“É
permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc
21, 19).
A fidelidade é dom de Deus. Confiando nas próprias
forças, o ser humano não consegue ir muito longe. A fraqueza lhe é condição natural. Chamado a
viver na intimidade com Deus, o cristão procura se entregar à sua bondade e misericórdia.
Jesus, na sua peregrinação terrestre viveu plenamente unido ao Pai, na certeza
de que este jamais o abandonaria. Esta confiança o levou à entrega de sua própria
vida. O seguidor de Jesus conhece como é o caminho e sabe também dos riscos do
mesmo. Inspirados pelas palavras de Jesus (cf. Lc 21, 5 – 19), vamos meditar
algumas questões importantes para o seguimento de Jesus em nossos dias.
O
tempo está próximo
Livres dos
apocaliptismos e das profecias que anunciam somente a desgraça, precisamos
suscitar a esperança na vida das pessoas; mas a esperança cristã não é ingênua
nem fadada ao fracasso. Ela brota da vida sofrida do povo e não poderia ser
diferente. Os sofredores deste mundo, renunciando ao desespero, vislumbram um
novo amanhecer. Ricos e poderosos não sabem o que isto significa, e quando
tomam conhecimento de tal esperança, geralmente não a entendem. O motivo é
simples: não a entendem porque estão fora do caminho de Jesus. Somente os que
estão no caminho entendem a dinâmica contagiante da esperança cristã.
Para aqueles que estavam admirados com a beleza das belas
pedras preciosas que embelezavam o Templo de Jerusalém, Jesus fala da
transitoriedade de todas as coisas. Mais do que isto, Jesus aponta para o fim
de todo sistema que explora as pessoas. Infelizmente, o Templo de Jerusalém foi
transformado em casa de exploração do povo. A religião se transformou em pedra
de tropeço, em instrumento de alienação e exploração dos pobres. O tempo da
destruição do mal é certo. É tardio, mas certo. Os homens criam o mal, o
aperfeiçoam, tornando-o cada vez mais destruidor; porém, com o passar do tempo
tudo se acaba, se evapora, não sobrando pedra sobre pedra.
Todos os dias assistimos às denúncias que destronam
muitos poderosos. Eles riem e usufruem os bens roubados do próximo, mas, de
repente, tudo é descoberto e a ruína lhes surpreende. O mal contém em si o
germe de sua própria destruição. Todas as pessoas que se enveredam pelo caminho
da maldade, cedo ou tarde, serão eliminadas da face da terra. Isto é
inevitável. O mal não contém a verdade, mas é alicerçado na mentira, na ilusão
e no falso progresso. É igual a um castelo construído sobre a areia, quando vem
a tempestade tudo se desmorona. Soberbos e ímpios, segundo a profecia de
Malaquias, são iguais à palha, que não suporta o fogo devorador (cf. Malaquias
3, 19).
Falsos
mestres e falsas profecias
Jesus alerta
para o perigo dos falsos mestres: pessoas que afirmam ser o Messias, o
Salvador. Aqui e acolá aparece gente dessa espécie, mas só fazem barulho, nada
mais. Não são portadoras da verdade que liberta o ser humano. São inimigas da
verdade e da liberdade. No Cristianismo de nossos dias elas estão nos púlpitos
e nos templos, mas seus discursos estão desvinculados da palavra de Deus. São mentira
e ilusão, não falam em nome de Deus, mas a partir de si mesmas e em função de
si mesmas. Quando cansam, desistem e morrem com suas falsas profecias.
Além de pessoas, o dinheiro continua sendo o deus de
muita gente. As pessoas o procuram e se entregam, procurando ser felizes. O deus
dinheiro parece ser a mola propulsora da humanidade atual. Suas espécies
asseguram riqueza e prestígio. Consequência: vazio existencial, que leva
inevitavelmente à morte. As pessoas que adoram ao dinheiro, colocando-o no
centro de suas vidas, cedo ou tarde perdem o sentido da vida e morrem
desesperadas, tragicamente. É vergonhoso e triste assistir a morte de quem
passou toda a sua vida a serviço do deus dinheiro.
O
testemunho das profetisas e profetas do Senhor
Finalmente,
Jesus fala da provação. Para os seguidores de Jesus este mundo é inadequado,
pois sua mentalidade é outra. Quem se encontra no caminho de Jesus não se
amolda às estruturas deste mundo, mas isso não quer dizer que se encontra em
outro mundo. Afirmar que o cristão vive em outro mundo seria enganoso. Nos
meios eclesiásticos, onde se encontram os estudiosos da lei de Deus, falar em
transformação do mundo é falar de coisa ultrapassada. A Igreja atual está
retomando esta mentalidade de transformação porque o Papa Francisco ousou
retomá-la, mas os doutores da lei e fariseus da Igreja não param de dar boas
risadas do Bispo de Roma.
O mundo está profundamente marcado pela mentalidade
capitalista, que ensina o ter e o poder. Muitos cristãos abandonaram Jesus e
aderiram a esta mentalidade doentia e desumanizadora. Portanto, amoldaram-se às
estruturas injustas deste mundo, que somente geram sofrimento e morte. Segundo a
mentalidade capitalista, importante é a pessoa que tem dinheiro. O pobre e o
desvalido são tratados como lixo e/ou como clientes da infinidade de
mercadorias descartáveis que são produzidas. Em pouco tempo, pessoas e mercadorias
se tornam a mesma coisa. A pessoa se torna coisa, podendo ser descartada.
Para quem está contaminado pela mentalidade capitalista
estas palavras soam como subversivas e dignas de desprezo. Os capitalistas são
inimigos da liberdade, pois são demasiadamente apegados às coisas e às pessoas
coisificadas. Suas vidas são superficiais e neutras, sua alegria é falsa e
passageira. Os discípulos de Jesus fazem uso das coisas necessárias à vida. Certamente
usam computador, telefone, carro, internet, roupas, sapatos. Seria hipocrisia
afirmar o contrário.
É
até comum encontrarmos cristãos fazendo uso dos modismos da atualidade. Os modistas
estão contaminados. Os cristãos estão no mundo, mas fora da moda. São considerados
ultrapassados porque não aderem à descartabilidade de todas as coisas e das
pessoas. Usam das coisas necessárias e se relacionam com as pessoas, tendo
Jesus diante dos olhos.
Jesus convida à firmeza e à fidelidade até o fim. O Reino
de Deus está acontecendo, silenciosamente, na história. As testemunhas da
ressurreição de Jesus, aqui e acolá fazem o Reino acontecer. Claro que a
edificação do Reino não depende da força delas, mas o Espírito do Senhor,
presente e atuante no mundo, é quem faz o Reino acontecer. Este mesmo Espírito
está presente nas lutas dos sofredores, no cotidiano de suas vidas. A fidelidade
a Jesus é graça deste Espírito. Alcançar, enfim, a vida plena é graça do
Espírito.
O
cristão permanece de pé, caminhando firme, porque é impulsionado pela
esperança, que é graça do Espírito de Deus. Somente o Espírito é capaz de
conceder a verdadeira liberdade, que o mundo jamais oferece nem se interessa em
oferecer. O que os homens de hoje pensam ser a liberdade para as suas vidas, na
verdade não passa de ilusão. Em pouco tempo descobrem que continuam desorientados
e perdidos.
Não
há outra liberdade senão a liberdade dos filhos e filhas de Deus. Nela se
encontra a felicidade de que todos procuram. Fora desta liberdade somente existe
ilusão, frustração, desorientação, dispersão e vazio existencial. Quer ser
feliz? Arrisque-se encontrar a liberdade caminhando com Jesus. Este é o
caminho.
Tiago
de França
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