domingo, 16 de junho de 2013

Jesus e a prostituta

“Tua fé te salvou. Vai em paz!” (Lc 7, 50).

            Em todo tempo e lugar, as pessoas que erram, de modo geral, são incompreendidas. O ser humano tem a tendência de olhar a ocasião do pecado, deixando de lado as motivações, as causas que levam ao erro. De modo geral, o juízo que se faz dos pecadores é superficial, preconceituoso e hipócrita. Superficial porque não se vai às causas do problema; preconceituoso porque as desconhece e hipócrita porque, muitas vezes, trata-se de um cego querendo guiar outro. O texto evangélico deste XI Domingo Comum (cf. Lc 7, 36 – 8,3) é um convite para repensarmos a maneira como tratamos uns aos outros, especialmente aqueles que cometem erros que tem maior repercussão na comunidade cristã.

            Segundo o texto, Jesus se encontra na casa de um fariseu e de repente aparece uma mulher “conhecida na cidade como pecadora”. A mulher não fala absolutamente nada e parte para os gestos de amor: chora e começa a banhar os pés de Jesus, enxugando-os com os cabelos, beijando-os e os ungindo com perfume. Como era de se esperar, o fariseu reagiu, pensando: “Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora”. Diante do julgamento hipócrita do fariseu, Jesus reage falando que o perdão dos pecados está intimamente ligado ao amor: “Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor”.

            Após ter ensinado ao fariseu como Deus é bom e misericordioso, Jesus volta-se para a mulher e a perdoa; em seguida, pronuncia as seguintes palavras: “Tua fé te salvou. Vai em paz!” Os fariseus ficaram escandalizados com Jesus, por ter acolhido a mulher pecadora e por ter lhe perdoado os pecados. Certamente, Jesus continua escandalizando os fariseus presentes em nossas comunidades cristãs.

Em nossas comunidades encontramos clérigos e leigos que se julgam melhores dos que aquelas pessoas conhecidas como pecadoras. Os fariseus de hoje são semelhantes aos do tempo de Jesus: por conhecerem a lei e por serem fiéis às práticas religiosas pensam estar justificados diante de Deus, mas eis o que nos diz o apóstolo Paulo: “Assim fomos justificados pela fé em Jesus Cristo e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será justificado” (Gl 2, 16).

            A mulher acolhida por Jesus não praticava a lei, era julgada e condenada pelos que praticavam. Jesus chama a atenção para a sua demonstração de amor e para a sua fé: eis as duas grandes virtudes da mulher pecadora. Em nossas comunidades as demonstrações de amor, que ocorrem na prática do amor efetivo, estão muito fragilizadas. A ênfase na realização perfeita da liturgia abafa a preocupação pelos pecadores e necessitados. Quando estes aparecem nos templos religiosos, a maioria olha com desprezo e em questão de minutos são postos pra fora. Nos templos religiosos, os pecadores públicos não são bem-vindos. A maioria dos que frequentam nossas igrejas estão “em dia” com as leis.

            Para o leitor não pensar que é exagero, vamos a um exemplo corriqueiro. As pessoas que se “juntaram” e, portanto, não “casaram na Igreja” vivem em situação irregular perante a lei. Injusta e absurdamente, a Igreja ensina que estas pessoas irregulares não podem receber a comunhão eucarística e há padres que são cruéis ao declarar repetidamente: “A Igreja ensina que não podem comungar porque estes casais se encontram em estado pecaminoso!”

Qual a diferença entre estes padres e o fariseu que convidou Jesus para uma refeição em sua casa? Só pode comungar os que estão “justificados” perante a lei? Quem é o justo diante de Deus? Jesus veio para os santos ou para os pecadores? Qual o verdadeiro sentindo da comunhão eucarística? A Eucaristia é um banquete de vida para todos ou somente para os que cumprem a lei? A Igreja precisa repensar melhor a participação eucarística; do contrário, continuaremos assistindo a triste cena dos que desejam sair de seu lugar para irem ao encontro da Mesa da Vida e não podem por não cumprirem a lei.

            Por fim, é preciso considerar que é a partir da mesa eucarística que a comunhão eclesial acontece. Por isso, todos devem ser incluídos nela. É inválida diante de Deus toda e qualquer legislação oposta ao princípio evangélico da misericórdia e da acolhida. Nenhuma lei é superior ao evangelho de Cristo. Para participar da mesa eucarística, segundo as Escrituras neotestamentárias, duas atitudes são necessárias: querer receber o Cristo eucarístico e se predispor a colocar-se em seu caminho; recebendo-o se caminha seguramente até que chegue o grande dia de sua vinda gloriosa.

            Acolhendo a mulher conhecida como pecadora, Jesus exige de seus seguidores a acolhida recíproca e generosa. Todos somos pecadores e em Cristo somos reunidos e formamos a grande família de Deus. Ninguém é superior a ninguém, somos filhos amados do mesmo Pai. Ele nos ama e nos perdoa, indistintamente, e quer a salvação de todos.

A justiça não vem pela prática da lei, mas pela fé em Cristo Jesus; fé provada no amor. Tomemos, pois, cuidado com o juízo que fazemos, pois somente Deus conhece o que se passa na mente e no coração das pessoas. O amor e a fé não passam, necessariamente, pelas práticas religiosas, mas são duas virtudes infundidas na pessoa pela ação amorosa, livre e libertadora do Espírito de Deus, que guia, guarda e sopra onde quer. Acolhidos por Deus, sejamos, pois, verdadeiramente livres no amor, porque “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).


Tiago de França

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