Será que as pessoas entenderam
o evento Pentecostes? Será que a Igreja está reconhecendo a ação do
Espírito no mundo? A história mostra a dificuldade da Igreja em compreender e
aceitar a ação do Espírito. Até a realização do Vaticano II, o tema do Espírito
foi estudado sorrateiramente, sem muitos aprofundamentos. O interesse era
pouco. Após o Concílio, o Espírito reapareceu, mas parece que nas últimas
décadas foi novamente marginalizado.
O valor que se confere aos
movimentos espiritualistas não significa que o Espírito esteja
sendo valorizado. A ação que estes movimentos afirmam ser movida pelo Espírito
do Senhor tem se manifestado de forma muito intimista. Em muitas
pessoas, estranhamente, o Espírito se manifesta em experiências bem
particulares que não conduzem à ação, ao encontro, à alteridade. Visivelmente, à
luz do Evangelho, percebemos que tais experiências mais desorientam e dispersam
do que reúnem e constroem o Reino.
As Escrituras mostram que toda vez
que o Espírito se manifesta, as pessoas se unem, experimentam algo
novo e esta novidade consiste na vida fraterna. As pessoas abrem
os olhos para a realidade, enxergam a vida, compreendem-se
e ajudam-se,
mutuamente. Inspiradas pelo Espírito do Senhor, as pessoas passam a se
interessar pela justiça, que defende e promove o bem do outro. Isto acontece
porque o Espírito age para a unidade dos cristãos e para que, unidos,
construam
um mundo melhor; para a unidade, jamais para a uniformidade.
Por que a Igreja tem dificuldade de
reconhecer e aceitar a ação do Espírito do Senhor no mundo? O Espírito é
sinônimo de novidade. Ele faz surgir o novo na vida da Igreja.
O novo exige revisão de vida, mudanças de mentalidade e de
estruturas e tais exigências nunca foram bem aceitas pela Igreja.
Esta muda lentamente e com muitas dificuldades. Há grandes e
intermináveis resistências às mudanças que precisam ser, urgentemente,
realizadas.
O Espírito age muito além das estruturas
eclesiais. Ele não é prisioneiro da Igreja nem propriedade dela. O
Espírito está nas pessoas e estas estão no mundo, transformando-o
lentamente. Os espiritualistas não aderem compromisso algum, isolando-se em
grupos que visam somente o louvor e a adoração por meio de orações intermináveis
e repetitivas. Não há dúvida de que a oração é muito importante para uma vida
autenticamente cristã, mas é verdade que tanto quanto a oração, a prática do
amor a Deus e ao próximo é exigência fundamental no seguimento
de Jesus.
Mulheres e homens plenos do Espírito
do Senhor são conhecidos pelas virtudes da humildade e da simplicidade;
sinceridade e verdade; mortificação e zelo; discrição e sensibilidade;
honestidade e justiça. Um exemplo de homem inspirado por Deus foi o teólogo
belga José Comblin: homem de sensibilidade aguçada e de compromisso
com as grandes causas do Reino de Deus. Quem o escutou e
conheceu sabe de sua profundidade e senso de justiça. Dotado de
rara
inteligência e guiado pelo Espírito do Senhor sabia
ler com sabedoria os sinais dos tempos.
Enfim, há tantos outros e outras,
santos, mártires e profetas, que ousaram escutar o Espírito de Deus. Graças
à
misericórdia de Deus, há muitas mulheres e homens, ousando abrir caminhos novos,
escutando
o que o Espírito diz às Igrejas. A maioria se encontra no sagrado silêncio, não o
silêncio omissão, mas o da discrição. Silenciosamente, são sal e
luz do mundo, confirmando muitos no caminho de Jesus. É por meio destas
pessoas que o Espírito vai conduzindo a história à sua plena realização,
segundo os misteriosos desígnios de Deus.
Tiago de França
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