quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Intolerância religiosa


O pastor Terry Jones, ultraconservador que dirige uma Igreja evangélica no interior da Flórida (EUA) teve uma infeliz idéia: Queimar o Alcorão, livro sagrado dos mulçumanos, no dia 11 próximo. Segundo ele, a idéia é fazer do dia 11 de setembro “o dia internacional de queimar o Alcorão”. Tal atitude seria, na visão dele, um protesto contra os radicais islâmicos que causaram os atentados há nove anos. Quando a notícia chegou ao Afeganistão, país mulçumano, centenas de pessoas gritaram: “Morte à América!” O Irã se manifestou afirmando que o insulto ao livro sagrado vai provocar reações incontroláveis nas nações mulçumanas.

A atitude deste pastor envergonha os cristãos e o Cristianismo. Trata-se de uma idéia inaceitável e diabólica. Inaceitável porque contradiz o Evangelho, que é a mensagem de Jesus, mensagem de justiça e de paz. Diabólica porque causa divisão e conflito. Diante da notícia fiquei pensando no que se passa na cabeça de um pastor evangélico, homem que possui contato permanente com a Palavra de Deus, e que resolve agir dessa forma. O que o motiva a fazer isso? Vingança? Fama? Patriotismo? Nada disso justifica a idéia de queimar o livro sagrado de outra religião. Será que esse pastor já pensou na possibilidade de um mulçumano queimar a Bíblia, livro sagrado dos cristãos?

Ações como estas deveriam ser proibidas e condenadas por lei, pois se trata de uma ação criminosa. Criminoso dessa espécie deveria responder juridicamente por tal ato. Ninguém tem o direito nem a autoridade de insultar a religião alheia. Num mundo marcado pelas guerras motivadas pela religião precisamos de mulheres e homens que promovam a paz pelo diálogo e pelo respeito. A idéia do citado pastor é criminosa e preconceituosa. A violência do 11 de setembro não justifica nem legitima tal ofensa. Não podemos condenar os mulçumanos porque alguns terroristas resolveram contra-atacar os EUA. É verdade que tais terroristas não podem ser isentos do repúdio internacional, mas, repito, eles não podem servir de justificativa para o preconceito contra os islâmicos.

Se compararmos a violência dos terroristas do 11 de setembro com a indiferença do pastor Terry Jones veremos que os efeitos são os mesmos. Em outras palavras, se o pastor efetuar tal idéia muitas pessoas serão assassinadas devido às reações incontroláveis das nações mulçumanas, que responderão violentamente ao insulto. Queimar o Alcorão dos mulçumanos não vai resolver os conflitos existentes entre norte-americanos e islâmicos, não vai fazer justiça aos que morreram com a destruição do World Trade Center, antes, causará a morte de outros civis inocentes, que não tem nenhuma ligação com os conflitos ideológicos, políticos e econômicos entre as citadas nações.

O pastor Terry Jones demonstra, claramente, que não compreendeu a mensagem de Jesus. Jesus de Nazaré foi proclamado Príncipe da Paz já no Antigo Testamento da Sagrada Escritura cristã. Os gestos e as palavras de Jesus de Nazaré são símbolo da justiça que gera a paz. Ninguém pode usar o nome de Jesus nem sua mensagem para legitimar violência contra quem quer que seja. O projeto de Jesus, o Reino de Deus, supera toda e qualquer desigualdade e intolerância religiosa, pois, independentemente de religião, ele foi enviado para a remissão de todos. A salvação oferecida por Jesus se dá na liberdade e na paz, sem imposições nem preconceitos.

Por isso, o fundamentalismo religioso que gera intolerância e, conseqüentemente, violência não deve ser tolerado. Nenhuma forma de fundamentalismo pode construir um mundo melhor. A paz é fruto da justiça e do diálogo entre as diferenças. Somente assim, a indiferença e o preconceito podem ser superados. Independentemente de credo religioso, a paz é uma necessidade do ser humano, e para que ela exista, é urgente combatermos as idéias e ações ultraconservadoras daqueles que se declaram inimigos da paz.


Tiago de França

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