domingo, 7 de julho de 2013

A missão dos discípulos missionários de Jesus

“O reino de Deus está próximo de vós” (Lc 10, 9).

            O tema da missão profundo e belo e constitui a essência da vida cristã. Falar da missão é falar de encontro, de chamado e de envio, que incluem necessariamente outros dois temas fundamentais, que estão, por isso mesmo, intimamente ligados: o seguimento de Jesus e o reino de Deus. Brevemente, vamos refletir sobre a missão dos discípulos de Jesus à luz do texto evangélico deste XIV Domingo Comum (cf. Lc 10, 1 – 12.17 – 20).

“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos...” É Deus quem nos escolhe. Nenhum missionário adere à missão por conta própria, mas porque sente o chamado divino. Sentir-se escolhido por Deus é algo extraordinário, pois não se trata de um mero serviço, de mera ocupação, mero passatempo, mas de se colocar no caminho de Jesus e nele perseverar. Portanto, no princípio da missão está a escuta atenta à voz do Pai que chama cada um por seu nome, carinhosamente. O chamado acontece no silêncio da vida e do coração, é uma voz que chama a partir de dentro, que não dá sossego, chama insistentemente e espera uma resposta decidida, firme e generosa.

“... e os enviou dois a dois...” A missão acontece na comunidade dos seguidores de Jesus, jamais fora dela. O missionário não está a serviço de uma empresa, mas a serviço do Autor da vida, para a transmissão de sua Palavra libertadora. Portanto, não basta sentir-se chamado, mas é preciso sair do lugar onde se encontra, sair de si mesmo e partir, mergulhar nas águas mais profundas da vida das mulheres e homens que precisam conhecer a Palavra e se encontrar definitivamente com ela, para reencontrar o sentido último de suas vidas. A missão acontece na comunhão dos irmãos e irmãs que se querem bem, que na alegria e no testemunho fazem a luz de Jesus resplandecer em meio às trevas deste mundo.

“Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. As incompreensões, as perseguições e, em alguns casos, a morte fazem parte da vida dos seguidores e seguidoras, missionários e missionárias de Jesus. Além disso, a hostilidade e a indiferença por parte de muitos são obstáculos na caminhada.

Em um mundo marcado pela mentira, pela competição, pelas diversas formas de violência, pelo materialismo e consumismo e por tantos outros males que afetam a vida, o anúncio da Palavra de Deus se torna cada vez mais necessário e, ao mesmo tempo, encontra inúmeros adversários, além dos já mencionados. Por isso, o discípulo missionário precisa ser audaciosamente corajoso, firme e perseverante, deve confiar na graça de Deus que o assiste sem jamais abandoná-lo.

“Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias...” Necessariamente, o discípulo missionário precisa ser como Jesus: despojadamente livre para a missão. O apego a lugares, pessoas, instituições e à riqueza é um forte empecilho para que a missão se realize plenamente. Atualmente, mais do que em outras épocas, a cultura da posse dos bens materiais tem se intensificado bastante.

De modo geral, são importantes aquelas pessoas que possuem riquezas. O valor está ligado à posse dos bens supérfluos. Estes constituem aquilo que falta na vida de muitos, ou seja, enquanto alguns possuem demasiadamente, tantos outros padecem pela falta do necessário para viver dignamente. É impossível ser missionário da Palavra de Deus apegando-se a lugares, pessoas, instituições e à riqueza. O apego tira a liberdade e esta é fundamental para que existam o discipulado e a missão.

“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa! ’” O discípulo missionário é um portador da paz de Jesus, paz que o mundo não tem para dar. A missão está em função da verdadeira paz, oriunda da justiça do Reino e da verdadeira alegria. Portanto, a missão acontece no anúncio da justiça, na vivência alegre da proclamação da palavra de Deus, por meio de gestos e palavras.

Como na oração de São Francisco de Assis, onde houver tristeza, o missionário levará a alegria e esta, que difere da alegria meramente mundana, transforma o ambiente em espaço de paz, de serenidade, de tranquilidade do espírito e das relações entre as pessoas. Com isto, não estamos afirmando que a paz de Jesus é ausência de conflito, pelo contrário, é no enfrentamento das injustiças, por meio da denúncia firme e corajosa, que a justiça do Reino e a paz acontecem na vida das pessoas.

“Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O reino de Deus está próximo de vós’”. O discípulo missionário é o operário do Senhor. Sentar e comer com as pessoas são gestos imprescindíveis na missão. Jesus sentava e comia com as pessoas e isto demonstrava que ele estava em plena comunhão com elas.

O evangelho ensina que a refeição é o lugar da partilha da vida, da comunhão dos irmãos, do encontro com o Cristo que se fez plenamente humano. Curar os doentes é sinônimo de libertação integral. A missão está em função desta libertação, que se interessa pela salvação do homem todo e de todo homem. O anúncio do Reino de Deus está no núcleo, ou seja, no centro da mensagem de Jesus e deve está no centro da missão da Igreja, enquanto peregrina neste mundo rumo ao Pai.

O texto termina com a alegria dos enviados em missão. Ficaram muito felizes e disseram a Jesus que até os demônios lhes obedeceram. Jesus os escuta e chama-lhes a atenção para aquilo que é importante: “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”. A felicidade do discípulo missionário de Jesus não se encontra na realização de curas e outros prodígios em nome de Deus, mas no fato de serem discípulos missionários, continuadores da missão que o Pai confiou ao Filho e este a confiou à Comunidade de seus seguidores e seguidoras. A espiritualidade cristã ensina que este mundo é incapaz de oferecer a verdadeira felicidade, pois esta se encontra no seguimento de Jesus de Nazaré.

Por fim, é preciso considerar que na vida da Igreja há discípulos missionários leigos e ordenados. Estes últimos tem mais dificuldades de cumprirem o mandato missionário do Senhor por causa da constituição hierárquica da Igreja, ou seja, a maneira como a hierarquia está organizada, assim como a forma como a mesma atua vai na contramão do caminho de Jesus. Não é difícil perceber que são poucos os hierarcas da Igreja que são realmente livres para a missão.

A maioria dos padres e bispos se encontra submetida a diversas formas de apego que conduz ao comodismo e ao consequente aburguesamento. A realidade mostra que, infelizmente, ainda estamos longe de termos uma Igreja pobre para os pobres conforme o desejo de Jesus, desejo reconhecido pelo Papa Francisco em suas primeiras palavras como Bispo da Igreja de Roma e responsável por confirmar os irmãos e irmãs na fé do Cristo ressuscitado. Que o Espírito nos confirme em nossa missão batismal, a de sermos, neste mundo, verdadeiros discípulos missionários de Jesus de Nazaré.

Tiago de França

Nenhum comentário: