segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O anúncio da Palavra de Deus


Estamos no Mês da Bíblia. Anualmente, a Igreja recorda a necessidade do anúncio da Palavra de Deus. Na verdade, durante todo o ano anuncia-se a Palavra. Há três indagações que nos ajudam a pensar e/ou repensar o anúncio da Palavra: O que é a Palavra? Quem deve anunciar a Palavra? Por que anunciar a Palavra? Vamos pensar estas questões.

O que é a Palavra de Deus?

A Palavra é de Deus. Por isso, quem deseja anunciá-la não pode anunciar idéias ou uma ideologia, mas a Palavra. A Palavra de Deus é Jesus de Nazaré. Toda a Escritura Sagrada converge para ele. Jesus de Nazaré é a manifestação humana do amor de Deus para a salvação da humanidade. Esta Boa Notícia tem a força de libertar o ser humano da opressão do pecado e da morte. Quando a Palavra é anunciada, dissipam-se as forças que destroem o mundo e o homem.

Na Bíblia, algumas pessoas escreveram, por inspiração divina, a mensagem da salvação. É o livro sagrado dos cristãos e contém a revelação divina que se completa na pessoa de Jesus de Nazaré. Todo o livro sagrado foi escrito para comunicar a vida e a liberdade ao gênero humano. Não há outra finalidade senão essa. Este é o conteúdo verdadeiro da Bíblia: escrita para a liberdade.

Seus autores eram pessoas pecadoras, situadas em vários lugares e em diversas culturas. Por isso, não se pode exigir perfeição da redação bíblica. A mensagem da salvação está presente no conjunto elaborado por mãos e mentes humanas. Foi Deus que quis assim, não adianta sermos contra. A perfeição da vontade divina manifesta-se nas obras oriundas das mãos humanas. Assim, a Bíblia não conta histórias, não contém biografias, não tem cientificidade, não foi escrita para normatizar a conduta humana.

Quem deve anunciar a Palavra de Deus?

Quem nunca parou para escutar, entender e acolher a Palavra de Deus não pode anunciá-la. Como posso anunciar o que desconheço? Como levarei outras pessoas a crer naquilo que não creio? O anúncio é precedido pela experiência da escuta, do entendimento e da acolhida da Palavra. Não se trata de mera leitura, interpretação, conhecimento científico, que pode ser transmitido sem ser vivido. Trata-se do anúncio da Palavra de um Deus que nos ama e com seu amor quer nos salvar.

A consagração batismal autoriza e confirma o cristão para que anuncie a Palavra. O batismo é o sinal da acolhida da Palavra. Portanto, todo batizado é chamado a ser missionário da Palavra. Esta só chega à humanidade quando proclamada por aqueles que a acolheram. Acolher a Palavra significa não somente lê-la e entendê-la, mas esforçar-se em vivê-la, pois foi escrita para a vida. Quem verdadeiramente a acolhe não se contenta em guardá-la para si, mas anuncia-a com convicção e alegria ao mundo.

Quem não se dispõe a anunciar a Palavra ao mundo não pode afirmar que crê e vive a Palavra. Quando se busca vivê-la, isto já é anúncio. É possível viver a Palavra? Sem o auxílio da graça divina não se pode nem escutá-la, com o mesmo auxílio é possível vivenciá-la. O que é viver a Palavra? É, antes de tudo, compreendê-la; do contrário, tornar-se-á fariseu aquele que fizer uma leitura fundamentalista (ao pé da letra). O fariseu entende a Bíblia como um conjunto de leis e proibições e busca observá-las. A Bíblia não foi escrita com esta finalidade.

Por que anunciar a Palavra?

O mundo de hoje está ameaçado por diversas forças de morte que se manifestam de forma cada vez mais cruéis: guerras, miséria, fome, prostituição, preconceito, violência, intolerância, indiferença, ódio etc. A vida e a liberdade estão ameaçadas. O capitalismo agonizante continua ceifando vidas e, como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, então os pobres são os que mais sofrem em todos os lugares do mundo, principalmente em muitos países do continente africano. Somente na Somália são 12 milhões de pessoas ameaçadas, que poderão morrer de fome nos próximos meses se ninguém as socorrer. Aquele país está sofrendo a pior seca dos últimos 60 anos.

O homem pós-moderno é um sujeito iludido, que não pensa no próximo, é egoísta. Afetado pela competitividade e pela indiferença cria um mundo para si e exclui seu semelhante. A cegueira é tão grave que mesmo ameaçado não se dá conta de que está vivendo numa constante autodestruição. Tal insensibilidade manifesta-se nas diversas formas de violência, na omissão dos países ricos em relação à situação calamitosa dos países pobres. Enquanto os EUA e a União Européia gastam bilhões de dólares mantendo guerras no Oriente Médio, milhares de pessoas morrem de fome na África e em diversas partes do mundo.

O anúncio da Palavra é anúncio da vida e denúncia das forças da morte. O missionário da Palavra é toda pessoa que se arrisca a revelar ao mundo a vontade divina através da pregação e do testemunho da própria vida. O martírio é a experiência de quem realmente corre tal risco. A realidade de nossas Igrejas tem mostrado que a omissão da verdade tornou-se prática comum. Fala-se de muitas coisas, mas foge-se daquilo que é essencial: a verdade que liberta. Mesmo dentro das Igrejas, a verdade continua sendo rejeitada. Há pessoas que anunciam a verdade, mas a maioria não aceita nem sequer escutá-la.

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Vivemos num mundo quase que dominado pela mentira e pela confusão. A conseqüência disso é a crescente alienação e escravidão do ser humano. Jesus de Nazaré, verdade divina enviada ao mundo, inaugurou o Reino da vida, da verdade e da liberdade. Portanto, toda pessoa que aceitar anunciá-lo ao mundo, necessariamente, está aderindo à vida, à verdade e à liberdade. O Espírito Santo, força amorosa de Deus que age em nós, nunca nos abandona e nos coloca no caminho da fidelidade a este anúncio tão necessário para a vida do mundo e do gênero humano.


Tiago de França

Um comentário:

Erlon Andrade disse...

Realmente a palavra é a essência de tudo e a essência é Jesus.
Muitos dizem que levam a palavra, porém, é uma palavra fantasiosa que atende somente os anseios próprios, não de uma coletividade.