Vivemos em um mundo
marcado pelo sofrimento, que é causado por inúmeras injustiças. Há muitas
pessoas padecendo em situações desesperadoras. Diante do sofrimento, mesmo as
pessoas de fé se encontram abaladas, tentadas a abandonar a fé em Deus, pois se
perguntam: “Se Deus existe, por que estou sofrendo tanto?” A pergunta em torno
da origem e do significado do sofrimento humano é complexa.
O
que a experiência de Jesus nos assegura é que Deus não é a origem nem a causa
do sofrimento que assola a humanidade. O fato de Jesus ter abraçado o caminho
da cruz não justifica a ideia de um Deus oferece o sofrimento como caminho da
perfeição. Assim se pensava na Idade Média, mas de uns tempos para cá estamos
redescobrindo que Deus é amor, Pai amoroso que não se compraz com o sofrimento
humano.
Jesus não fez uma opção pelo sofrimento, pois não era
masoquista. O sofrimento fez parte de sua vida por causa de sua opção pelo
Reino de Deus. Jesus foi vítima das incompreensões, perseguições e da malícia
daqueles que se opuseram à mensagem central do evangelho: a realidade do Reino
de Deus. Não se trata do mero conflito entre a força de Deus e a de Satanás,
como muitos pensam e pregam, mas da inauguração conflituosa do Reino de Deus. O
anúncio desta Boa Notícia gera conflitos entre os que acolhem e os que rejeitam
Jesus e sua mensagem. O conflito é inevitável. Mais do que isto, o mesmo é
necessário.
Antes de Jesus, Deus era concebido como o Altíssimo, o Todo-poderoso
que estava nas alturas dos céus. Seu nome era impronunciável e sua ira era
terrível e demolidora. Geralmente, as pessoas tinham medo do Altíssimo, o
Senhor dos Exércitos. Chegada a plenitude dos tempos, o tempo escolhido e
marcado por Deus desde a criação do mundo, o Altíssimo desce, vem ao encontro,
encarna-se, torna-se homem, plenamente humano, pequeno, pobre, indefeso e
pobre. Deus se tornou perfeitamente humano. Encarnado na história humana, Deus
assume, plena e definitivamente, a condição humana.
Depois de Jesus, Deus é com a gente, presente, consolador
de seu povo. Os pobres, os injustiçados, os esquecidos e marginalizados, as
vítimas do sistema capitalista selvagem, os condenados pela religião, os
pecadores públicos, enfim, todos os sofredores deste mundo, independentemente
de sua cultura, crença, sexo e condição social são abraçados pela bondade, pela
ternura e pela misericórdia do Deus que quis salvar a humanidade inteira, sem
se esquecer nem excluir ninguém.
Na
relação conflituosa e dolorosa entre opressor e oprimido, em Cristo Jesus, Deus
escolhe libertar o oprimido e, assim, também liberta o opressor. Os oprimidos
de todo tempo e lugar encontram em Deus o seu refúgio e sua segurança, a
liberdade, a felicidade e a vida plena. Enraizados nesta esperança, os pobres e
oprimidos não caem no desespero e caminham com firmeza rumo à liberdade e à
vida. E a força divina, misteriosa e amorosa, jamais abandona seu povo, tornando-o
forte e vitorioso.
A
celebração do Natal de Jesus na liturgia da Igreja é a celebração do memorial
da encarnação do Deus fiel, que jamais abandona seus filhos e filhas, de um
Deus que é Pai e Mãe de bondade, que consola, acalenta, anima e concede a sua
graça a seu povo, a fim de que este continue firme em meio às adversidades da
vida presente, rumo à plenitude de seu Reino. Esta é a alegria do Natal. Este é
seu significado. Caminhamos com Deus e Deus caminha conosco. Nada poderá nos
tirar esta alegria e salvação. Estamos mais que seguros no abraço acolhedor de
Deus, estamos revigorados, mergulhados Nele e salvos.
Tiago de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário