quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Evangelho: Boa Notícia para quem?


“Deus amou tanto nosso mundo que nos deu o seu Filho. Ele anuncia a boa nova do Reino aos pobres e pecadores. Por isso, nós, como discípulos e missionários de Jesus Cristo, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo”. (Documento de Aparecida, n. 30)

O Evangelho em si é uma Boa Notícia para a libertação integral do homem e do mundo. Não é uma mensagem criada pela inteligência humana, não é uma ideologia, não é um tratado teológico, não é doutrina da Igreja, o Evangelho é Jesus Cristo, Filho de Deus Pai enviado por amor a este mundo. Toda pessoa que aceitar o chamado divino para o anúncio deve ter a plena convicção disso: deve-se anunciar Jesus Cristo tendo em vista a vida e a liberdade integrais do gênero humano.

Há um gravíssimo pecado no processo de evangelização: misturar Evangelho com discursos humanos. Estes possuem suas finalidades, que são sempre humanas, finalidades alicerçadas no interesse pessoal e grupal. Quando isto acontece, infelizmente, há certa deturpação da mensagem cristã. Esta deturpação consiste na manipulação da mensagem evangélica tendo em vista a alienação das pessoas. Apesar disso, o importante é que o acobertamento da verdade dura pouco, pois quando esta vem à tona, não há alienação que resista.

Quando a verdade contida no Evangelho, que é o próprio Cristo, é proclamada ao mundo, o Evangelho torna-se uma má notícia para muitas pessoas. Todos escutam a Boa Notícia do Reino, mas são poucos que a aderem com convicção e alegria: são os cristãos da beira do caminho, que ficam contentes ao escutar, acham bonita a proclamação da verdade que liberta, mas recusam-se a se libertar. As Igrejas estão lotadas destas pessoas e, de modo geral, elas só querem milagres e/ou escutar uma mensagem que reconforte o espírito.

Certo dia, parei para assistir a uma Missa em uma das TVs católicas: fiquei profundamente decepcionado! Até então, nunca tinha escutado tamanha deturpação da Palavra de Deus numa ação litúrgica. Admirou-me a capacidade do padre ocultar a verdade da mensagem cristã utilizando-se de historinhas infantis para, simplesmente, fazer os fiéis rirem e sentirem-se bem na Celebração. No fim daquilo que chamou de homilia, disse o padre: “Gosto de brincar na homilia porque sinto que as pessoas querem mesmo é se sentir bem!”

A Conferência de Aparecida constatou a necessidade de acolhermos melhor os fiéis na Igreja, uma vez que os cristãos não católicos sabem acolher melhor, mas isto não significa que devamos infantilizar nossas liturgias com recursos apelativos que chegam ao ridículo. O cristão praticante sério e comprometido sente-se, certa e profundamente ofendido, e com muita facilidade e razão se recusa a se fazer presente em atos litúrgicos como este. Coisas como estas acontecem porque fazem de tudo para ocultar Jesus Cristo e sua proposta.

A falta de formação cristã leva as pessoas a aceitarem certos absurdos. A maioria, além de aceitar, participa ativamente! Cai por terra todo projeto que visa construir uma Igreja missionária comprometida com as grandes causas do Reino de Deus. Acolher bem as pessoas e negar-lhes a Boa Notícia é um pecado que compromete seriamente a edificação do Reino de Deus. O chamado divino não está para o sentir-se bem, mas para o compromisso efetivo e afetivo com o amor e a justiça.

Jesus Cristo, o Nazareno, e o Reino de seu Pai devem ser o centro do processo de evangelização da Igreja; do contrário, não há missão. Quando se tira Jesus e o Reino do centro, todas as formas de infidelidade e pecado acontecem no seio eclesial.

A busca dos interesses pessoais e institucionais é uma gravíssima traição ao Evangelho. A Igreja nunca se deu bem quando marginalizou a Boa Notícia de Jesus de Nazaré, os resultados sempre foram confusão, perseguição não por causa do Reino, e morte de inocentes e de profetas. Muitos destes últimos chegaram a ser perseguidos e mortos pela própria Igreja. Esta sempre teve dificuldades para aceitar o Evangelho a que é chamada a anunciar, incessantemente.

A história não nos deixa mentir. Um exemplo disso foi o caso de santa Joana d’Arc (França, 1412 – 1431), acusada injustamente de ser assassina, embusteira e herege; foi queimada viva em praça pública. Mais de 500 anos depois, reconhecendo o grave erro e interessada em estreitar os laços políticos com o governo francês, a Igreja canonizou Joana d’Arc e a declarou padroeira da França. Ela foi elevada às honras dos altares pelo papa Bento XV, em 1920.

De fato, os poderosos deste mundo, as instituições descomprometidas com a vida e com a liberdade, e as pessoas que almejam o poder não conseguem aceitar o Evangelho de Jesus de Nazaré. Isto acontece porque a missão de Cristo estava centrada na promoção e defesa da vida dos pequenos e oprimidos. Os cristãos realmente comprometidos com esta missão de Cristo passam pelo mesmo Calvário que ele passou: experimentam o desprezo, o escárnio, a perseguição, a incompreensão e a morte.

A mensagem cristã é uma Boa Notícia para os pobres e oprimidos, que tem em Deus sua esperança e alegria. Em sua infinita bondade e misericórdia, Deus enviou Jesus Cristo ao mundo para evangelizar os pobres (cf. Lc 4, 18). Jesus é o Cristo, missionário do Pai e evangelizador dos pobres: esta é a Boa Notícia que incomoda os poderosos e opressores deste mundo. Todo cristão, discípulo e missionário do Reino, é chamado a anunciar esta Boa Notícia ao mundo. Este anúncio é a missão fundamental da Igreja. Fora deste anúncio não há seguimento de Cristo e não havendo seguimento não há missão.


Tiago de França

Um comentário:

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