CAMINHANDO
COM JESUS RUMO À PÁSCOA
“Ele,
existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se,
assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E
encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e
morte de cruz!” (Fl 2, 6 – 8).
Amigos e amigas, irmãos
e irmãs em Cristo Jesus,
Graça e paz!
Por ocasião do itinerário quaresmal, tempo de conversão e
de reconciliação, resolvo mais uma vez, como de costume, oferecer a vocês
algumas reflexões. Iremos tratar deste valioso tempo litúrgico a partir de três
aspectos: o missionário Jesus, homem crucificado e ressuscitado; a Igreja, casa
de conversão e reconciliação e a conversão nossa de cada dia. Rogo a Deus que
estas provocações, à luz da palavra libertadora de Jesus ajudem a cada um a
tomar a sério o firme propósito do seguimento a Jesus.
O
missionário Jesus, homem crucificado e ressuscitado
Olhar Jesus no
evangelho e buscar compreender suas palavras e ações é de uma riqueza
extraordinária. Para isto, precisamos procurar o lugar da compreensão. Onde
podemos nos situar para melhor compreendermos Jesus? Precisamos permanecer
de olhos abertos e pés firmes na realidade da vida. Jesus vivia assim,
caminhando no meio do povo, simples e verdadeiramente. Ele despertava o povo
para a realidade. Ensinou o povo a ver a vida. Enxergar a vida e colocar-se
nela, sem fugas, é caminho de conversão. Não há conversão sem visão e
compreensão da vida.
De olhos abertos e com os pés firmes no chão da vida, o
povo enxergou novos horizontes, despertou para a esperança, para a fé e para o
amor. Estas três virtudes são da vida do povo que sofre. Olhar para Jesus na
cruz é olhar para o Deus que optou pelas pessoas sofridas, esquecidas e
exploradas. Neste sentido, é impossível negarmos esta maravilhosa opção divina,
que é a alegria dos pobres. Assim, se somos humildemente pequenos e nos
libertamos de todo desejo de grandeza, então encontramos o lugar da conversão;
mais do que isso, nos encontramos no caminho da necessária transformação do
coração.
Jesus missionário veio não somente assumir nossa fraqueza
e nos absolver de toda culpa. Isto é teológico. Na prática, isto significa que
Jesus, mesmo sendo Deus, se tornou um de nós: caminhando com as pessoas,
sentado à mesa com elas, participando de suas vidas, partilhando as tristezas e
alegrias. Isto mostra que, de fato, Deus está no meio de nós, em nós e por nós
quer continuar presente, libertando-nos não somente da escravidão do pecado e
da morte, mas quer viver, permanecer conosco, gratuita e amorosamente, como um
Pai que ama e cuida de seus filhos e filhas. Somente assim compreendemos a
morte de Jesus na cruz e sua feliz ressurreição. Convivendo com Jesus
participamos de sua sorte: com ele morreremos e ressuscitaremos porque nossa
vocação é para a vida plena.
Igreja,
casa de conversão e reconciliação
A realidade
eclesial pós-Conciliar acentua a Páscoa e não fica estagnada na penitência
quaresmal. A alegria se sobrepõe à tristeza. Sem dúvida alguma, a penitência é
necessária para entendermos a Páscoa, para chegarmos a ela. Antes de sua
ressurreição, Jesus viveu o itinerário quaresmal. Neste sentido, a Quaresma nos
chama a atenção para a conversão de toda a Igreja. Na sua dimensão
institucional, a Igreja está vivendo um momento raro em sua história. Temos um
papa sensível às mudanças. Isto é raro na Igreja porque, geralmente, os papas
não são muito sensíveis às mudanças. A Igreja institucional sempre teve
dificuldade de compreender e praticar a palavra transformação. Sempre houve resistências à liberdade. Esta sempre
causou medo à Igreja. Até os dias de hoje, em muitos segmentos da Igreja, a
liberdade é sinônimo de libertinagem.
A Igreja precisa reler o evangelho e assimilar a verdade
de que o evangelho é vida e liberdade para todos. O papa Francisco tem
convidado a Igreja para que ela possa, corajosamente, fazer esta releitura. O
que esta releitura significa? Significa colocar Jesus e sua mensagem (Reino de
Deus) no centro da vida eclesial. Assim, a sede de poder, prestígio e riqueza,
consequentemente, é renunciada, abandonada. Bispos e padres convertidos ao
evangelho são clérigos discípulos missionários de Jesus, capazes de caminhar
com Jesus e na direção de Jesus. Esta ainda não é a realidade da Igreja. Muitos
já vivem nesta caminhada, mas uma boa parcela continua vivendo o sacerdócio como
carreira e não como vocação, sendo senhores e não servidores do evangelho.
Para converter-se, toda a Igreja precisa procurar o lugar
de Jesus no mundo de hoje. Onde fica? Fica na periferia do mundo, lá onde se
encontram os amigos de Jesus, os humildes pobres. Há pessoas morrendo de
fome; há jovens mergulhados no mundo das drogas e da prostituição; há mulheres
sendo abandonadas com seus filhos; há pessoas depressivas por não darem conta
de seus problemas; há intolerância religiosa e violência em nome de Deus; há
pessoas morrendo por falta de atendimento digno nos hospitais públicos; há
pessoas esquecidas nas ruas e avenidas das cidades; há desespero que leva a
assassinatos, suicídios e genocídios... O sangue humano está sendo derramado e
os poderes constituídos não conseguem dar conta de conter tamanha violência.
Estas e outras situações clamam a presença misericordiosa da Igreja.
Estas situações formam a periferia do mundo.
A
conversão nossa de cada dia
A conversão não
é uma necessidade quaresmal, mas cristã e permanente. A Quaresma apenas nos
recorda da necessidade da conversão. Há quem, neste tempo, fica sem comer
carne, sem tomar refrigerante ou alguma bebida alcoólica, renuncia a
determinados pratos apetitosos. Isto não é penitência, mas dieta. Outros,
porém, diminuem as fofocas, procuram rezar mais, participam das caminhadas
penitenciais, confessam seus pecados e aderem a outras práticas piedosas.
Exteriormente, tais coisas tem certo sentido, mas isto não leva necessariamente
ninguém à conversão. Geralmente, após a Quaresma, tudo volta a ser como antes e,
às vezes, até pior.
Para se converter, o cristão precisa se
encontrar com Jesus. Ninguém nem coisa alguma nos convertem, mas
somente o encontro com Jesus. Há quem faça toda espécie de renúncia e
penitência, mas não se encontra com Jesus. Resultado: continua do mesmo jeito,
em nada progride espiritualmente. Há quem “celebra” a Quaresma e a Páscoa e
continua do mesmo jeito. Internamente, somos indispostos, reticentes,
resistentes às mudanças. Converter-se não significa somente tornar-se uma
pessoa melhor, mais humana, mas tomar o firme propósito de seguir Jesus,
colocando-se em seu caminho e nele perseverando até as últimas consequências,
com o auxílio da graça divina. Isto é conversão. Onde está o caminho? Jesus é o
caminho e hoje ele se encontra na periferia do mundo.
Assim, desejo de todo coração, uma fecunda Quaresma e uma
feliz Páscoa, recomendando-me às orações de cada um de vocês.
Fraternalmente, no Irmão Jesus,
Tiago de França
Um comentário:
Muito bom seu blog. Parabéns!
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