sábado, 2 de fevereiro de 2013

Jesus de Nazaré: um profeta rejeitado


“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4, 24).

            O texto evangélico deste IV Domingo Comum (cf. Lc 4, 21 – 30) fala de Jesus sendo rejeitado pelos seus conterrâneos. Vamos pensar o texto a partir do entendimento do que vem a ser o profeta, a profecia e a missão profética na experiência do povo de Deus e na de Jesus de Nazaré, aí entenderemos a rejeição por parte dos seus conterrâneos. Por fim, é preciso encontrar-se com Jesus e seus profetas hoje e vermos se continuam sendo rejeitados.

O profeta

            O profeta é uma pessoa conhecida, consagrada e enviada por Deus para a missão de comunicar a palavra de Deus (cf. Jr 1, 4 – 5. 17 – 19). Portanto, é escolhida e enviada para agir na e para a liberdade. Não fala de si nem para si mesmo, mas é portador de uma palavra viva e eficaz, que é capaz de transformar e salvar o ser humano.

            Consagrado para o anúncio da Palavra na liberdade, o profeta age livremente, sem se deixar prender a pessoas e grupos. Sua ação não permite apegos, mas vive num espírito de abertura e de encontro. O profeta é um missionário em movimento. É pessoa do caminho, da periferia e dos lugares distantes. Despojadamente, não é daqui nem dali, é de onde a Providência o enviar. Por isso, é pessoa itinerante, que vai até mesmo aonde não quer ir.

            Ungido para servir ao próximo, o profeta age guiado pelo Espírito Santo. Este o reveste de coragem, entendimento e ousadia para a denúncia e para o anúncio. Não temendo aos perigos, a palavra do profeta é cortante e penetrante como a de Deus, pois a sua palavra é palavra divina. O Espírito o conduz nos caminhos mais tenebrosos possíveis, o coloca diante das pessoas que desejam sua morte. Este mesmo Espírito o orienta e protege. O profeta não morre sem cumprir a sua missão.

A profecia

            A profecia não é adivinhação nem previsão do futuro, não são sentenças nem ameaças de morte contra ninguém. A profecia é a verdade da palavra de Deus que sai da boca do profeta, pondo fim na mentira, na confusão e na ilusão. Por isso, é anúncio de libertação integral do ser humano.

            A profecia anuncia um mundo novo, de vida e de liberdade para todos. É palavra edificante que se coloca contra a mentira dos poderosos. Uma vez proclamada, esta palavra conscientiza, reanima, dar força, confere sentido e desperta a esperança nos oprimidos. A profecia é como a chuva em terra seca, fazendo brotar o verde e a fartura para saciar a fome do povo. Este, liberto das trevas do medo e da ignorância, levanta-se para lutar pela vida na fraternidade.

            A profecia é luz que liberta da cegueira da consciência que conduz à morte. Acolhendo a profecia, a comunidade goza da clareza, do entendimento das coisas, da verdade que liberta da dispersão e da confusão. O profeta sabe que o povo padece por falta de compreensão de seus direitos e da própria dignidade. Por isso, em nome Deus vai encontro das pessoas falando-lhes do Reino de Deus. A profecia ensina que este mundo foi criado para todos e que todos somos irmãos. A fraternidade é como que a lei que rege as relações entre as pessoas na dinâmica do Reino.

A missão profética

            Para falar da missão profética é preciso considerar a relação conflituosa que há entre as instituições religiosas e os profetas e profetisas. É verdade que há profetas nas instituições religiosas, mas estas, de modo geral, não os compreendem nem os aceitam. Nelas são tolerados, não queridos. Há quem os admire, mas poucos os apoiam e incentivam. A maioria persegue, calunia, trata com indiferença, procura silenciá-los. Este é o tratamento reservado aos profetas no interior das instituições religiosas.

           Na história da Igreja inúmeras pessoas exerceram a missão profética. Nenhuma escapou da perseguição e do sofrimento, da incompreensão e da indiferença. O verdadeiro profeta não renuncia à sua missão, primeiro porque o Espírito é seu guia e fortaleza, segundo porque está plenamente consciente das consequências da missão. São os profetas que falam o que o Espírito quer dizer à Igreja. Por isso, se a Igreja quiser discernir os sinais dos tempos deve escutá-los.

            Jesus é o modelo por excelência do profeta de Deus: homem livre e libertador, que enviado a este mundo para anunciar a Boa Nova do Reino viveu entre os pequenos e sofredores, libertando-os do poder da morte. Todos os que queriam aprisioná-lo e que se recusaram a acolher sua mensagem (mandamento do amor) perseguiram-no até a morte de cruz. Hoje, na Igreja e no mundo, os que não acolhem o amor como a regra suprema da vida continuam a perseguir os profetas porque sabem que estes são portadores da mensagem do amor para a vida de toda a humanidade.

            Aceitos ou não, os profetas estão aí. Vez e outra se dá notícia de algum. Não são personagens da mídia, mas do anonimato, do cotidiano da vida simples do povo de Deus. Usando as palavras e os gestos são a presença amorosa e libertadora de Deus neste mundo cada vez mais desumano. No interior da Igreja, atualmente são poucos, mas estão presentes, denunciando o pecado da omissão e o silêncio diante das injustiças sociais e anunciando outro mundo possível.  


Tiago de França

Nenhum comentário: