terça-feira, 4 de junho de 2013

O Espírito e a missão

         
           A festa de Pentecostes passou, mas o Espírito permanece presente na vida da Igreja e no mundo. Ele faz a história acontecer e a salvação oferecida e trazida por Jesus vai sendo experimentada na vida daquelas pessoas que se deixam conduzir por esta força criadora da vida e da liberdade.

            Será que as pessoas entenderam o evento Pentecostes? Será que a Igreja está reconhecendo a ação do Espírito no mundo? A história mostra a dificuldade da Igreja em compreender e aceitar a ação do Espírito. Até a realização do Vaticano II, o tema do Espírito foi estudado sorrateiramente, sem muitos aprofundamentos. O interesse era pouco. Após o Concílio, o Espírito reapareceu, mas parece que nas últimas décadas foi novamente marginalizado.

            O valor que se confere aos movimentos espiritualistas não significa que o Espírito esteja sendo valorizado. A ação que estes movimentos afirmam ser movida pelo Espírito do Senhor tem se manifestado de forma muito intimista. Em muitas pessoas, estranhamente, o Espírito se manifesta em experiências bem particulares que não conduzem à ação, ao encontro, à alteridade. Visivelmente, à luz do Evangelho, percebemos que tais experiências mais desorientam e dispersam do que reúnem e constroem o Reino.

            As Escrituras mostram que toda vez que o Espírito se manifesta, as pessoas se unem, experimentam algo novo e esta novidade consiste na vida fraterna. As pessoas abrem os olhos para a realidade, enxergam a vida, compreendem-se e ajudam-se, mutuamente. Inspiradas pelo Espírito do Senhor, as pessoas passam a se interessar pela justiça, que defende e promove o bem do outro. Isto acontece porque o Espírito age para a unidade dos cristãos e para que, unidos, construam um mundo melhor; para a unidade, jamais para a uniformidade.

            Por que a Igreja tem dificuldade de reconhecer e aceitar a ação do Espírito do Senhor no mundo? O Espírito é sinônimo de novidade. Ele faz surgir o novo na vida da Igreja. O novo exige revisão de vida, mudanças de mentalidade e de estruturas e tais exigências nunca foram bem aceitas pela Igreja. Esta muda lentamente e com muitas dificuldades. Há grandes e intermináveis resistências às mudanças que precisam ser, urgentemente, realizadas.

        O Espírito age muito além das estruturas eclesiais. Ele não é prisioneiro da Igreja nem propriedade dela. O Espírito está nas pessoas e estas estão no mundo, transformando-o lentamente. Os espiritualistas não aderem compromisso algum, isolando-se em grupos que visam somente o louvor e a adoração por meio de orações intermináveis e repetitivas. Não há dúvida de que a oração é muito importante para uma vida autenticamente cristã, mas é verdade que tanto quanto a oração, a prática do amor a Deus e ao próximo é exigência fundamental no seguimento de Jesus.

            Mulheres e homens plenos do Espírito do Senhor são conhecidos pelas virtudes da humildade e da simplicidade; sinceridade e verdade; mortificação e zelo; discrição e sensibilidade; honestidade e justiça. Um exemplo de homem inspirado por Deus foi o teólogo belga José Comblin: homem de sensibilidade aguçada e de compromisso com as grandes causas do Reino de Deus. Quem o escutou e conheceu sabe de sua profundidade e senso de justiça. Dotado de rara inteligência e guiado pelo Espírito do Senhor sabia ler com sabedoria os sinais dos tempos.


Enfim, há tantos outros e outras, santos, mártires e profetas, que ousaram escutar o Espírito de Deus. Graças à misericórdia de Deus, há muitas mulheres e homens, ousando abrir caminhos novos, escutando o que o Espírito diz às Igrejas. A maioria se encontra no sagrado silêncio, não o silêncio omissão, mas o da discrição. Silenciosamente, são sal e luz do mundo, confirmando muitos no caminho de Jesus. É por meio destas pessoas que o Espírito vai conduzindo a história à sua plena realização, segundo os misteriosos desígnios de Deus. 

Tiago de França

Nenhum comentário: