado às lideranças do povo de Deus, pois estas julgam conhecer melhor a vontade de Deus, principalmente a hierarquia da Igreja. Basta levar em consideração a preparação dos candidatos ao sacerdócio ministerial: em geral estudam Filosofia e Teologia. Estas conferem ao candidato certo conhecimento da vontade e do projeto de Deus, principalmente a Teologia.

Com o ingresso dos não ordenados nestas áreas de conhecimento, podemos colocá-los nesta segunda categoria de empregados, que muitas vezes, mesmo conhecendo a vontade de Deus, não se interessam em praticá-la, mas caem na tentação de buscar atender aos próprios interesses. E qual é a vontade de Deus? É que nos coloquemos no caminho de Jesus e nele perseveremos até o fim de nossa existência. E o que se faz no caminho de Jesus? Vive-se o amor solidário ao próximo. É tudo muito simples de se compreender, mas muito difícil de se praticar. Muito difícil, mas não impossível!

3. O empregado que não conhece a vontade e que não liga para a missão recebida de seu patrão. Este peca menos, pois o pecado não é tão grave quando não sabemos da gravidade do mesmo. Na vida eclesial, são muitas as pessoas que ainda não sabem que a participação e a comunhão entre todos os membros são de vital importância para a construção do Reino. Muitas não servem porque não foram despertadas para o serviço.

A experiência de Jesus mostra claramente que ele saiu do seio do Pai para nos servir aqui na terra. Se pararmos para pensar no gesto do lava-pés veremos o quanto é extraordinário a ação do Deus que lava os pés dos pecadores. Jesus não veio a este mundo para dominar a vida das pessoas, nem para satisfazer as suas vontades, mas para servir e neste serviço nos ensinou a fazer a mesma coisa. A solução para os problemas humanos está no amor que se manifesta na solidariedade. Se a solidariedade existisse efetiva e permanentemente entre os homens, o mundo seria diferente.

A solidariedade não permite que as pessoas se matem nas guerras e conflitos, nem que tantas pessoas morram de fome. Somente através da solidariedade é que se erradicará, de uma vez por todas, a marginalização social. A violência, o desemprego, as drogas, as prostituições, a destruição da natureza e todos os males que assolam a humanidade de hoje só serão erradicados pela solidariedade. Esta é o amor em ação. É isto que Jesus veio fazer no mundo: lembrar a todos que somente a solidariedade é que nos salva. Ele não veio resolver os problemas dos homens.

O Espírito Santo, enviado após a subida de Jesus ao seio do Pai, nos concede a graça de vivermos a solidariedade. Isto é o que nos é dado e confiado; é o que nos será pedido e exigido. Se formos condenados no Juízo final, não será por causa de nossos pequenos pecados. Estes não afetam a Deus. O que causa tristeza ao coração de Deus é a falta de solidariedade entre seus filhos. Esta falta de solidariedade é o grande pecado que pode nos condenar definitivamente. Por isso, cuidemos em sermos solidários, vivendo segundo a justiça que gera a paz.


Tiago de França

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