“Este
menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de
muitos corações. Quanto a ti uma espada te traspassará a alma”
(Lc 2, 34 – 35).
Ligada ao Natal, a festa da Apresentação de Jesus também
fala e completa o sentido da encarnação de Deus no mundo. Falar da encarnação é
falar do lugar a partir do qual Deus quis se manifestar ao mundo na pessoa de
Jesus. O lugar é o dos pobres. O significado teológico desse lugar é simples de
entender: Deus quis se revelar plenamente a partir da pequenez e da fragilidade
da vida humana. O texto evangélico desta festa (cf. Lc 2, 22 – 40) é fiel a
esta verdade de nossa fé.
Jesus é apresentado no Templo de Jerusalém, centro
religioso da época, marcado pela exploração do povo de Deus. Deveria ser casa
dos pobres, lugar da manifestação da fé dos simples de Javé. Para cumprir os
preceitos da lei, os pais de Jesus levaram-no para ser purificado no Templo e para
oferecerem o sacrifício prescrito: um par de rolas ou dois pombinhos. Todo primogênito
do sexo masculino deveria ser consagrado ao Senhor: era isto que rezava a lei. Na
pobreza e na simplicidade, o menino Jesus foi apresentado e consagrado a Deus.
No Templo encontram um santo chamado Simeão: homem justo,
piedoso e cheio do Espírito Santo. Este ancião
esperava a libertação de Israel e a vinda do Messias. O Espírito assegurou-lhe
que não morreria sem ver o Messias prometido. Com Jesus nos braços louvou e
agradeceu a Deus, pois, de fato, estava diante do Messias. O cântico posto em
sua boca revela quem é Jesus: a salvação de Deus, luz e glória do povo de
Israel. Além disso, segundo Simeão, Jesus é causa de queda e de reerguimento de
muitos, sinal de contradição e revelador dos pensamentos de muitos corações.
Além de ser acolhido por Simeão, Jesus também foi visto e
acolhido pela profetisa Ana, da tribo de Aser. Mulher piedosa, não saía do
Templo, diuturnamente servindo a Deus com jejuns e orações. Também ela era
conhecedora da promessa do Messias e louvava a Deus, pois reconheceu em Jesus a
vinda de Deus ao mundo. Ana contava com 84 anos de idade e era viúva.
Jesus não foi acolhido no Templo pelos doutores da lei, mas
por duas pessoas simples e de profunda fé no Deus libertador dos pobres: Simeão
e Ana. E é ao lado dessas pessoas pobres e simples que o Messias vai permanecer
durante toda a sua vida, até sua morte de cruz. Esta fidelidade de Jesus é
cumprimento da vontade de Deus. Esta simplicidade de Jesus é simplicidade de
Deus, cumprindo a promessa que havia feito desde os tempos antigos. Manso e
humilde, Deus vem ao encontro de seu povo para libertá-lo do poder opressor.
A Igreja de nossos dias deve olhar para o lugar da
encarnação de Deus na história humana e orientar a evangelização a partir deste
lugar. Precisa escutar o que diz Simeão e Ana a respeito de Jesus e anunciar ao
mundo a maravilhosa Boa Notícia da vinda da salvação de Deus. O cristão precisa
assimilar com a vida que Jesus é a luz e a glória do povo de Deus e que ser
salvo por meio dele significa colocar-se em seu caminho, sendo salvação na vida
de tantas pessoas, atribuladas e desorientadas, carentes de luz e de sentido
para suas vidas. A vocação cristã consiste nisto: sermos outro Cristo na vida do
próximo, a fim de que o mundo creia.
Tiago de França
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