Revisitar
a própria vida nunca foi algo comum no ser humano pós-moderno. Centrado somente
no presente e na busca incessante do prazer, muitas pessoas se esquecem de revisitar
a própria vida. Ano após ano, muitos passam sem constatar crescimento algum em
si mesmos. Evitam a todo custo responder com sinceridade, honestidade e verdade
à indagação que a muitos incomodam demasiadamente: O que estou fazendo da minha vida?
O mundo certamente seria bem
melhor se as pessoas procurassem responder para si mesmas a esta valiosa
indagação, pois ela nos leva a uma oportuna e necessária autoanálise. O medo de
se descobrir e de aceitar a realidade da própria vida impede muitas pessoas de
se colocarem diante de si mesmas. São poucas as que têm a coragem de mergulhar
no mais profundo de si para se encontrarem com a própria verdade.
Os argumentos contra esta importante
atitude e oportunidade de crescimento são vários, porém pouco válidos. Os que
se recusam a fazer esta desafiadora viagem para o mais profundo de si afirmam
que é perda de tempo, que é psicologismo, que isso não leva a nada, entre
tantas outras desculpas que falam explicitamente de certo medo e fuga de si. De
modo geral, as pessoas fogem de si mesmas para se refugiarem nos outros.
Em um mundo tomado pelo barulho e
pela dispersão, a atenção é um valor cada vez mais esquecido. Prestar atenção
em si e nos outros, ver a si e aos outros, perceber-se e perceber os outros são
atitudes fundamentais na vida. Tais atitudes conduzem ao essencial e libertam
do secundário, daquilo que nos prende e nos aliena. Geralmente, as pessoas
vivem preocupadas com o que é secundário na vida, esquecendo-se do essencial. O que é, então, o essencial na vida?
A espiritualidade cristã ensina que
o essencial na vida é ter o coração voltado para Deus e os olhos
fixos em Jesus. O Deus uno e trino é o essencial da vida cristã. Nele o
cristão encontra o sentido de sua vida, sua razão de ser e de existir. O
mandamento do amor preenche a vida daqueles que tem fé e que espera em Deus. No
e pelo amor a pessoa permanece em Deus e Deus permanece nela, numa comunhão que
realiza e salva.
Para quem não professa a fé em Deus,
o amor também é como que a norma que rege a vida. O amor não tem religião e
alcança todo ser humano, independentemente de cor, sexo, religião e cultura. Portanto,
o essencial é o amor, que humaniza as relações interpessoais e com a natureza. A
experiência afetiva e efetiva do amor é capaz de transformar toda a face da
terra, libertando o mundo de todo mal. Impulsionado pelo amor, o ser humano é
capaz do bem, volta-se e promove o bem.
A sede pelo poder e pelo ter
escraviza muitas pessoas desviando-as do essencial. Elas passam toda a vida à
procura do sucesso, do prestígio, do poder e das riquezas. A ideologia
capitalista consegue convencê-las levando-as a saírem à procura do que não é
essencial para serem felizes na vida. Exceto o necessário, o acúmulo de
riquezas é um dos males que afetam gravemente e, apesar disso, é uma prática
corrente na vida de muitos.
Só tem paz de espírito quem dá
atenção ao essencial, pois este realiza plenamente o ser humano. O supérfluo e
tudo aquilo que dispersa tendem a escravizar a pessoa, angustiando-a e
levando-a a um vazio existencial. O mundo está repleto de pessoas
desorientadas, excessivamente preocupadas com questões e coisas desnecessárias,
inúteis, fúteis. Escravas dos apegos, passam pela vida sobrevivendo sem rumo.
Neste fim de ano, ficam estas
indagações: o que fiz de bom para construir um mundo melhor? Como as pessoas se
sentiram quando estive com elas? Com que e com quem gastei tempo e energia? O
que despertou meu interesse? Como lidei com as situações difíceis? Em relação a
2011, sinto-me mais livre e feliz? O que me anima e impulsiona a querer continuar
vivendo? Tratei as pessoas com amor ou com indiferença? Quais foram minhas
experiências de reconciliação com as pessoas? Crendo em Deus, como anda a minha
relação com Ele?...
Responder com sinceridade e verdade
a estas indagações é revisar a própria vida. Toda pessoa que nasce neste mundo
é chamada a crescer, a aperfeiçoar-se, a tornar-se cada vez melhor. Revendo os
principais fatos ocorridos em todo o mundo neste ano que termina é nítida a
necessidade de pessoas novas, rejuvenescidas, renovadas e revigoradas; pessoas
que acreditem em outro mundo possível, mundo de justiça e de paz para todos.
Em 2013, é preciso reforçar os acertos e
rever os equívocos, é preciso buscar ser feliz na fraternidade, não no
isolamento; no amor, não na indiferença; na reconciliação, não nas intrigas;
crendo que o amanhã só depende de nós, de nosso senso de justiça e de solidariedade
para com o próximo; e que acima de tudo o importante é ser feliz e fazer os
outros felizes.
Tiago de França