“Jovem,
eu te ordeno, levanta-te!”
Custa-me algumas lágrimas escrever a
reflexão sobre o texto evangélico deste X Domingo Comum (cf. Lc 7, 11-17). Nesta
semana, pude fazer semelhante experiência: estar diante de uma idosa triste,
aos prantos, lamentando a morte de sua irmã, assassinada injustamente por um
motorista de ônibus irresponsável, que de forma violenta invadiu a calçada da
rua, atropelando-a; uma idosa que inocentemente fazia seus exercícios físicos. Vamos
ao texto bíblico para sabermos da postura de Jesus diante da viúva de Naim, que
estava prestes a sepultar seu único filho.
Juntamente com seus discípulos e uma
grande multidão Jesus se dirige à cidade de Naim e ao chegar à porta da cidade
se depara com outra grande multidão, que acompanhava uma viúva levando seu
único filho para ser sepultado. O texto afirma que ao vê-la, Jesus sentiu compaixão e lhe disse: “Não chores!” Jesus não a conhecia, mas
certamente foi informado de que se tratava de uma pobre viúva. A condição de viúva
naquele tempo era desfavorável e aquela do texto se encontrava numa situação
mais difícil ainda, pois estava prestes a sepultar seu único filho. Estava
totalmente desamparada.
Jesus a consola e liberta seu filho
do poder da morte. O jovem se levantou e começou a falar, e Jesus o entregou à sua mãe. A alegria desta
mãe deve ter sido muito grande! O texto termina dizendo que todos ficaram com
medo e glorificavam a Deus. Todos reconhecem Jesus como um profeta de Deus e
presença divina que veio visitar seu povo. O que esse texto fala para nós hoje?
A atitude de Jesus revela o Mistério
grandioso de Deus, que vem ao encontro do seu povo, povo sofrido, marcado pelas
diversas formas de sofrimento. O povo de Deus, ao longo da história, é vítima da
perseguição, da exploração e da morte. Os empobrecidos, em todo tempo e lugar,
vivem aos prantos. Hoje, são inúmeras as pessoas que choram por causa da
violência, do desrespeito, da fome, da violação de seus direitos, entre tantos
outros males que afligem a vida humana. Jesus nos revela que Deus está atento
ao sofrimento do seu povo. Ele é o Consolador, que ergue o empobrecido caído,
salvando-lhe a vida, fazendo-o falar.
O jovem de Naim se levantou e
começou a falar. Em todo o mundo há muita gente caída, sendo esmagada
impiedosamente, excluída; portanto, sendo esquecida, morrendo no anonimato. Quem
se afirma seguidor de Jesus não pode fechar os olhos diante desta triste
realidade. Jesus ensina a seus seguidores qual deve ser a atitude diante da dor
do próximo: consolar e tocar, libertando as pessoas do desespero. Os gestos e
palavras do discípulo missionário de Jesus devem ser de consolação e ação, a
fim de que as pessoas não percam a esperança.
Jesus não foi omisso diante da
aflição da pobre viúva de Naim, mas aproximou-se, consolou-a, tocou e libertou
o jovem do poder da morte, devolvendo-o vivo à sua mãe. A sociedade atual é
marcada pelo capitalismo selvagem que não está preocupado com a vida das
pessoas. Vigora a lei do salve-se quem puder! Quem não tem dinheiro, morre. A vida
está atrelada ao dinheiro, ao lucro desmedido. Os despossuídos são excluídos
porque não podem consumir. Não há lugar nem reconhecimento para quem não pode
consumir. Moderno e próspero é aquele que consume, demasiadamente.
O gesto de Jesus é o da solidariedade, que
é filha da compaixão. O capitalismo prega que a solidariedade gera miséria, é
coisa de gente fraca da cabeça. Cresce quem somente pensa em si e vive em
função de si mesmo. Esta é a regra de vida do homem capitalista. Quem ousa
seguir Jesus não orienta a vida por este princípio, pois o egoísmo é um mal, um
contravalor, é caminho de perdição eterna. Os egoístas e indiferentes não se
salvam, exceto os que se arrependem e se deixam guiar pelo amor e pela
solidariedade. O seguimento de Jesus é caminho aberto em direção ao próximo; o
oposto é caminho de perdição.
Na comunidade cristã é comum
encontrarmos pessoas que se afirmam cristãs, mas que são demasiadamente
insensíveis à dor do próximo; são iguais ao sacerdote e ao levita, que vendo o
pobre caído no caminho de Jericó passaram para o outro lado do caminho,
fingindo não tê-lo visto. De modo geral, estas mesmas pessoas são piedosas,
frequentam as celebrações, recebem a comunhão eucarísticas e falam muito bem da
caridade evangélica. Agindo assim, pensam que estão no caminho de Jesus.
Segundo os profetas bíblicos, é inválido diante de Deus o culto religioso que
não é legitimado pela caridade evangélica. Neste sentido, a pomposidade
litúrgica não passa de mero teatro, portanto, sem sentido algum. Só serve para
fomentar o exibicionismo e, consequentemente, a vaidade de muita gente
frustrada.
No caminho de Jesus se encontram os
empobrecidos. Por isso, se a Igreja deseja ser fiel discípula missionária de
Jesus precisa entrar em seu caminho. O Papa Francisco tem dado claros sinais de
como a Igreja deve entrar no caminho de Jesus. Para isto, precisa ser
misericordiosa, atenta ao sofrimento dos empobrecidos, defensora e promotora da
justiça do Reino de Deus, Casa acolhedora na qual aconteça, cotidianamente, a
fraternidade. Os empobrecidos precisam ser acolhidos não somente pela palavra
edificante da Igreja, mas, principalmente, pela sua ação generosa e
misericordiosa. Não basta dizer “Não
chore!”, é necessário se aproximar, tocar e fazer alguma coisa que alivie e
console, a fim de que a esperança dos empobrecidos continue viva e Deus seja
glorificado em todos.
Tiago de França
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