domingo, 5 de agosto de 2012

Jesus é o Pão da Vida


“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome
e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6, 35).

            O texto evangélico deste XVIII Domingo Comum (cf. Jo 6, 24 – 35) fala de uma multidão de pessoas que procura Jesus. Ela o procura porque pouco antes ele saciou a fome de pão, ensinando-lhe o dom da partilha. Jesus não fez aparecer do nada pão para toda gente, ele não era mágico como muita gente até hoje pensa. A multidão pensava que ele seria o profeta de Deus que veio para matar a fome de pão, curar as enfermidades, libertar dos demônios e tomar o poder imperial.

De fato, todas estas coisas eram necessárias, mas a verdade é que Jesus morreu na cruz e os pobres continuaram sendo explorados pelo Império Romano. Então, o que fez ele? Em que se resume sua missão? Por que até os dias de hoje milhões de pessoas o procuram em todo o mundo? Uma questão fundamental que todo cristão deveria fazer a si mesmo é a seguinte: O que quero com Jesus de Nazaré?

Em verdade, em verdade eu vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Jesus revela o verdadeiro interesse da multidão. Veja que o texto não fala de povo, mas de multidão. Esta procura satisfazer uma de suas necessidades básicas: a vontade de comer. Jesus sabe muito bem que todo ser humano precisa de se alimentar para não morrer de fome. Ele não está mandando as pessoas ficarem com fome, nem está desvalorizando o alimento.

Aqui temos duas questões importantes: a do alimento em si mesmo e a procura de Jesus somente por causa do mesmo. O alimento está em função da vida do corpo. Durante toda a vida o ser humano procura o alimento, mas isto não o livra da morte. Não há alimento que evite a morte, mas simplesmente asseguram uma vida saudável. Que todos possam comer para viver bem é o desejo de Deus. A fome é um pecado gravíssimo, que não pode ser tolerado! Todo ser humano tem o direito de se alimentar bem, é um direito inalienável.

Jesus não aceitou que as pessoas o procurassem somente por causa do pão. Ele fala da necessidade de as pessoas procurarem pelos sinais. Em outra ocasião ele pede que procurem discernir os sinais dos tempos. O sinal sempre aponta para outra coisa, para algo que está além. Há realidades que precisam de sinais para serem compreendidas. A partilha do pão é um dos sinais do evangelho segundo João: sinal de que no Reino de Deus as pessoas não podem passar fome, e como este Reino se realiza neste mundo, então é neste mundo que todos devem ter o necessário para viver com dignidade.

Quando comemos ficamos satisfeitos, “matamos” a fome, mas em poucas horas ela aparece de novo. A fome nos leva a procura do que comer. Sabendo disso, Jesus se apresentou como o pão enviado de Deus que permanece até a vida eterna. Jesus é o alimento que permanece. Não se trata de um alimento que sacia, de passagem, a fome, mas que permanece até a vida eterna. Todos podem comer deste alimento, pois a mesa que oferece este alimento deve ser aberta, acolhedora, simples, fraterna: é a Ceia do Senhor.

Dentro e fora do Cristianismo (conjunto das Igrejas Cristãs) é grande o número dos que procuram somente a satisfação para os corpos: alimento, moradia, saúde, lazer, prazer. O apóstolo Paulo fala dos que se corrompem sob o efeito das paixões enganadoras (Ef 4, 22). É verdade que devemos satisfazer as necessidades básicas para termos vida digna: isto é justo e necessário.

É verdade também que, por natureza, tendemos às paixões, à satisfação dos instintos egoístas. Ninguém está isento desta tendência. Ao final, todos chegam à conclusão de que é impossível satisfazer-se plenamente. As necessidades e as paixões criam-se e recriam-se, infinitamente. Portanto, buscar satisfazê-las de forma desordenada é caminhar para a morte do corpo e do espírito, é perder a tranquilidade e a paz necessárias.

Quando busca a Deus, o ser humano tem a mesma tendência: quer que Deus satisfaça seus desejos e vontades. A forte tentação é de transformar o Cristianismo numa religião de satisfação dos desejos. Não existe nenhuma Igreja ou denominação cristã que não se preste a isto: em todas elas o culto é marcado pela manifestação e procura de satisfação dos desejos e vontades. No fundo, a maioria das pessoas deseja um Deus que resolva os problemas da condição humana. O neopentecostalismo católico e evangélico expressa bem o significado da religião como fonte de satisfação dos desejos.

Isto explica o porquê de Jesus não ter fundado nem religião, nem Igreja, nem culto. Ele não fundou nenhum sistema religioso para oprimir as pessoas, porque sabia que uma das piores opressões que o ser humano já inventou em toda sua história consiste na opressão religiosa. Ao invés de re-ligar o ser humano à Deus, a religião se transforma cada vez mais num sistema de manipulação das consciências e, consequentemente, de opressão.

A situação chegou ao ponto do conflito sangrento (guerras) em nome de Deus. A história do Judaísmo, Islamismo e Cristianismo, que são as três maiores religiões monoteístas (crença num único Deus) é marcada pelo derramamento de sangue em nome de Deus. Infelizmente, até os dias de hoje tenta-se justificar a eliminação do outro em nome de Deus; tentativa totalmente contrária à Boa Nova anunciada por Jesus de Nazaré, que revelou o verdadeiro rosto de Deus: amor que se traduz na solidariedade (misericórdia) para com o próximo.

Nossa relação com Deus deve ser filial, a modo de filhos que amam seu pai. Deus é amor, é um Pai que não abandona seus filhos e filhas, que é presença amorosa, que cria e recria na liberdade e para a liberdade, que enviou Jesus, pão da vida, para saciar a fome e matar a sede que emergem do mais profundo do ser humano.

No culto cristão, independentemente da denominação religiosa, esta deve ser a prece de cada pessoa que busca o sentido último de sua vida: Senhor, dá-nos sempre desse pão. É preciso lembrar que fora do culto cristão Jesus também oferece o alimento que permanece para a vida eterna. Este alimento não está exclusivamente no interior das Igrejas cristãs, mas está no mundo, à disposição de todo aquele que procurá-lo de coração sincero. Para o leitor faço novamente a pergunta fundamental que motivou a elaboração da presente reflexão, e peço que tente responder, sincera e honestamente, para si mesmo: O que quero com Jesus de Nazaré?

Tiago de França

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