“E a Palavra se fez carne e habitou
entre nós” (Jo 1, 14).
Amigos
e amigas, irmãos e imãs em Cristo Jesus,
Graça
e paz!
Não
poderia deixar de vos escrever por ocasião desta importante data: o Natal do
Senhor. Trata-se de uma boa ocasião para pensarmos a respeito de nossa fé na encarnação
do Verbo divino em nossa vida e na vida do mundo. Se perdermos o
sentido do Natal não vale a pena celebrá-lo, pois o mesmo não tem nenhuma
ligação com a propaganda, o comércio, o papai Noel e com o consequente
consumismo que tudo isso envolve. Jesus não pode ser substituído por estas
coisas. A alegria do Natal não é a alegria proporcionada pela troca de
presentes, mas a que é experimentada pela Boa Notícia da encarnação de Jesus na
vida do povo de Deus.
O que Jesus veio fazer neste mundo?
Jesus
não veio simplesmente fazer alguma coisa. Ele não era representante autorizado
do Pai, mas na qualidade de Filho amado foi enviado com a missão de fazer-se
presente na vida do povo, despertando a esperança, cumprindo as promessas
feitas na antiga aliança. Jesus se tornou companheiro dos pecadores e auxílio
dos fracos e oprimidos, vivendo a condição simplesmente humana dos pobres. A
encarnação de Deus no mundo acontece na humildade e na pobreza da vida do povo
de Deus. Portanto, Jesus assumiu com todos os riscos a vida humilde de seu
povo, opondo-se, consequentemente, ao poder opressor que desumaniza o ser
humano.
A
celebração do Natal é a celebração da esperança e do abraço misericordioso de
Deus. O Pai de Jesus, o Deus dos pobres e do povo sofredor, não abandona seu
povo, mas vem ao seu encontro. Trata-se de um encontro alegre, radiante,
consolador. O povo reconheceu em Jesus a presença amorosa de Deus e Jesus
revelou o verdadeiro segredo de Deus: sua infinita misericórdia. Na acolhida,
no partir do pão, no perdão e na convivência fraterna, Jesus mostrou que Deus
não é uma divindade distante, mas é o Paizinho, que acolhe, perdoa, compreende,
ajuda, consola, redime, ama e salva seu povo. Assim, a celebração do Natal nos
chama a vivermos esta esperança: a de crermos que outro mundo é possível por meio
da prática do amor e da justiça do Reino de Deus.
As
pessoas precisam redescobrir o sentido do Natal. Esta data não pode se repetir
anualmente sem nenhuma repercussão prática na vida cristã; do contrário,
voltará a ser uma festa pagã. Para muitos, o Natal é a celebração da força
mercadológica. Jesus é substituído pelo mercado, que oferece muita comida,
bebida, presentes e excessos oriundos da mistura de tudo isso. Os cristãos precisam
gritar
ao mundo a alegria da vinda de Deus, de sua morada definitiva entre
nós. Acolher
o Emanuel que vem é abrir o coração para a prática do amor e da justiça.
Isto, sim, é celebração do Natal. Quando as pessoas abrem o coração para
acolher Jesus a vida se transforma, o grande encontro acontece e o outro mundo
possível se torna realidade. Isto é conversão. O Natal converte as pessoas em
discípulas missionárias do Verbo encarnado na história.
O Natal na Igreja e a Igreja no Natal
Neste
ano que aos poucos termina, a Igreja está vivendo um tempo de graça e de
alegria. Com muita esperança chegou à Igreja de Roma o bispo Francisco. Na
qualidade de responsável pela unidade de todas as Igrejas particulares que
formam a Igreja Católica no mundo, Francisco tem despertado a esperança nos
corações de muitas pessoas, dentro e fora da Igreja. Em plena sintonia
com o santo de seu nome, tem levado a Igreja ao encontro do evangelho de Jesus.
Finalmente, após um período de muita perseguição e retrocesso, que marcou os
pontificados de João Paulo II e Bento XVI, apareceu um bispo que está
tentando recolocar o evangelho de Jesus no centro da vida eclesial.
Durante
muito tempo o evangelho ficou à margem na vida da Igreja. Colocaram no centro
os interesses meramente mundanos, representados pela busca do poder, do
prestígio e da riqueza. Em nome desta busca se pagou e até hoje se paga um alto
preço, o do descrédito e o da descrença. Mesmo assim, a graça de Deus não abandonou os
corações humanos e o evangelho de Jesus não perdeu a sua força, pois
muitas mulheres e homens, no silêncio e na periferia do mundo, continuaram
vivendo conforme os valores evangélicos do amor e da justiça do Reino de Deus. Nesta
hora presente e oportuna da história, Francisco, bispo de Roma, tendo aprendido
a ler os sinais dos tempos e do Reino, está, insistentemente, chamando a
atenção da Igreja para a centralidade do evangelho de Jesus na vida cristã e
eclesial.
Não há encarnação de Jesus sem adesão ao seu
evangelho.
O culto e a religião não compreendem nem experimentam a encarnação de Jesus sem
adesão ao evangelho. É este e não a doutrina, o culto e a lei que leva o ser
humano à divina e arriscada experiência do amor de Deus. A religião sem o evangelho se
transforma em instrumento de conformismo e de acomodação ao espírito do mundo,
que aliena e mata as pessoas. O evangelho aponta para a libertação
integral, leva as pessoas à ação, que acontece no encontro feliz e generoso, na
doação e na promoção da justiça e da paz. A esperança cristã é histórica e
escatológica, ou seja, acontece no aqui e agora da história rumo à plenitude do
Reino de Deus. Ungidos pelo evangelho de Jesus o novo se torna realidade em
nossas vidas e tudo aquilo que é sinônimo de prisão e força do anti-Reino
desaparece definitivamente.
O Espírito e a encarnação
Sem
o auxílio da graça de Deus caímos facilmente no egoísmo. Com suas próprias
forças e inteligência o ser humano consegue fazer muita coisa, mas é incapaz de
entrar em sintonia com Deus e experimentar o evangelho da vida e da liberdade. Sabendo
disso, o Pai e o Filho enviaram o Espírito Consolador, o Paráclito. Este Espírito
age a partir do íntimo de cada pessoa. Não é dado pela religião nem se
enquadra em sistema religioso algum. É pura liberdade. É pura ternura de Deus. É
o Espírito de Deus que nos torna capazes de Deus. Em outras palavras, a
acolhida, a compreensão, a assimilação da mensagem e a vivência humilde e
cotidiana do evangelho só são possíveis por meio da ação amorosa do Espírito de
Deus.
Este
Espírito arranca as impurezas do nosso coração de pedra e transforma este
coração em terra boa e frutífera. O mundo e a Igreja precisam urgentemente de
pessoas de coração de carne, humildes, amorosas e misericordiosas, que sejam
ousadamente generosas e compassivas. É o Espírito que nos converte a
Jesus. As doutrinas religiosas nos convencem de algumas verdades da fé, mas é o
Espírito que nos concede o dom da fé e nos revela todas as coisas. Este
Espírito nos faz conhecedores e participantes do mistério da encarnação de
Jesus. Sem o Espírito não há encarnação nem salvação. Só compreenderemos o real
sentido do Natal a partir do Espírito do Senhor, abrindo-nos, sem medo nem
reservas, à sua ação silenciosamente amorosa e feliz.
Assim,
amigos e amigas, irmãos e irmãs em Cristo Jesus, vos desejo um Feliz Natal e um
novo ano cheio de alegria e paz. Receba meu fraterno e afetuoso abraço e minha
prece. Abramos nosso coração à ação do Espírito, a fim de que nos livre do
vazio existencial que tem levado tanto gente ao desespero e à morte. É este
Espírito que nos sustenta em nossas tribulações e alimenta nossa esperança na
caminhada rumo ao Pai. Que a bênção do Pai, o amor de Jesus e a força do
Espírito permaneça sempre conosco!
Fraternalmente,
no Irmão Jesus,
Tiago
de França da Silva
Desde
Belo Horizonte – MG, 16/12/13.